terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

VOCÊ CONSEGUE SENTIR E EXPRESSAR GRATIDÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha

A gratidão é um dos sentimentos mais nobres que existe. Ser grato é abrir o coração e deixar fluir este sentimento que envolve a nossa alma. Ser grato é reconhecer um benefício que recebemos e que nada nos custou, embora seja algo tão caro e tão relevante. Para ser grato é preciso ter sensibilidade, humildade, enfim, é preciso ter amor. É uma das habilidades mais poderosas na arte de estabelecer bons relacionamentos. Quando uma pessoa ajuda às outras sem esperar nenhuma recompensa, assim o faz em gratidão pelo que recebeu e recebe a cada dia. Na verdade, a gratidão gera bonitos sentimentos e forma uma corrente do bem. Não há quem não se sinta muito bem, feliz mesmo, quando constata que a sua ajuda foi devidamente reconhecida pela pessoa que a recebeu.
Por que será então que encontramos tantas ingratidões? Uma pessoa ingrata não consegue retribuir o bem que lhe fizeram, não vê e não reconhece quem lhe estendeu a mão. Ela esquece com muita facilidade as coisas boas que fizeram por ela, mas lembra das ruins. A ingratidão gera sentimentos como: decepção, raiva, mágoa, tristeza... Quando só enxergamos o mal, acabamos acusando as demais pessoas, e esquecemos que muitas vezes colhemos aquilo que plantamos.
Encontramos algumas situações que colaboram para a dificuldade das pessoas que não conseguem ser gratas às coisas que recebem.
-Todos nós deveríamos ser “treinados” desde a infância a ter um comportamento grato. Quando ensinamos uma criança a dizer “obrigado” para as pessoas que lhe servem, ou lhe ajudam, estamos lhe ensinando a ser grata (o). Isso faz parte da educação, mas nem sempre recebemos ou soubemos dar esse ensinamento.
- Infelizmente muitas pessoas pensam que agradecer, é como se declarar inferior, é como confessar que precisou de outrem e que isso seria um sinal de fraqueza, carência e dependência. Querem acreditar que não precisam e não dependem de ninguém.
- Outros, preocupam-se permanentemente consigo mesmos, vivem no “seu mundo” particular, no qual reinam intensamente seus desejos e vontades. Às vezes, são até simpáticos e capazes de fazer algumas amizades, mas, não se libertam jamais de seus interesses pessoais, que colocam acima de tudo e de todos. Provocam ressentimentos difíceis de serem esquecidos ou perdoados pelos que estão ao seu redor.
- Alguns não aceitam conselhos, não ouvem ninguém, acham que sabem tudo e são teimosos. Fingem aceitar o que dizem, mas na verdade não prestam atenção, porque acreditam que só eles sabem o que é bom para eles e que ninguém tem nada a dar para eles. Na verdade, nem enxergam algo de bom que alguém queira lhe dar ou até o tenha dado.
A verdade, é que as pessoas que vivem dessa forma, no fundo, sofrem por carências (de amor, paz, sabedoria...), inseguranças, tristeza, falta de confiança nos outros... Elas sentem e agem assim, não por maldade, mas porque há vazios significativos, há incapacidades, que não as permitem enxergar um mundo melhor, pessoas boas e confiáveis ao seu redor, capazes de amá-las. Não conseguem ter uma vida menos prejudicial a elas e aos que a cercam. Só conseguem ver o lado negativo das coisas e das pessoas, mesmo naquelas que as ajudaram. A vida delas fica muito comprometida, porque as pessoas se afastam, não querem ter convivência, e muitas vezes elas perdem seus companheiros (as), amigas...
O que se pode fazer para propiciar um bom entendimento, uma compreensão, e melhorar as relações? Seria muito bom que essas pessoas procurassem ajuda para tentar se livrar desses problemas e pudessem construir melhores relações. As pessoas ficam muito felizes quando são reconhecidas e fica muito mais fácil se relacionar com os outros. Uma coisa que poderá ajudar, é termos a consciência de que não devemos criar muitas expectativas em relação às pessoas ao nosso redor, sejam familiares, amigos ou relacionamentos amorosos. Todos nós, seres humanos, temos dificuldades emocionais, dos mais variados tipos, e, portanto deveríamos ser mais tolerantes. Muitas pessoas vão aparecer nas nossas vidas e nos decepcionar, faz parte. Mas nós teremos que aprender a lidar com cada uma “delas”, e não deixar que elas destruam a nossa capacidade de amar e de acreditar no amor verdadeiro. Da mesma maneira que nós também vamos frustrar e decepcionar outras pessoas, e elas irão precisar aprender a lidar com isso.
Um ponto importante para ser falado também, é o quanto é comum se juntar automaticamente ingratidão com rejeição. A falta de agradecimento de uma pessoa, não significa falta de amor, e sim dificuldade em lidar com a gratidão. É claro que a ingratidão dói na maioria das vezes, mas se estivermos atentos com o que todos nós sentimos, com nossas limitações também e com o que temos capacidade de fazer, fica mais fácil de lidar. Não é porque alguém tem muita gratidão, que vai então ficar esperando que o outro tenha também. Como foi dito acima, cada um é cada um com suas qualidades e defeitos, com suas possibilidades e dificuldades...
O desejo de mudar, de buscar conhecer as próprias dificuldades para vencê-las, é uma decisão de cada um. Os conflitos existem, mas todos podem ser trabalhados em busca de uma vida mais leve.
Quando conseguimos nos incluir num grupo, como uma equipe, onde cada um tem a sua participação numa vitória, isso é muito gratificante. Um bom exemplo é num jogo de futebol: “É quando o jogador que faz o gol tem a consciência de que o colega que colocou à bola nos seus pés, é também merecedor dos aplausos”. Vamos dar o melhor que pudermos, ser generosos quando conseguirmos, pelo simples prazer de dar, sem esperar a volta.
Todos nós queremos e precisamos ser bem aceitos. O que precisamos fazer para que isso ocorra, é sermos, dentro das nossas possibilidades, o melhor que podemos ser, e ter a importante consciência que a vida é uma troca, uma via de mão dupla.
 Solange Bittencourt Quintanilha - Psicóloga Clínica, Psicóloga Médico-Hospitalar, Psicanalista, Psicóloga Motivacional
 

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