terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SUPER HUMANOS - Em risco, nosso corpo ganha superpoderes

Subir escadas quando o elevador não funciona costuma ser o auge do esforço de muita gente. Mas você também pode ter superpoderes em uma situação de vida ou morte.


FORÇA E RESISTÊNCIA
Mesmo que por um curto período, nossos músculos são capazes de se contrair todos de uma vez, gerando uma força incomum. Com endorfina, é possível não sentir dor, e os ossos modificam sua estrutura para suportar grandes pressões.

MÚSCULOS
1. OXIGENADO
Com a adrenalina no corpo, o sangue circula com mais facilidade e intensidade, levando mais oxigênio aos músculos, que passam a trabalhar mais contraídos.

2. PODER DA MENTE
Por isso, quando o sistema nervoso envia os impulsos elétricos para estimular os músculos, as fibras de contração rápida são ativadas todas simultaneamente.

3. RICOS EM FIBRAS
Tudo ocorre a um nível microscópico: cada músculo tem milhares de fibras, que contêm centenas de miofibras.

4. CONTRAIR E COÇAR
Compostas de proteínas, as miofibras são formadas por filamentos menores ainda. Esse conjunto provoca a contração muscular depois de receber o impulso elétrico.

5. ENCAIXE PODEROSO
Os filamentos são dispostos em fileiras. Na contração muscular, um desliza sobre o outro e eles se encaixam - é dessa sincronia que vem a explosão de força.


OSSOS
1. DURO DE ROER
O tecido compacto que reveste o osso funciona como uma capa rígida, composta de cálcio e fósforo. Nervos e vasos saguíneos passam por orifícios em sua superfície.

2. FESTA DO INTERIOR
Por dentro, os ossos têm uma parte mole e viva, composta de fibras de colágeno.

3. MARIA MOLE
Graças ao interior maleável, o osso é capaz de mudar e se rearranjar para aliviar grandes tensões.


DOR
1. O CAMINHO DA DOR
No segundo em que nos ferimos, o estímulo da dor chega até o cérebro.

2. ALÍVIO IMEDIATO
Quando o cérebro entende que a dor é muito grande, ele nos poupa da notícia ruim: envia sinais para a hipófise, que libera no sangue a endorfina. Esse analgésico natural obstrui a comunicação entre os nervos, impedindo que os estímulos de dor passem.


ENERGIA
De homem a super-homem: com adrenalina, os sentidos ficam mais aguçados.

1. O PERIGO
Ao sentir medo ou se deparar com uma situação de risco, o corpo sofre uma mudança radical. O hipotálamo (responsável por manter o equilíbrio entre o estresse e o relaxamento) é acionado e envia uma mensagem para que o organismo fique alerta.

2. ROLA UMA QUÍMICA
A glândula hipófise recebe a mensagem do hipotálamo e envia, pelo sangue, sinais que ativam as glândulas suprarrenais (acima dos rins), que produzem adrenalina

3. HORMÔNIO DO "FICA ESPERTO"
A adrenalina é responsável por criar um estado de prontidão. Ajuda a pessoa a enfrentar o perigo e o organismo a lidar com o estresse.

4. NO SANGUE
Ao cair no sangue, a adrenalina contrai os vasos sanguíneos. Assim, o sangue corre mais rápido, o que aumenta os batimentos cardíacos e o fluxo de oxigênio no corpo. O cérebro fica mais apto a tomar decisões rápidas e os músculos, mais flexíveis. As pupilas dilatam-se para melhorar a eficiência visual e o fígado chega a produzir mais glicose, gerando mais energia.

Num caso de vida ou morte um sedentário pode correr até 5 km queimando glicose e segurar mais 7 km com gordura.

TANQUE RESERVA
Graças à adrenalina despertada pelo perigo, uma pessoa é capaz de correr mais do que o normal. Assim que acaba nosso combustível comum, a glicose, a adrenalina libera o uso de uma fonte alternativa de energia.

VEÍCULO FLEX
Esse combustível extra é a gordura. Geralmente abundante, quando ela entra em ação, você ganha mais um pique para fugir do perigo - e ainda sai um pouco mais magro do processo.


AMORTECEDOR
O joelho, nossa maior articulação, é capaz de suportar 20 vezes o peso do corpo.

