terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ANUNCIE NO CULT CARIOCA



Em breve, 
sua empresa vai poder estar em constante exposição 
ao público mais selecionado do Brasil.

QUE 2014 SEJA REALMENTE NOVO

Que 2014 seja realmente 2014. Um ano que ainda não existiu e que começará a ser construído a partir do primeiro segundo desse marco absolutamente ilusório e humano.

Já pensou como seria bom, de um segundo para o outro, poder desfazer para sempre todos os mal entendidos que nos fizeram perder a convivência das pessoas que amávamos? Como seria bom pedir e receber desculpas por injustiças que sofremos e cometemos? Enfim, como seria bom poder reparar nossos erros e seguir como se eles nunca tivessem acontecido.

Mas, ao mesmo tempo, o que seria de nós sem nossos erros. Foi com eles que aprendemos a grande maioria das coisas mais importantes da vida. São eles que nos motivam a melhorar como seres humanos.

Restrospectiva é coisa de televisão. Ser humano, sente, lembra. Sente as perdas que teve. Sente a falta dos que se foram. Sente a falta dos que perdemos porque a vida afastou nossos caminhos ou porque não fomos suficientemente sensíveis para perceber como aquela pessoa era importante, tão importante que sua falta, até hoje, dói. Ser humano sente. Sente alguma coisa diferente nesse dia. Alguma coisa indo embora, sente o desconhecido se aproximando.

Os rituais e festas de passagem de ciclos ou estações são das mais antigas crenças humanas: a de oferecer grandes festas para receber o poderoso, o desconhecido e imprevisível deus que está chegando.

Durante seu reinado alguns sobreviverão, outros não. Alguns serão felizes, outros arruinados.

Por isso, grandes festas são preparadas. Fogos, músicas, bebidas, danças e uma infinidade de rituais para receber o novo, o poderoso desconhecido. Muita festa para que essa divindidade não tenha dúvida de que está sendo recebida com todas as honras de quem tem o poder de trazer felicidades, sofrimentos, vida e morte.
Mas, ele não tem esses e nenhum outro poder. É como Papai Noel, só que cheio de presentes feitos de hojes. Ano Novo não existe. Quem existe, somos nós. Quem trará ou não trará o que pretendemos, somos nós. E só quem pode nos fazer novos e melhores somos nós.

Por isso, se é pra brincar, vamos levar a sério a brincadeira e nos darmos novas chances. Em tudo. Mesmo que tenhamos que tirar a ferros os espinhos que deixamos ferir nossa alma. Temos a obrigação de tentar ser feliz.

Que 2014 seja um ano cheio de boas surpresas para todos. Que traga, para cada um, sonhos e realizações. E, que nos permita trazer conosco toda a bagagem acumulada em todos os anos que já se passaram e transformá-la em sabedoria para mudar a nós mesmos, transformando cada um em ponto de partida para construção de um ano e de um mundo melhores. Como dizia Gandhi.

Que todos nós sejamos pessoas melhores em 2014 do que fomos em 2013. Por melhor que cada um tenha sido.

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domingo, 29 de dezembro de 2013

PAULO COELHO - O que salva o amor

L.Barbosa conta a história de uma ilha onde viviam os principais sentimentos do homem: Alegria, Tristeza, Vaidade, Sabedoria, e Amor. Um dia, a ilha começou a afundar no oceano; todos conseguiram alcançar seus barcos, menos o Amor.

Quando foi pedir a Riqueza que o salvasse, esta disse:
- “Não posso, estou carregada de jóias e ouro”.

Dirigiu-se ao barco da Vaidade, que respondeu:
- “Sinto muito, mas não quero sujar meu barco”.

O Amor correu para a Sabedoria, mas ela também recusou, dizendo:
- “Quero estar sozinha, estou refletindo sobre a tragédia, e mais tarde vou escrever um livro sobre isto”.

O Amor começou a se afogar. Quando estava quase morrendo, apareceu um barco – conduzido por um velho – que o terminou salvando.

- “Obrigado” – disse, assim que se refez do susto.

– “Mas quem é você”?

- “Sou o Tempo” – respondeu o velho. Só o Tempo é capaz de salvar o Amor.




