A sensação de não saber como mudar o que precisa ser mudado se deve ao sentido vital que ainda vemos naquilo que precisa ser mudado. Só se pode mudar algo se esse algo perder o sentido para nós. Assim, enquanto encontrarmos sentido no que precisa ser mudado, continuaremos afirmando que não sabemos como fazer a mudança. Isso estabelece um limite claro para aquilo que o psicólogo pode fazer. A pessoa à sua frente precisa se desfazer do sentido que ela ainda encontra em sua forma agir; ela precisa compreender que sua forma de agir não faz sentido. Porém, o sentido ou a falta de sentido não podem ser comunicados de uma pessoa a outra. O sentido de uma explicação é atribuído a ela pela pessoa que a recebe. Se o sentido atribuído a uma explicação é suficiente para torná-la compreensível, mas insuficiente para que a falta de sentido do comportamento a ser mudado se torne visível, não há mais nenhuma ação direta que o psicólogo possa tomar. É a pessoa à sua frente que precisa se desfazer do sentido prejudicial. O psicólogo pode auxiliá-la permitindo que ela fale à vontade e descubra em suas palavras um sentido do qual ela não se dava conta. O psicólogo pode fazer apontamentos e pequenas observações que auxiliem a construção do sentido que resultará no abandono do sentido prejudicial, mas tudo não passa de simples auxílio. Não há receita, não há nenhum tipo de técnica, científica ou não, que possa garantir o resultado. Quando o sucesso do processo depende da construção de um sentido, o psicólogo se coloca na dependência da autonomia de seu paciente; autonomia que é tão autônoma que foge até mesmo ao controle do próprio.
A construção de um sentido é tão difícil de ser explicada que Freud designou seu ato final de ‘insight’. Quando o sentido finalmente se torna claro, ele ilumina de uma só vez a consciência. É evidente que o paciente em psicoterapia precisa estar engajado honestamente no processo, mas o ato que finalmente produz o insight não é um ato de sua vontade. Ele exprime aquele tipo de liberdade ou de autonomia que é tão livre e tão autônoma que não está nem mesmo sob o controle do próprio sujeito. Por isso, quando se está na falta do sentido necessário para realizar uma mudança, não há receita que seja infalível. É preciso que o psicólogo permita que a pessoa fale, e a pessoa precisa usar a compreensão de suas questões como auxílio para se esforçar na direção da mudança, mesmo que o medo de mudar ainda confira um sentido vital ao que precisa ser mudado. É preciso lutar contra o sentido vital atribuído ao que precisa ser mudado, pois os efeitos positivos desse esforço podem produzir o ‘insight’ que finalmente elimina o medo. Esperar passivamente por uma fórmula do ‘como fazer’ que elimine o medo é como estar na beirada de uma piscina gelada tentando entender como fazer para perder o medo de pular. Se não pararmos de pensar no ‘como pular’ e não pularmos de uma vez, passaremos o resto do dia parados olhando para a água.
Daniel Grandinetti, psicólogo clínico e mestre em Filosofia em Belo Horizonte.
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