1. DIVISÃO DE TAREFAS
Para aliviar as tensões, os joelhos contam com dois meniscos (o medial e o lateral). São cartilagens responsáveis por controlar o peso, estabilizando a articulação.

2. LIGAÇÕES DESEJOSAS
Os tendões e ligamentos conectam o joelho com músculos e ossos, trazendo a força da perna inteira para aquele ponto.

3. REVESTE E LUBRIFICA
Movimentos intensos no joelho? É um trabalho para a membrana sinovial. Além de revestir o joelho, ela produz um lubrificante que reduz atritos.

4. EMBORRACHADO
O amortecedor fica completo com a cartilagem, cuja principal função é absorver impactos. Sua espessura pode chegar até 0,6 cm.

por Giselle Hirata, Alessandra Kalko, Éber Evangelista, Luiz Iria .
Fontes Camila Luisa Sato, fisioterapeuta formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp); Arnaldo José Hernandez, chefe do Grupo de Medicina do Esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo; Ivan Okamoto, vice-coordenador do departamento de neurologia cognitiva e do envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

MÁRIO QUINTANA - Um Dia Perfeito

Hoje queria um dia
feito de horas de oferecer.
Porque há dias diferentes.
Dias especiais
em que queremos encomendar o sol,
a luz do horizonte, a doçura do ar.

Queria oferecer um dia hoje.
Um dia perfeito.
Embrulhado em momentos guardados.
Talvez com uma fita cor de certeza
calma,
e um laço pleno de voltas cúmplices.
Só um dia.
Dado assim ...



Clique abaixo, veja e ouça também:







MEMÓRIA E FELICIDADE - Como assumir o controle de suas lembranças e ser mais feliz

A chave da felicidade está no passado - mais precisamente, nas memórias afetivas que você vai construindo ao longo da sua vida. 
Se você conseguir controlá-las, será muito mais feliz. Veja como.

Você é feliz? Você está feliz agora? A resposta é mais complicada do que parece. Perceba a diferença nas duas perguntas. Na primeira, eu perguntei se você é feliz, ou seja, se está satisfeito com o andamento da sua vida. Na segunda, perguntei se você está feliz neste momento, lendo esta revista. E, somando essas duas coisas, qual é o saldo final? Feliz ou infeliz? Provavelmente, você hesitou antes de responder. Isso é normal. E acontece porque a felicidade é uma combinação meio complicada, uma mistura do presente com o passado. Você pode estar adorando este texto, mas triste porque foi mal numa prova ontem. Ou pode estar apaixonado por alguém, feliz da vida, mas achando esta conversa meio chata. A felicidade é uma combinação do presente com o passado. Só que o presente dura muito pouco. Para ser mais exato, 3 segundos.
A cada 3 segundos, ele se torna passado. Essa ideia surgiu em estudos do psicólogo francês Paul Fraisse e hoje é aceita por diversos pesquisadores, como o também psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel. Após 3 segundos, todas as informações que passam pela sua cabeça saem da consciência e são arquivadas nos sistemas de memória do cérebro. Isso significa que você enxerga a própria vida, fundamentalmente, através da memória. E isso tem uma consequência enorme: na prática, ela é o fator que mais pesa na felicidade. Mas está longe de ser confiável. Quase sempre nossas lembranças omitem ou distorcem detalhes do que aconteceu.