ADRIANA CALCANHOTTO - Feliz ano todo

Feliz mergulho no Arpoador dia 31, 
feliz longa lista de metas para ser toda descumprida

Assisti ao monstro de olhos azuis chamado Tônia Carrero, perguntada em entrevista sobre se era feliz, responder calmamente: “sou feliz e infeliz várias vezes ao dia”. Bingo. A felicidade vai e vem o tempo todo. Ou, convenhamos, seria um tédio de matar. É então nesse espírito, de estar feliz, significando que se estará infeliz daqui a pouco e feliz de novo e infeliz, e assim por diante vida afora, que desejo aos compadres felicidades no ano que vem.

Feliz mergulho no pôr do sol no Arpoador dia 31, feliz longa lista de metas para o ano para ser descumprida inteira. Feliz virada de ano uma hora antes da meia-noite, pobres ouvidos dos bichos, feliz fogos de artifícios. Feliz volta de Copacabana de metrô, feliz carteira batida, feliz ressaca no primeiro dia do ano. Feliz garis achando moedas, celulares, joias, amuletos e calcinhas na areia. Feliz alagamentos causados por bueiros entupidos pelo lixo que devia ser jogado no lixo, não no chão. Feliz leitura de “Fim”, o romance de estreia da Fernanda Torres. Feliz deslizamentos nas encostas durante o verão e o estaremos providenciando. Feliz quaresmeiras floridas, feliz andorinhas voando em direção ao Norte. Feliz esquenta de carnaval, feliz grito de carnaval, feliz carnaval, feliz saltos quebrados no carnaval, feliz ar-condicionado para não ouvir o carnaval lá fora. Feliz crise no relacionamento por conta do carnaval, feliz desfile das campeãs. Feliz, então, acho que agora sim, ano novo.

Feliz volta às aulas, feliz primeira ida para a primeira aula. Feliz de quem tem aulas para ir. Feliz palmas para os guerreiros professores. Feliz fotos de servidores públicos com maços de dinheiro sob roupas de baixo. Feliz despedida de uma misógina enrustida do comando da comissão dos direitos humanos. Feliz psicodélicas previsões de crescimento da economia, feliz contas públicas mais mal maquiadas do que aquelas velhinhas inglesas que não enxergam mais nada e aplicam a sombra verde acima das sobrancelhas e o batom vermelho no buço.

Feliz outono no Rio. Feliz cheiro de jasmim à noite. Feliz páscoa, feliz dieta pós-páscoa, feliz construção do Pavilhão da Esdi, feliz deslumbrante luz de maio, feliz tucanos nas palmeiras, que comem os filhotes dos outros pássaros, mas apanham do bem-te-vi. Feliz macacos-prego levando seu bolo de fubá árvore acima. Feliz tigre na cabeça no botequim da esquina. Feliz branquinha no balcão. Feliz inaugurações de piscinões binários. Feliz inaugurações de construções em ruínas. Feliz noites dormidas na rua sob marquise estreita com chuva forte tendo papelão e jornal como cobertor. Feliz mês das noivas, feliz provas de vestido, feliz provas de amor, feliz provas de fidelid… Feliz dia das mães. Feliz luz nos morros de manhã bem cedinho, feliz pedras no meio do caminho. Feliz imbecis pichando a estátua do poeta. Feliz explosão de bueiros. Feliz muros grafitados. Feliz esperança de que a Rita Lee venha morar no Rio. Feliz anúncio de banco vendendo mais endividamentos a “você, a pessoa mais importante do mundo para nós”. Feliz carga tributária. Feliz estádios com obras atrasadas precisando de mais e mais dinheiro.

Feliz chopinho na esquina, feliz nada pra fazer. Feliz festa na laje, feliz baile funk. Feliz chão, chão, chão, chão. Feliz sorriso do Nelson Sargento. Feliz feijoada da tia Surica. Feliz coalizações lisérgicas para disputar a presidência da pobre República. Feliz alianças que dão vergonha na gente. Feliz promessas humanamente incumpríveis, feliz direito de votar. Feliz voto. Feliz melhor projeto para o Brasil. Feliz água de coco no calçadão. Feliz multa por jogar lixo no chão. Feliz compre seu carro novo, compre seu carro novo compre seu carro novo. Feliz paciência no trânsito. Feliz trens e ônibus atrasados, abarrotados, feliz vagões femininos. Feliz cadeias piores que o inferno. Feliz salve a seleção. Feliz compre sua TV, compre sua TV, compre sua TV, compre sua TV, compre sua TV. Feliz Copa “do Mundo da Fifa”. Feliz seja lá o que tiver de ser. Feliz Lei Maria da Penha. Feliz Flip. Feliz crianças atingidas por balas perdidas e sumiços de trabalhadores sem qualquer explicação. Feliz pelada, feliz pedalada, feliz futevôlei na praia. Feliz biscoito Globo, feliz mate gelado. Feliz possibilidade de ver o Ferreira Gullar zanzando por Copacabana.

