Assistindo ao jogo em casa pela TV, sozinho, fiz tudo aquilo que, em geral , acho ridículo nos torcedores fanáticos: a vibração histérica e a emoção barata.
Quando o gigante acorda — seja nas ruas, seja num estádio de futebol — também desperta na gente um pouco daquele conde Afonso Celso que temos dentro de nós. Quem não sentiu pelo menos uma vez vontade de afirmar “por que me ufano de meu país”? Se eu tivesse ido ao Maracanã domingo, teria deixado de lado o pudor da pieguice cívica para participar do coro que cantou o Hino Nacional à capela ou entoou o “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” — eu e mais de 70 mil pessoas. Assistindo ao jogo com a Espanha pela TV, em casa, sozinho, me arrepiei várias vezes, enxuguei lágrimas, dei pulos com o punho cerrado, fiz enfim tudo aquilo que em geral acho ridículo nos torcedores fanáticos: a vibração histérica e a emoção barata. Nunca pensei que fôssemos reeditar aquele espetáculo de 63 anos atrás, quando o velho Maraca cantou “Touradas de Madri”, enquanto dava um olé de 6x1 nos avós de Iniesta e Xavi.
Só que desta vez foi melhor, porque fomos campeões, não morremos na praia do Uruguai, sem falar que o jogo foi mais dramático, com lances épicos eletrizantes, como aquele de David Luiz, com o nariz quebrado, deslizando em alta velocidade até a linha do gol para realizar o impossível: jogar a bola para o alto e por cima do travessão. Não é todo dia que se vê um milagre desses. E o gol de Fred deitado, ele, que no jogo anterior já tinha marcado com a canela? Tão original quanto a proeza foi o comentário do autor: “Fiz tanta coisa boa deitado, faltava um gol.” E Neymar, que começou o torneio carregado de dúvidas e terminou empunhando três taças só para ele? Porém, advertem as estatísticas, quem ganha essa competição não ganha a Copa do Mundo. Ótimo, porque pelo visto esse time gosta de contrariar expectativas pessimistas.
Não só em campo o Brasil costuma ser imprevisível. Assim como a Seleção deu a volta por cima, revertendo as piores previsões, também o cenário político mudou de um dia para o outro, desarrumando os prognósticos eleitorais para o ano que vem. Quem poderia prever que a popularidade de Dilma iria despencar de 57% para 30%? E a de Alckmin, de Haddad, de Cabral e de Eduardo Paes? O mais divertido é que não dá para partido algum comemorar. Todos perderam. Ainda bem. Ninguém pode cantar de galo e tripudiar: “Eu não disse?” Mais uma vez ficou provado também que todos nós — jornalistas, institutos de opinião, sociólogos, analistas políticos — não falhamos: acertamos sempre o que passou, nunca o por vir. Somos profetas do passado.
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