Pense num álbum de fotos. Você vai encontrar imagens do seu aniversário, do nascimento de um sobrinho, das últimas férias. Uma foto pode registrar um momento sorridente seu e de seus amigos numa festa. Na imagem, todos parecem felizes, e você relembra o momento com carinho. Mas o sorriso da foto não registra, obrigatoriamente, a forma como você se sentia naquele dia. Todo mundo já posou sorridente para um retrato mesmo se a festa estava chata. Ao abrir o álbum, no entanto, você nem sempre vai lembrar que a cerveja estava morna, que a carne do churrasco passou do ponto e do amigo que contava piadas ruins. A sua memória funciona como esse álbum.
A ciência está começando a entender como esse processo acontece. A memória é influenciada por dois mecanismos. O primeiro é a negligência sobre a duração das nossas experiências, ou seja, um instante de alegria intensa vale mais do que uma semana de felicidade moderada. E o segundo é a tendência a atribuir muita importância aos momentos que vêm por último, ou seja: se você for assaltado no último dia das suas férias, certamente se lembrará delas de forma ruim, mesmo que antes tenha passado 15 dias maravilhosos na praia. É como em um filme. As reviravoltas e o final são mais marcantes do que o restante da história. E isso pode nos levar a julgamentos equivocados.
"A memória negligencia a duração [dos eventos], e isso não colabora com nossa preferência por prazeres prolongados e dores curtas", diz Daniel Kahneman em seu novo livro, Thinking, Fast and Slow ("Pensando, Rápido e Devagar", ainda sem tradução para o português). Numa experiência coordenada por Kahneman, voluntários colocaram uma das mãos em um recipiente com água bem gelada. Com a outra mão, os participantes utilizavam um teclado para digitar a intensidade da dor. Cada voluntário mergulhou a mão duas vezes. Na primeira, ficaram 1 minuto com a mão submersa na água a 14 ºC. Na segunda, a temperatura era a mesma - mas era preciso suportar 30 segundos a mais. Só que nessa segunda vez Kahneman aplicou um truque. Nos últimos 30 segundos de sofrimento, ele injetou um pouquinho de água morna na vasilha. Era muito pouco, o suficiente para elevar a temperatura em apenas 1 grau. Uma mudança praticamente imperceptível, que não aliviava nada o sofrimento dos voluntários. Era um truque para mostrar como a memória engana as pessoas e pode fazê-las tomar decisões irracionais. Deu certo: 80% dos voluntários disseram que, se fossem obrigados a repetir a experiência, prefeririam o mergulho longo, que os faria sofrer por mais tempo. Por que escolher o mergulho que dura mais? Se fôssemos totalmente racionais, escolheríamos o sofrimento mais curto. As pessoas foram iludidas pela água morna - que dominou as memórias delas, simplesmente porque veio por último. "O estudo das mãos geladas mostra que não podemos confiar totalmente nas nossas escolhas. Preferências e decisões são moldadas pelas memórias, e as memórias podem estar erradas", acredita Kahneman.
Agora transponha essa ideia para a sua vida. Imagine que, no final das suas férias, todas as fotos e os vídeos que você gravou serão apagados e você vai tomar uma poção mágica que vai apagar todas as memórias da viagem. Seria horrível. As memórias das férias são tão importantes quanto as férias em si. A foto e a possibilidade de compartilhar a viagem com familiares e amigos são partes fundamentais da própria viagem. E isso leva ao primeiro segredo para influenciar a memória: buscar experiências que rendam muitas lembranças - mesmo que elas não sejam necessariamente o que você mais deseja fazer.

A emoção da memória
Pegue as fotos do seu aniversário. Você provavelmente se lembra de quem esteve nele, o que foi servido, as conversas com os amigos. Também se lembra de onde estava, e o que estava fazendo, quando os aviões atingiram o World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Mas você se recorda do dia 10 de setembro de 2001? Aposto que não. E isso acontece porque a sua memória não foi desenvolvida para guardar tudo. "Temos a tendência de nos lembrarmos melhor de coisas que têm colorido emocional", explica a pesquisadora Lilian Stein, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em memória emocional. A memória privilegia os momentos em que vivemos as emoções mais fortes. É um recurso evolutivo. Na natureza selvagem, fazia sentido preservar em detalhes os episódios em que fomos ameaçados por predadores. Isso nos ajudava a aprender com a experiência. Um experimento realizado pelos pesquisadores Daniel Reisberg, Friderike Heuer, John McLean e Mark O¿Shaughnessy provou que as situações de medo são as mais gravadas na memória - numa escala de 0 a 1, obtiveram pontuação de 0,9, praticamente empatadas com as situações tristes (0,89) e com vantagem sobre os momentos alegres (0,71). Em outro estudo feito por 3 universidades americanas, cientistas exibiram um vídeo com cenas de violência a dois grupos de estudantes. Os pesquisadores fizeram duas edições diferentes do filme, ambas com 1min33s de duração. A única diferença era o meio da história. Uma das edições continha uma cena de assassinato e a outra não. O grupo que assistiu à versão violenta se lembrou de muito mais detalhes do vídeo. Conclusão dos cientistas: os episódios dramáticos da vida geram memórias fortes.