Feliz sequência de ondas verdes parecendo esmeralda líquida. Feliz ondas, feliz vacas, feliz caldos. Feliz fale mais, fale mais, fale mais, fale mais, fale mais. Feliz “este número de telefone não existe”. Feliz parada gay. Feliz feriado de Zumbi dos Palmares. Feliz turistas na favela, feliz meninos jogando bola. Feliz bicicletas roubadas. Feliz juiz filho da puta. Feliz dicas de livros da Cora. Feliz topless em paz. Compadres queridos, um feliz ano todo.


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MARTHA MEDEIROS - Boa entrada

Vou citar dois filmes antigos. Um é o inglês Mero Acaso, de 1999. Primeira cena: um rapaz bate na porta do vizinho, que é psiquiatra, e diz que precisa desabafar. São 6 horas da manhã, o vizinho ainda está de pijama, mas diante do inusitado da situação, convida-o para entrar e o acomoda numa poltrona.

O outro filme é o francês Confidências Muito Íntimas, de 2003. Um mulher está se separando e procura um psiquiatra pela primeira vez. Entra sala adentro e já começa a contar seu drama, sem dar tempo para o homem respirar. Ele fica absolutamente envolvido pela história dela.

Mesmo que você não tenha visto estes filmes, pode imaginar o que eles têm em comum. No filme inglês, o homem se enganou de porta e bateu na casa de um engenheiro, que ouve tudo quieto e só então avisa que o psiquiatra mora no apartamento ao lado.

Mesmíssima coisa no filme francês. A mulher se enganou de porta e invadiu o consultório de um contabilista. Mesmo depois do engano desfeito, os dois seguem se vendo para amenizar a solidão um do outro.

Ambos os filmes demonstram que terapia é, basicamente, uma via de desabafo, de investigação emocional, de elucidação de si mesmo, e tudo isso se dá quando estamos dispostos a falar.

Então qualquer amigo poderia substituir um profissional? Não. Conversar com amigos é ótimo, porém eles estão comprometidos afetivamente conosco. Conhecem a nossa história e já não prestam atenção nos detalhes. E tomam um tempo para falar deles mesmos, o que é natural. Além disso, estes papos são frequentemente interrompidos pela chegada do garçom, por um telefone que toca, por outras distrações. E, pra culminar, você não está pagando. Faz diferença. Você não é o centro das atenções. É um encontro, literalmente, gratuito. E, em terapia, o foco tem que estar todo em você. Vigilância total para você não fugir de si mesmo.

Longe de mim estimular alguém a bater na casa do vizinho para contar seus sonhos e fantasias secretas. Ele mandará você plantar batatas, com razão. O que interessa disso tudo é o crucial: o quanto é importante falar. E ser profundamente escutado. E, mais profundamente ainda, escutar a si mesmo. Não é fácil ouvir nossa própria voz verbalizando aquilo que sentimos de forma tão confusa e irregular. É quando passamos a reconhecer abertamente nossas inquietudes, medos, vergonhas. E a nos comprometer com o que está sendo dito. A verdade ganha legitimação. Deixa de habitar apenas o silêncio, onde tudo fica protegido demais.

Alguns não acreditam em terapia e dizem que não é qualquer um que merece ouvir nossas intimidades. Mas tem que ser qualquer um, no sentido de qualquer desconhecido, qualquer pessoa que não tenha nada contra e nada a favor de você, que não lhe conheça, para poder lhe ouvir sem uma opinião prévia sobre sua história. De preferência qualquer um com um diploma na parede e competência para ajudá-lo a se conhecer pra valer.

Que lhe faça descobrir os efeitos terapêuticos de ouvir a própria voz assumindo questões que até então não eram enfrentadas. Dá para fazer isso sozinho também, mas com um interlocutor é mais fácil. Ou menos difícil. Tente. Nada como bater na própria porta e entrar. Feliz 2014.

