Ela chegou de novo, de repente, de longe, de sempre.
Mas nossas vidas sempre foram assim, feitas de surpresas impossíveis.
Desde o dia em que,aos 16 anos, antes de estarmos presos a tudo, resolvemos simplesmente que iríamos nos amar pra sempre. Do nosso jeito. Maior que tudo. Como só duas crianças podem sonhar. Pra sempre.
Sempre não é aqui, não é agora, mas até pode ser, porque sempre não tem hora, é sempre.
E nosso tempo sempre foi bem diferente.
De repente, presente, assim não mais que de repente. Quando era necessário, sem que nenhum dos dois soubesse que éramos necessários ao outro naquele momento.
Ela é uma verdadeira bailarina. Ela não escolheu, foi escolhida. Sua alma nascera com um propósito determinado e maior que ela: dançar.
Me parece que toda mulher escolhe a dança, mas a dança escolhe poucas.
Ela rodou o mundo, os grandes palcos, as maiores cidades, realizou tudo que os mais impossíveis sonhos poderiam imaginar. E, a minha bailarina, chegou de novo, quando eu mais precisava da sua dança. Agora.
Não fazia tanto tempo que não nos víamos, mas fazia muito tempo que eu não precisava tanto daquele abraço. Daquele colo. Daquela dança. Seus olhos se conectaram aos meus e imediatamente lacrimejaram, como os meus. Por uma dor que era só minha. Isso é a conexão maior que uma alma pode fazer com outra. O silêncio de quem conhece os sentimentos do outro pelo jeito de olhar.
Ela sabia que a minha tristeza nem minhas lágrimas tinham a ver com ela nem com aquele encontro. Mas sabia que tinha a ver com a minha vida. E isso era o que importava pra ela. Era só o que importava. E isso era tudo que eu precisava ouvir, que ela se importava com o que eu sentia. Mas, antes que tudo pudesse ir por outro caminho , ela começou a dançar pelo quarto, uma música imaginária. Sua dança clássica, elegante, perfeita, possível apenas para um corpo que vive diariamente para aquele propósito,e por isso, perfeito em cada detalhe tanto nos movimentos quanto na nudez de uma pele de veludo. Perguntei se ela queria que ligasse alguma música, ela se aproximou, me abraçou, começou a dançar sobre meu corpo, e respondeu, iluminando meu coração como um milagre:
- Minha música é você.
E mais uma vez a mágica entrou na minha vida da forma mais real, bonita e necessária que poderia existir. E me fez renascer.
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