É por isso que ficamos entediados com as obrigações do dia a dia: a rotina não produz sentimentos intensos. A memória é refém dos picos de emoção, como frustrações ocorridas no trabalho e finais de semana alegres. Por isso, para ser feliz, evite a todo custo situações que possam gerar memórias negativas (como um emprego ruim), mesmo que elas também prometam alguma recompensa (salário alto). O contracheque gordo tende a virar rotina depois de um certo tempo, mas as frustrações ficam marcadas na memória.
Nas férias também é assim. É muito melhor fazer duas viagens de 15 dias do que apenas uma de 30 dias. Isso porque as 2 viagens irão gerar mais lembranças diferentes (o que alimenta positivamente a memória). E você estará evitando a rotina - uma sensação inevitável de passar 30 dias no mesmo lugar.

Não confie demais nas próprias memórias. O simples ato de se lembrar de uma coisa é o suficiente para distorcê-la. Outro estudo, feito pelos pesquisadores Ulric Neisser e Nicole Harsch, entrevistou pessoas dias após o acidente com o ônibus espacial Challenger, que explodiu durante seu lançamento em 1986. A pergunta era: onde você estava quando soube da explosão do Challenger? Quase 3 anos depois, os cientistas voltaram a falar com os voluntários e descobriram que as informações haviam sido radicalmente alteradas na memória deles (em alguns casos, com lembranças totalmente opostas). Apesar disso, os entrevistados mantinham total convicção e relatavam minuciosamente os detalhes, como se o acidente tivesse ocorrido no dia anterior - mesmo que tudo aquilo não passasse de memórias falsas.
Isso tem uma explicação neurológica. As memórias são armazenadas na forma de conexões semipermanentes entre neurônios. Quando você se lembra de alguma coisa, essas conexões se tornam instáveis e quimicamente sujeitas a modificações e distorções. A cada vez que você acessa uma memória, ela pode ser alterada. É possível reprogramar lembranças ruins. "Quando utilizamos as nossas memórias, a informação fica suscetível a mudanças, durante um tempo que pode durar horas", diz o cientista Martín Cammarota, da PUC-RS. E essa maleabilidade é importantíssima. Imagine um homem pré-histórico que precisa atravessar um rio para buscar comida. Na primeira vez em que tentou cruzar as águas, viu que o rio era muito fundo, desistiu e registrou em sua memória que o rio não podia ser atravessado. Meses depois, viu outra pessoa tentando - e conseguindo - atravessar o rio em outro ponto. Se as memórias fossem imutáveis, essa informação não entraria na cabeça do primeiro homem - que continuaria achando o rio algo intransponível. As memórias ficam instáveis quando as acessamos justamente para permitir que novas informações sejam agregadas a elas. Se a memória humana fosse 100% imutável, ninguém conseguiria aprender nada.

Vamos aplicar esse conceito na sua vida. Talvez você já tenha passado por um emprego difícil. Logo depois de pedir demissão, fica com uma memória ruim do tempo que passou nesse trabalho. Chefe carrasco, colegas cruéis, salário baixo, tudo isso vem à mente quando você recorda esse período ruim. Mas aí você consegue um emprego melhor e, tempos depois, o antigo trabalho ganha nova interpretação. Você passa a achar que o período foi importante para amadurecer, que aprendeu muita coisa no emprego antigo. E vive mais feliz. Esse tipo de alteração acontece naturalmente, mas também pode ser induzida ou controlada. Pesquisadores da Universidade de Montreal e da Universidade Johns Hopkins estão desenvolvendo drogas que poderão ser capazes de apagar memórias negativas da cabeça de uma pessoa. O objetivo é tratar ex-combatentes de guerra. Mas é possível que, em algum ponto do futuro, essas substâncias estejam disponíveis para qualquer pessoa.
Enquanto os remédios desenhados para atuar na memória não chegam às farmácias, você pode utilizar outras técnicas para lidar melhor com suas recordações. A readaptação de memórias é um processo natural que acontece a todo momento sem que você perceba. Não temos total controle sobre esse mecanismo nem os cientistas estão convictos do nosso poder sobre ele. Mas existem dois campos da ciência que comprovadamente podem ajudar a controlá-lo: a Psicologia Positiva e as terapias cognitivo-comportamentais. Lembra-se daquele exemplo do emprego ruim? Você só conseguiu ter um novo olhar sobre o passado porque encontrou um trabalho melhor. Dependemos de uma vida feliz no presente para conviver melhor com os acontecimentos do passado e para produzir boas lembranças das coisas que estamos vivendo agora. Mas não serve qualquer tipo de felicidade. É preciso buscar um tipo específico de felicidade, que dribla as limitações da memória humana. O truque é provocar variações no cotidiano, o que fará com que ele se enquadre na categoria de eventos "diferentes" e acabe gravado na memória. "Os hábitos são uma grande oportunidade, porque podemos mudá-los", diz James Pawelski, da Associação Internacional de Psicologia Positiva.