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sábado, 21 de dezembro de 2013

NOSSOS ENCONTROS - Edmir Silveira

Ela sempre me esperava em absoluto silêncio, na penumbra. Ao sentir minha presença, sua respiração tornava-se mais forte e acelerada. Minha pulsação também aumentava ainda mais e tornava minha respiração quase difícil. A saudade era grande. Aproximei-me bem devagar até aconchegar-me ao seu lado.

Não toquei sua pele, apenas passei meu rosto e meu nariz em seu rosto, afastando seus cabelos, até alcançar seu pescoço. A sensação de sentir seu perfume e o contato com o calor de sua respiração fez com que o meu cérebro começasse a funcionar em outra sintonia...muito além de tudo...viajando...embriagado.

Uma sintonia onde as sensações do tato, do olfato, do paladar e da audição se transformam em sentimentos. Onde cada toque, cada textura de cada parte do corpo, cada aroma e cada som são imediatamente transformados nas mais deliciosas emoções e sentimentos. E assim, entregue a essas sensações indescritíveis, minhas mãos iam percorrendo seu rosto. Podia sentir seu sorriso de prazer em minhas mãos. Podia sentir seus sorrisos através do ritmo de sua respiração. Sentir sua excitação através do cheiro de seu couro cabeludo que sempre causa em mim a mesma excitação. 

Nenhum dos dois falou. Apenas trocamos sussurros sem significado, apenas sons, mas o contato era total. Já nos conhecemos profundamente para sabermos que ainda temos muito o que o que conhecer um do outro. Por isso, somos também mistérios. 

Esse aproximar e tocar de corpos fez com que não houvesse mais espaço entre eles, a alma de um, inundando a alma do outro de felicidade, de prazer. Tão próximos, tão encaixados que a sensação é de que tudo é perfeito, completo. Sem fronteiras entre os corpos. Sem antes, sem depois. 

O encontro do desejo e da alegria com o prazer. A felicidade verdadeira. O amor.

Essências se fundindo: sensações, emoções e um sentimento de plenitude total. O que dá sentido à vida: os raros encontros com a felicidade. 






quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NOVA VACINA CONTRA CÂNCER FUNCIONA EM 90% DOS PACIENTES

Imagens capturadas de dois tipos de células do sistema imunológico
 (verde e roxo), próximo a um tumor (vermelho) 
Reprodução/Nature

Teste de imunoterapia que usou a bacteria 'Streptococcus pyogenes' para estimular a defesa do organismo encolheu os tumores em 70% dos casos; em outros 20%, a doença entrou em remissão

Imagens capturadas de dois tipos de células do sistema imunológico (verde e roxo), próximo a um tumor (vermelho) Reprodução/Nature

A revista “Nature” dedicou parte de sua publicação desta quarta-feira aos avanços da imunoterapia no tratamento de câncer. Este método que vem ganhando força no meio científico se baseia no estímulo do próprio sistema imunológico para combater os tumores. Na revista, uma das pesquisas destacadas revisita uma técnica ainda do século XIX para o desenvolvimento de uma vacina imunológica.

Por volta de 1890, o médico William Coley buscou em bactérias a forma enfrentar este mal. Ele infectou um de seus pacientes com o Streptococcus pyogenes, a bactéria que causa a doença escarlatina, e em questão de semanas, o doente teve uma recuperação significativa. Coley então começou a usar micro-organismos mortos para tornar o tratamento mais seguro e acrescentou mais um tipo de bactéria ao composto. O trabalho bem sucedido do médico - que pelos relatos conseguiu tratar centenas de pessoas, mas cuja história tinha caído no esquecimento - foi resgatada por pesquisadores da empresa canadense MBVax Bioscience.

A nova versão de vacina desenvolvida pela MBVax contém a mesma S. pyogenes e outra bactéria chamada Serratia marcescens, que contém um pigmento estimulante do sistema imunológico conhecido como prodigiosina. Desta forma, as cepas de bactérias mortas pelo calor ativam esse sistema para que ele lute contra o tumor.

