Que a quantidade de abortos espontâneos é enorme e invisível, pelo mesmo processo. Que ninguém deve chorar pela perda de um feto antes dos seis meses (afora problemas uterinos corrigíveis), pois a natureza está apenas se livrando de um produto defeituoso. Que o homem deposita na fêmea de sua espécie três grupos diferentes de espermatozóides, apenas um deles é fecundador. Os outros dois só existem para atrapalhar os gametas de outros homens (que, como a mãe natureza presume, copularam com a fêmea no mesmo período).
São os matadores (capazes de detectar espermatozóides alheios, e de destruí-los com suas enzimas) e os obstrutores (que entopem a passagem de outros nos canalículos do colo do útero). Que, diferentemente do pensamento do senador republicano Todd Akin (“os casos de gravidez depois de um estupro são muito raros” e “se for um estupro de verdade, o corpo da mulher tenta, por todos os meios, bloquear a gravidez”), a mesma mãe natura considera o estupro apenas como uma das formas de reprodução, bem eficaz, a propósito, já que os índices de gravidez pós-estupro são bem maiores que os do sexo amoroso (na Bósnia-Herzegovina, mulheres de 9 a 50 anos engravidaram dos soldados estupradores). Para piorar a situação, o sexo violento é, em geral, mais fértil que o delicado, por isso as mulheres engravidam mais dos amantes “bicho-pega” que dos maridos acomodados. Que os animais comoventemente monógamos (cisnes, pombos) geram crias bastardas em torno de 20%. Quando começaram os testes de DNA em humanos, surpresa: nos casais mais pobres, o nível de frutos extraconjugais igualava o das aves, caindo à medida que a posição econômica do marido aumentava (mas nunca sumindo).
Que uma pesquisa americana perguntou às mulheres o que elas prefeririam: ter como marido um fiel e pacato classe-média, ou ser a quinta concubina no harém de John Kennedy? Preciso dizer que resposta ganhou com ampla maioria?
“Mas, e o romantismo?”, perguntou ele. Vamos por partes. Primeiro, ele não foi uma criação cultural dos trovadores do tempo das cruzadas, maridos lutando, mulheres em torres. Nem começou na idealização dos amores impossíveis. Com traços mais toscos, ele é produto da seleção natural. Uma forma de reprodução que aposta mais na qualidade, pelo investimento do homem na mulher e suas crias (maior taxa de sobrevivência, melhor alimentação e proteção), que na quantidade, a estratégia do estuprador.
Logo, não podemos construir nossa ética com base na natureza. O que faz um leão, antes de se acasalar com uma fêmea sem macho, mas com filhotes? Mata-os a todos, o que produz instantânea ovulação na fêmea.
Não é incomum que um homem tenha o mesmo impulso, mas a civilização tem outros fatores a considerar.
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