Faça coisas diferentes. Se você janta fora toda sexta-feira, por exemplo, passe a frequentar restaurantes diferentes. Nada garante que você vá gostar deles, mas o sabor de novidade é ótimo para a formação de memórias. Na pior das hipóteses, a variação fará com que o restaurante de sempre volte a ter graça. "Se você está acostumado a comer caviar, daqui a pouco vai querer um caviar mais sofisticado para sentir prazer. Mas, se ficar um tempão sem comer caviar, qualquer caviar será bom", explica Ricardo Wainer, professor da PUC-RS e especialista em terapia cognitivo-comportamental. O mesmo vale para viagens, exercícios e praticamente todos os hábitos do dia a dia.

A felicidade diferente
Também é fundamental ter objetivos. Onde você quer estar daqui a 1 ano? Ter metas é importante porque influencia o presente - e, como o presente só dura 3 segundos (lembra?), a memória. Imagine um velho empresário bem-sucedido relembrando os primeiros anos do seu negócio. Ele vai lhe contar das dificuldades e dos sacrifícios com entusiasmo e provavelmente vai encerrar com uma expressão do tipo: "Bons tempos". Na memória dele, a fase de construção do novo negócio foi arquivada com cores alegres porque ele tinha uma meta, enxergava sentido no sacrifício. Trabalhar 18 horas por dia, se alimentar mal, operar com as contas no vermelho, lidar com problemas o dia inteiro: atividades que queremos evitar ao máximo e que costumam ser arquivadas como eventos ruins. Mas, quando associadas a um objetivo de vida, pulam para o grupo das memórias positivas.

O segundo caminho é encontrar alguma coisa de que você goste muito, mas muito mesmo. Você já deve ter feito alguma atividade na vida em que pensou "Puxa, eu poderia passar a vida inteira fazendo isso". Essa sensação de parar o tempo tem uma importância maior do que parece. Músicos passam horas em concentração profunda aprendendo um trecho complicado de uma música. Para quem toca um instrumento e não sente a sensação de parar o tempo, destrinchar compassos difíceis pode ser uma tortura e vira motivo para abandonar o violão ou o piano. Afinal, você tem uma memória negativa dessa tarefa.
Mas quem sente uma concentração absoluta, quem não vê o tempo passar diante de uma atividade complicada (e agradável), vai querer repetir a experiência, e as 5 ou 6 horas sentado na mesma posição repetindo uma melodia à exaustão se tornarão uma memória positiva. E a coisa vai além.
Segundo Martin Seligman, psicólogo da Universidade da Pensilvânia, pessoas felizes costumam relatar a necessidade de repetir com frequência a experiência de "parar o tempo", um conceito conhecido como "fluxo". "Você se sente totalmente em casa", explica Seligman em um artigo do livro The Mind ("A Mente", sem tradução para o português). "O que você tira disso não é a propensão de rir bastante. O que você atinge é um fluxo, e, quanto mais você investe nas suas maiores forças, maior o fluxo que você atinge na sua vida", completa. É como se os benefícios dessas experiências prazerosas irrigassem satisfação para outras áreas da vida, criando condições para que você estabeleça um fluxo positivo para produzir memórias mais interessantes sobre o presente e para reinterpretar recordações do passado. Um emprego ou uma aula chata podem se tornar suportáveis se você consegue parar o tempo quando chega em casa, fazendo uma coisa de que gosta muito. Alguns sortudos conseguem atingir esse nível de concentração e prazer no próprio trabalho, outros em hobbies como a música, a jardinagem e as tarefas manuais. Seja qual for a sua escolha, boas memórias dependem do contato com essa fluidez. Quando sentimos a felicidade acontecendo no presente, e não somente no passado.