Entre 2007 e 2012, a empresa vacinou cerca de 70 pessoas em estágio avançado de câncer, incluindo pacientes com melanoma (pele), linfoma (sistema linfático) e tumores malignos de mama, próstata e ovário. Os tumores encolheram em 70% dos pacientes, e 20% entraram em remissão.

Tecnologias de ponta contra o câncer
Diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo vêm desenvolvendo vacinas a partir de bactérias combinadas. E enquanto alguns pesquisadores buscam métodos de séculos passados, outros lançam mão das mais novas tecnologias disponíveis.

Uma pesquisa das universidades de Stanford, Califórnia e Massachusetts consegue gravar imagens da resposta do sistema imunológico ao câncer de pulmão num camundongo. Com isso, eles conseguem ver tanto como o tumor cresce ou encolhe quanto os detalhes de como e por que isto acontece. Antes disso, os pesquisadores não conseguiam ver o que de fato ocorria no corpo, então eles eram incapazes de identificar por que algumas terapias não funcionavam.

- Nós víamos várias imunoterapias falharem porque éramos cegos - afirmou à “Nature” Christopher Contag, imunologista da Universidade de Stanford, em Palo Alto.

Nos últimos dez anos, cientistas também têm observado células imunológicas e cancerosas utilizando sofisticadas tecnologias de microscopia. Eles aprenderam que as experiências em culturas de laboratório nem sempre conseguem imitar o que ocorreria no corpo.

Um trabalho do Instituto Pasteur, em Paris, conseguiu observar as interações das células tumorais e imunológicas em animais vivos a partir de imagens de um microscópio multifotônico. O alcance deste equipamento é oito vezes maior do que os microscópios usuais.

Duas outras pesquisas (das universidades de Manchester, nos EUA, e Sidnei, na Austrália) usam microscópios com lasers infravermelhos. Com imagens de super resolução, eles detectam as moléculas no momento de contato das células imunológicas e dos tumores.

- Queremos ver onde cada proteína está na superfície destas células, uma informação essencial para a compreensão do que ocorre a nível celular e que determina o prognóstico de um paciente com câncer - explica Daniel Davis, de Manchester.

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A LINGUAGEM DO AMOR

Casais com bom relacionamento costumam usar o mesmo tipo de palavras funcionais – preposições, pronomes, artigos e conjunções – e com frequência equivalente.

Casais apaixonados ou que mantêm um relacionamento de longo prazo não raro se atribuem apelidos carinhosos ou mudam o tom de voz quando falam um com o outro. Segundo pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, a identidade afetiva por meio das palavras não para por aí. Um estudo conduzido pelo psicólogo James Pennebaker mostra que pares “bem-sucedidos” ou com mais chances de sê-lo costumam usar o mesmo tipo de palavras funcionais – preposições, pronomes, artigos e conjunções – e com frequência equivalente. Usados em vários contextos, esses termos são, em geral, processados de forma rápida e inconsciente.

Para chegar a essa conclusão, o psicólogo reuniu 80 homens e mulheres e solicitou que cada um conversasse com alguém do sexo oposto por alguns minutos. Em seguida, questionou-os sobre a possibilidade de saírem juntos. Curiosamente, os pares que usaram tipos similares de palavras funcionais se mostraram mais inclinados a marcar outro encontro – mesmo aqueles que declararam não ter muitos pontos em comum.

Em outro estudo, Pennebaker analisou o conteúdo de mensagens de celular enviadas por 86 casais e perguntou aos voluntários quão felizes eles se sentiam com o compromisso assumido. Três meses depois, o pesquisador verificou se os pares ainda estavam juntos. Ele observou que os pares estáveis eram os que trocavam torpedos com mais palavras funcionais em comum. O curioso é que isso se aplicou também a quem declarou estar insatisfeito com o companheiro, na primeira fase da pesquisa.

Agora os pesquisadores querem entender se o vocabulário em comum provoca atração ou se na verdade as pessoas adaptam sua forma de falar, ficando parecidas com o outro. Os dois processos são possíveis, mas Pennebaker acredita que o último seja mais provável: “A linguagem prediz o sucesso dos relacionamentos porque reflete a forma como os casais ouvem um ao outro e se entendem”, reforça o psicólogo.
Universidade do Texas, Austin.

