"Tenho 48 anos, acontece que nos meus relacionamentos, depois de um certo tempo (de 2 a 4 anos) perco o desejo sexual pela minha companheira. Impotencia mesmo. Porem passo a sentir desejo louco por outras mulheres. Embora não perca a vontade de estar junto, nem a amizade, eu termino o relacionamento e começo um novo, e tudo se repete. É um ciclo. Achava que não havia encontrado a companheira ideal, porém, como eu sou muito seletivo, encontro mulheres legais, independentes e inteligentes. Ou seja, como eu gosto. A mulher atual está "aturando" essa situação,terminei porem ela não aceitou,sai com duas mulheres e o sexo foi ótimo. Ela disse que deveríamos vencer esse obstáculo, que era uma questão de tempo. Mas nada mudou. Fazemos pouco sexo, sem qualidade. Ela continua dizendo que me ama, mas eu não consigo respondê-la. Olho com desejo para outras mulheres, e quando estou sozinho tenho ereções homericas. Já a trai algumas vezes.Tornei-me uma pessoa triste O que acontece comigo?
Simão
A grama do vizinho é mais verde, sua casa mais sólida, seu carro mais poderoso e, claro, sua mulher... mais desejável. Decidido, comprou a casa vizinha, trocaram seus carros e conquistou a bela mulher. Feliz, instalou a espreguiçadeira no jardim e, sorridente, olhou ao seu redor, Foi então que percebeu que a grama do vizinho, que já foi própria, era, sem dúvida, mais verde e luminosa...
Simão está preso na armadilha do desejo, como o Rei Midas, os famosos que afundam em drogas, os milionários deprimidos e, obviamente, os eternos insatisfeitos no amor. O diagnóstico é fácil, porque escutando seus relatos nossa primeira tendência é juntar os dedos da mão direita em torno do polegar e colocá-la diante de Simão, em um gesto inútil de perplexidade. Se tem tudo, por que sofre?
Sem palavras perguntamos e ele nos retribui com o mesmo gesto duplicando a aposta; faz isso com ambas as mãos e responde:
- Sofro porque tenho tudo, menos carência, e os seres humanos (psicanalistas inclusive), não conseguem entender os carentes de carência.
Admite-se a tristeza quando falta amor, dinheiro ou prestígio. Imprescindível é a decepção quando o que falta é a própria falta.
– Tem tudo para ser feliz!!!
Repetimos irritados em ancestral cegueira que nos impede de aceitar a fome de Midas ou a tristeza dos ricos. O que aconteceu com eles é terem alcançado seus objetivos, perdendo a deliciosa frustração que lhes dava motivo e força para conquistá-lo. É por isso que, agora que chegaram a destino, não tem para onde ir. Sua única alternativa é renunciar às suas posses, como faz Simão com seus amores, para abastecer reservatório de frustração, porque aprenderam com a experiência que a miséria é infinita e a riqueza limitada. A tristeza de Simão precisa ser conservada como a fome do faminto, porque aqueles que comem comida demais se aliviam quando o estômago recupera seu vazio. Por isso alguns bilionários (Buffet, Gates e outros escolhidos) um dia, em concorrida r
odada de imprensa dizem, com a clássica elegância dos ricos, que decidiram doar grande parte da sua fortuna... Inibidos de confessar que perderam em alegria o que ganharam em dinheiro. Apelam, como recurso extremo, ao milagre de empobrecer, guardando o verdadeiro motivo da sua generosidade no mesmo lugar secreto onde antes guardavam o dinheiro. Admito que alguns ricos são felizes e há Simões que desfrutam o verde dos seus jardins, porém é um privilégio exclusivo daqueles que não confundem o fim com os meios.
As mulheres ou o dinheiro só podem ser desfrutados como instrumentos de um projeto maior. Ser rico ou conquistar uma mulher é o meio para alcançar novos objetivos. Por isso Simão se angustia colecionando chaves de fenda, alicates, chaves inglesas, belas mulheres ou carros de luxo, ferramentas inúteis quando falta o principal: os objetivos. Por isso, novamente junta os dedos e move sua mão, de cima para baixo, num movimento de infinita interrogação cada vez mais amplo, decidido e enérgico.
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