Memórias incríveis
Transformar o ordinário em extraordinário. Essa é a chave para criar mais lembranças boas

Drible o esquecimento -
A memória não registra o que acontece na maior parte do tempo. Ela grava os momentos de maior emoção e/ou que acontecem no final de uma experiência (férias, por exemplo). Para o cérebro, um instante de alegria pura vale mais do que uma semana de bem-estar moderado, cujos detalhes fatalmente acabarão descartados pela memória e não ajudarão você a se sentir feliz no futuro. Por isso, é fundamental criar o máximo de momentos bons - e registrá-los da forma mais detalhada possível.

Multiplique por 2 -
Divida as férias em 2 períodos de 15 dias e visite 2 lugares diferentes, pois assim você produzirá 2 conjuntos de memórias prazerosas.

Cuide dos finais -
Nosso cérebro foi programado para perpetuar os desfechos. Lembre-se disso e deixe bons momentos reservados para o final de cada episódio da vida, seja uma viagem de férias, seja uma festa com os amigos. Ir embora antes que a animação da festa caia é uma boa ideia para registrar uma memória feliz daquele momento.



Memórias esquecíveis
Coisas ruins acontecem. Com todo mundo. Mas você pode se livrar delas

Reinterprete o passado -
Lembranças ruins são fortes, mas elas podem ganhar um novo significado com o passar do tempo. A ciência já provou que as memórias passam por um período de instabilidade sempre que você se recorda de alguma coisa. Isso significa que elas estão sujeitas a ganhar novas informações - e, sim, serem alteradas. É possível reinterpretar lembranças negativas. Basta que você passe por alguma situação feliz - ela cria um novo contexto, que permite transformar as memórias ruins.

Evite o que é ruim -
Não adianta encarar uma rotina infeliz em troca de compensação social ou financeira. A alegria que você sente nos seus momentos de lazer dificilmente irá compensar a infelicidade que reina na maior parte do tempo.

Repense as experiências -
Se você passou anos num emprego horrível, mas agora está num lugar melhor, lembre-se de que aquele sofrimento ajudou você a crescer, foi fundamental para forçá-lo a buscar algo novo. Uma memória ruim se transforma em algo bom.

Memória felizes
Mude a sua rotina - e assim construa um novo presente, um novo passado e um novo futuro

Produza lembranças melhores -
Um estudo da Universidade de Michigan mostrou que voluntários melhoravam a avaliação de suas vidas quando encontravam uma moeda perdida (que havia sido plantada secretamente pelos pesquisadores). O inesperado é uma arma poderosa para produzir boas lembranças e para quebrar a rotina. A chave é buscar um cotidiano rico em novidades - mesmo que à primeira vista elas não pareçam grande coisa.

Persiga o diferente -
Faça coisas novas. Por exemplo: comer coisas de que você não gosta. Isso irá criar memórias fortes - mesmo se você não gostar do sabor do jiló, a experiência (e a lembrança dela) fará o arroz com feijão parecer mais saboroso.

Faça o tempo parar -
Encontre alguma coisa de que você gosta muito, mas muito mesmo de fazer, o suficiente para esquecer o tempo que passou fazendo aquilo. Esse tipo de atividade gera um tipo diferente de bem-estar, extremamente positivo - e poderoso -, que vai produzir um contexto de vida mais feliz. Isso permite que você reavalie suas memórias com tonalidades mais alegres.

por Alexandre de Santi

Para saber mais
Thinking, Fast and Slow
Daniel Kahneman, Farrar, Straus and Giroux, 2011
Florescer
Martin Seligman, Editora Objetiva, 2011
The Mind
Vários autores (editado por John Brockman), Harper Perennial, 2011
Memory and Emotion
Vários autores (editado por Daniel Reisberg e Paula Hertel), Oxford University Press, 2003

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CONSELHOS QUE SEMPRE DÃO ERRADO: Extravasar a raiva faz bem

 Extravasar a raiva faz bem.

A explosão dos livros de autoajuda tornou a psicologia tão popular que, agora, muita gente acha que entende e vive dando pitaco na vida alheia. Por isso, um monte de conceitos errados de psicologia estão sendo espalhados por aí disfarçados de conselhos bem-intencionados. 
Conheça alguns deles.