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UMA TAÇA DE SAÚDE - Luiz Loccoman

Ao bebermos vinho tinto lentamente, em pequenos goles, sentindo o sabor, nosso cérebro se beneficia do resveratrol, substância presente nas uvas que ajuda a prevenir a deterioração das células neurais

Degustar uma taça de vinho pode proporcionar mais que prazer e bem-estar. A bebida milenar, associada ao deus grego Dioniso e ainda hoje usada em rituais religiosos, tem chamado a aten­ção de cientistas por seus benefícios à saúde. É comprovado que, em pequenas quantidades, previne doenças cardiovas­culares, diabetes e alguns tipos de câncer. Uma substância em especial tem revelado grande potencial terapêutico: o resveratrol, molécula presente na casca de uvas pretas e ro­sadas e um dos ativos não alcoólicos encontrados na bebida. Segundo o cientista Lindsay Brown, da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Queensland, na Austrália, a molécula reduz os sintomas de doenças relacionadas à idade, como o diabetes 2. Segundo Brown, a substância per­tence ao grupo das sirtuínas, família de enzimas que agem na regulação energética e no envelhecimento das células.

Em um estudo da Universidade do Texas pesquisadores injetaram o resveratrol no cérebro de ratos e observaram aumento da secreção de insulina e redução dos níveis glicêmi­cos. Mesmo nos animais que receberam dieta hipercalórica, a molécula ajudou a reduzir os níveis de açúcar sem causar os efeitos colaterais dos medicamentos para diabetes mais utilizados. A descoberta pode ajudar a criar remédios que atuem sobre as sirtuínas. Entretanto, os pesquisadores res­saltam que esse mecanismo não esclarece o efeito protetor do vinho contra o diabetes 2, pois o resveratrol não parece atravessar facilmente a barreira hematoencefálica. Isso ocorre porque a substância é praticamente inativada quando chega ao intestino e ao fígado. Assim, ela atinge a circulação apenas em pequenas quantidades. Porém, se o vinho for bebido de forma lenta, em pequenos goles, as chances de absorção pelo sangue aumentam, através das membranas mucosas da boca, até 100 vezes. A equipe coordenada pelo químico André Souto, da Pontifícia Univer­sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), trabalha no desenvolvimento de um fármaco contra diabetes com base no resveratrol, que além de encontrado na uva, está presente em quantidade 100 vezes maior também na hortaliça popularmente conhecida como azedinha (Rumex acetosa). No entanto, ainda são necessários mais estudos para saber se é possível produzir remédios a partir da planta.

À FRANCESA
O resveratrol tem mostrado efeito sobre várias patologias. Cientistas da Escola de Medicina Johns Hopkins, em Maryland, administraram a substância em ratos e duas horas depois indu­ziram um derrame isquêmico nos animais, cor­tando o suprimento de sangue do cérebro. Eles observaram que os camundongos que haviam ingerido preventivamente um composto com resveratrol sofreram significativamente menos danos cerebrais do que os que não receberam a substância. O estudo foi publicado on-line na Neurology Experimental.

O neurocientista Sylvain Doré, coordenador da pesquisa, aponta que o resveratrol pode aumentar os níveis da enzima hemeoxigenase (HEOX), conhecida por proteger as células neurais contra perda progressiva de função neurológica causada pelo entupimento (isque­mia) ou rompimento (hemorragia) de vasos sanguíneos cerebrais. Durante um acidente cardiovascular, a HEOX aumenta a resistência dos neurônios contra a asfixia. A novidade é que o resveratrol pode potencializar a ação da enzima e tornar o cérebro mais resistente contra o AVC isquêmico. Por outro lado, os efeitos do resveratrol dependem da quantidade de heme oxigenase presente no organismo. Ratos com deficiência da enzima não se beneficiaram da ação protetora do resveratrol – neles um maior número de células cerebrais morreu após a indução do derrame isquêmico. Doré associa suas conclusões ao que chama de “paradoxo francês”: apesar da dieta rica em queijos, man­teiga e outras gorduras saturadas, a incidência de doenças cardiovasculares é relativamente baixa entre os franceses. O fato é atribuído ao consumo regular de vinho tinto.

