Assim é… se lhe parece, em italiano Così è (se vi pare), é uma peça teatral de Pirandello, que eu vi no começo dos anos 50, no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo. Na história, uma mulher está desaparecida e surgem então várias hipóteses para esse desaparecimento, numa relação exaltada entre ilusão e realidade. Enfim: surge a verdade de cada um.
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Numa entrevista à Paris Review, revista literária americana, Tennessee Williams conta que Marlon Brando apareceu em sua casa para um teste. Na época, o autor procurava um ator para o papel principal de Um Bonde Chamado Desejo. E Williams diz: “Ele sentou-se muito naturalmente e leu o texto do personagem por cinco minutos. Não precisou continuar por mais tempo para ganhar o papel”. E o ganhou não apenas na Broadway,mas também no filme, que no Brasil se chamou Uma Rua Chamada Pecado. E continua o escritor: “Mas, antes da leitura, Brando foi muito gentil e prestativo: consertou um encanamento que estava arrebentado na cozinha e trocou lâmpadas queimadas”. Pode-se ver um Marlon Brando suado, a camiseta colada ao corpo, deslumbrando Tennessee. Será que foi exatamente assim que aconteceu?
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O escritor argentino Bioy Casares conta que, depois que seu pai morreu, sonhou com ele por noites e noites seguidas. Sonhos bons, prazerosos, em que os dois conversavam, riam, divertiam-se. Com o tempo, esses encontros oníricos diminuíram, até que numa noite o escritor sonhou que falava com o pai pelo telefone, mas que em menos de um minuto a ligação foi interrompida e ele não conseguiu restabelecê-la. E afirma Bioy: “De qualquer maneira fiquei feliz em ouvir novamente a voz do meu pai, mesmo por telefone”.
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Meu amigo Reynaldo certa vez me mostrou uma foto em que seu jovem cunhado aparecia ao lado do pai, os dois muito sorridentes e felizes. Quem lhe deu essa foto foi o pai, depois que o rapaz morreu. Para demonstrar toda a sua imensa tristeza pela perda do filho, o velho homem escreveu: “Lembrança do tempo em que éramos vivos”. Obviamente, com essa frase expressava toda a sua dor de sobrevivente. Quando o Rey me mostrou a foto, o pai havia morrido fazia uma semana. E o Rey para mim: “A dedicatória agora ficou com novo sentido. O da verdade sobre a metáfora”.
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Uma vez, almoçávamos num restaurante em Nova York. Minha mulher, meus filhos e eu. Numa mesa próxima, um homem almoçava sozinho, enquanto passava os olhos num jornal. Ficamos em dúvida: seria o ator e diretor Mel Brooks?
De molecagem, usei de um velho truque: quando ele se levantou e ia se aproximando da nossa mesa para ir embora, eu falei numa voz razoavelmente alta: — Hei, Mel!
O homem virou-se, sorriu e me abraçou:
— Quanto tempo! Vi seu último filme. Gostei muito!
Aturdido, agradeci e ele se foi, porta afora. Até hoje nos perguntamos: por quem ele me tomou? Quem era eu para ele?
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A verdade de cada um. Repito muitas vezes para mim os versos de Fernando Pessoa, numa das odes de Ricardo Reis: “Nada se sabe. Tudo se imagina”.
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