Grite num travesseiro, xingue alto, parta para cima de um saco de pancada. Você provavelmente ouviu a vida inteira que isso funciona para fazer a pessoa liberar o estresse e se sentir melhor. Afinal, quem engole sapo e guarda a raiva para si, um dia vai explodir e não vai ser legal. Mas não é bem assim. Brad Bushman, um psicólogo da Universidade de Iowa, colocou essa ideia à prova e descobriu que extravasar a raiva é “o pior conselho que você pode dar” a alguém.



Em um teste, Bushman provocou a irritação de um grupo de 600 estudantes universitários ao fazer comentários desagradáveis ​​sobre textos que eles haviam escrito. Depois, ele os dividiu em grupos: um descontou a raiva em um saco de pancadas e outro foi se distrair fazendo outras atividades. No fim, o grupo que usou o saco de pancadas estava mais bravo e agressivo do que o outro. Segundo o psicólogo, liberar a gressividade “é como usar gasolina para apagar um fogo – isso só alimenta as chamas”. Ao extravasar os sentimentos negativos, a pessoa estaria estimulando uma rede de emoções, pensamentos, sentimentos e ações motoras agressivas, o que não ajuda a acalmar os ânimos. Bushman diz que, às vezes, explodir de raiva pode até fazer você se sentir um pouco aliviado na hora, mas o efeito não dura muito e você só vai fortalecer seus impulsos agressivos.
Um estudo mais recente feito com estudantes perfeccionistas da Universidade de Kent, na Inglaterra, foi nessa mesma direção. Os pesquisadores pediram aos 149 voluntários que fizessem um diário de suas atividades por 3 a 14 dias, relatando suas falhas mais incômodas nesse período, as estratégias que usaram para lidar com o fracasso e como eles se sentiram no final do dia.

Os que tentaram lidar com o estresse desabafando com amigos, extravasando a frustração, sentindo-se culpados ou tentando negar o fato que os incomodava acabaram se sentindo pior do que antes. Assim, o estudo não só derrubou o mito de que extravasar a raiva faz bem, mas também mostrou que nem sempre conversar com um amigo é o melhor modo de se sentir melhor a respeito de um problema.

A estratégia que se mostrou mais eficaz foi se esforçar em ver o lado positivo da situação e desviar a atenção da raiva e da frustração. Assistir a uma comédia ou ler um livro legal também funciona. Atividades físicas podem ajudar, desde que não sejam agressivas – segundo a pesquisa de Brad Bushman, mesmo que a pessoa não esteja pensando no que a irritou, jogar uma partida de rúgbi logo depois de passar raiva pode piorar o seu estado.
P/Ana Carolina Prado 

PABLO NERUDA - A Noite na Ilha

A NOITE NA ILHA

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora – pão,
vinho, amor e cólera – te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

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LYA LUFT - A Dama que palita os dentes

" Quando eu menos esperava, alguém disse ao meu lado: "Por que você não escreve sobre a morte?".
(...)
Pois, como escrevi e disse várias vezes, somos uma sociedade agitada, mas sem muita alegria.
Muita gritaria, pouca comunicação. Muita exibição de sensualidade, tantas vezes artificial e forçada, mas pouco amor.
Muito palavrório, pouca realização.
Muitas receitas sobre como educar os filhos, por exemplo, e a meninada tantas vezes sem compustura ( e nós?, e nós?), cheia de exigências, quando deveria era reclamar por estudo melhor, mais rigoroso, mais exigente, melhores professores, mais bem pagos e mais exigidos também. Mas queremos tudo simples e simplificado, queremos logo um bom emprego, de preferência de chefe, claro, quem quer ter de subir no emprego, quem quer ter de subir na vida?
A gente quer estar logo no topo, ganhando bem, e nada de supervisor espiando por cima do ombro para ver se estamos trabalhando no computador ou entrando no face, no twitter, na pornô.
A gente não quer saber de nada sério, morte é coisa de velho,porém, como dizia a Clarice, a Lispector, " um dia, tinha se passado vinte anos."
Um dia terão se passado quarenta anos, cinquenta, e a gente não vai nem saber que viveu,porque viveu,como continua vivendo.
" Desperdício" é uma das palavras que mais detesto na nossa língua e na nossa realidade. Desperdício de comida e dinheiro, de esforço, e de vida.
Desperdício dos afetos, quando enganamos ou traímos. Quando somos irresponsáveis feito adolescentes eternos, e não acho graça nenhuma nisso. Atitudes de criança e de adolescente são toleráveis ou até graciosas na idade devida. Depois ficam chatas, depois ficam inconvenientes, ficam burras.