Além disso, o consumo da bebida tem sido associado também à diminuição de doenças inflamatórias agudas como a septicemia (infec­ção grave do organismo por germes patogêni­cos). Em estudo feito na Escócia, o imunofar­macologista Alirio Melendez, do Centro de Pes­quisa Biomédica da Universidade de Glasgow, utilizou o resveratrol para tratar camundongos com doenças inflamatórias agudas. Ele aponta que processos de infecções graves são difíceis de ser controlados e, ainda hoje, são causa frequente de morte. Pacientes que sobrevivem à infecção mantêm qualidade de vida muito baixa por causa dos danos provocados pela inflamação de vários órgãos internos. Melendez induziu um agente inflamatório em dois grupos de ratos, mas antes disso um deles havia recebi­do doses de resveratrol. Os camundongos que não receberam a substância mostraram forte resposta inflamatória, parecida com a doença em humanos, enquanto o grupo que recebeu tratamento não demonstrou sinais de infecção. Os cientistas examinaram os tecidos dos ratos para determinar exatamente como o resveratrol foi capaz de proteger os animais e descobriram que a substância impediu o corpo de criar duas moléculas envolvidas no desencadeamento de inflamações: a esfingosina quinase e a fosfoli­pase. O pesquisador acredita que o resveratrol pode ser usado para tratar doenças inflamató­rias e desenvolver drogas ainda mais eficazes.

Doré aponta, porém, que tomar suplemen­tos de resveratrol, comercializados em alguns países como os Estados Unidos, não garante os mesmos efeitos do consumo moderado de vinho. Apesar de a substância ser encontrada em uvas pretas, ele acredita que a interação com o álcool presente na bebida garante o potencial terapêutico da substância.

NA MEDIDA CERTA
É importante ressaltar que as quantidades de resveratrol na bebida variam com o tipo de vinho. Ainda são necessárias mais pesquisas para escla­recer qual tipo é mais adequado para consumo e quais as quantidades indicadas. “Talvez o resve­ratrol não seja o responsável direto por proteger as células cerebrais contra os danos provocados pelos radicais livres. O mais provável é que a subs­tância e os seus metabolitos estimulem as células a se defender”, sugere Doré. O neurocientista se concentra em estudar os efeitos preventivos da substância, mas pretende investigar os benefícios terapêuticos depois do acidente vascular cerebral (AVC) e se é possível reverter perdas neurais que surgem com o passar do tempo.

Outro benefício associado ao consumo de vinho tinto foi publicado no Journal of Neuroscience. Em um experimento com roedores, o neurocientista Giulio Pasinetti e seus colegas do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, mostraram que substâncias presentes na bebida podem combater os primeiros sinais de Alzheimer. Eles aplicaram extrato retirado da semente de uva em camundongos na fase pré-sintomática da doença degenerativa, durante cinco meses. A dose aplicada era equivalente à quantidade média de alimentos consumida pelos animais, com referência em valores diários de uma dieta saudável. A exposição à substância reduziu a acumulação de placas amiloides no cérebro e o declínio cognitivo em comparação com o grupo de controle. Observaram também que os roedores tinham melhor memória espacial. Segundo Pasinetti, o vinho pode ajudar a retardar a formação de placas e fazer com que os sintomas, como a perda cognitiva, demorem mais para aparecer.

Em um estudo anterior, o neurocientista relatou que o consumo moderado da bebida e de outros produtos feitos da uva traz benefícios à saúde, particularmente para a função cardio­vascular. O objetivo agora é tentar descobrir qual a principal molécula, entre os milhares conti­das no vinho tinto, envolvida na prevenção de patologias neurodegenerativas. Outros grupos desenvolvem pesquisas semelhantes com o café. “Esse pode ser o primeiro passo para desenvolver um tratamento natural e sem contraindicações para demência”, diz.

Apesar dos ganhos trazidos pela bebida, o consumo de álcool tem riscos, principalmente para pessoas com problemas hepáticos. “Se uma taça diária funciona para os franceses, que mantêm o hábito ao longo de gerações, isso não significa que pessoas que nunca ingeriram a bebida vão se beneficiar se incor­porarem o vinho à sua dieta”, diz Pasinetti. Uma alternativa inofensiva é o consumo de uvas pretas e rosadas. Elas contêm altas concentrações de antioxidantes, resveratrol e flavonoides, principalmente na casca e nas sementes. Para alguns pesquisadores, comer a fruta fresca ou tomar seu suco garante a mesma quantidade de antioxidantes, com a vantagem – para tristeza dos apreciadores de vinho – de não ter álcool.


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