Quando penso na morte, não é só como a sombra da separação, mas como esse enigma que nos espia no fundo de um espelho onde, se sorrimos, nosso reflexo pode não sorrir - e aí o que a gente faz? Aí a gente se arrepende das besteiras, das bobagens, não daquelas naturais, normais - porque não somos perfeitos, que os deuses nos livrem das pessoas exemplares - mas da grande bobagem de ter vivido sem perceber, sem curtir.
Não a curtição da bebida, da droga, da promiscuidade, mas da coisa profunda e gostosa dos bons afetos, da maravilhosa natureza. Dos trabalhos humanos que nos fizeram chegar das cavernas dos trogloditas até a mais apurada tecnologia que nos permite ver e ouvir pessoas amadas a milhares de quilômetros de distância, conhecer culturas, entender gentes, apreciar a arte, percorrer a natureza a mais remota, sem sair da mesa do computador.
O olhar da velha dama à espreita com seus olhos de gato, palitando os dentes como se não tivesse pressa, pode nos levar a mudar um pouco o mundo,sendo interessados, descentes, compassivos, leais. Isto é o que, talvez, a ideia eventual do efêmero de tudo pode nos trazer, sem drama: a consciência do nosso valor, da nossa capacidade, da nossa importância. "

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ARNALDO JABOR - Evite ser traído

Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o “nível” intelectual, cultural e, principalmente, “liberal” de sua mulher, namorada etc.
As vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traído – ou nos termos usuais – “corneado”. Saiba de uma coisa…
Esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça – ou então – assumir seu “chifre” em alto e bom som. Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso. Entretanto, a aflição masculina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.
Mas o que seria uma “mulher moderna”? A principio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é independente sentimentalmente dos outros, que é corajosa, companheira, confidente, amante…
É aquela que as vezes tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma em admitir que está errada e correr pros seus
braços… É aquela que consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, arrumada e linda… Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer… Assim, após um processo “investigatório” junto a essas “mulheres modernas” pude constatar o pior.
VOCÊ SERÁ (OU É???) “corno”, ao menos que:
- Nunca deixe uma “mulher moderna” insegura. Antigamente elas choravam. Hoje, elas simplesmente traem, sem dó nem piedade.
- Não ache que ela tem poderes “adivinhatórios”. Ela tem de saber da sua boca – o quanto você gosta dela. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima.
- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar futebol…) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de “chifrudo”. As “mulheres modernas” dificilmente andam implicando com isso, entretanto elas são categoricamente “cheias de amor pra dar” e precisam da “presença masculina”. Se não for a sua meu amigo…Bem…
- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra aquele ex bom de cama é grandessíssimo.
- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfaze-la. As “mulheres modernas” têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos, elas pensam – e querem – fazer sexo TODOS OS DIAS (pasmem, mas é a pura verdade)… Bom, nem precisa dizer que se não for com você…
- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba isso. Garanhões mau (ou bem) intencionados sempre existem, e estes quando querem são peritos em levar uma mulher às nuvens. Então, leve-a você, afinal, ela é sua ou não é????
- Nem pense em provocar “ciuminhos” vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres.
- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindo
com outra. Essa mera suposição da parte delas dá ensejo ao um “chifre” tão estrondoso que quando você acordar, meu amigo, já existirá alguém MUITO MAIS “comedor” do que você…só que o prato principal, bem…dessa vez é a SUA mulher.
- Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora. Bem… de repente a recíproca também pode ser verdadeira.
Basta ela, só por um segundo, achar que você merece…Quando você reparar… já foi.
- Tente estar menos “cansado”. A “mulher moderna” também trabalhou o dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para – como diziam os homens de antigamente – “dar uma”, para depois, virar do lado e simplesmente dormir.
- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando em “baladas”, “se pegando” em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dela gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A “mulher moderna” não pode sentir falta dessas isas…senão…
Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão “quem não dá assistência, abre concorrência e perde a preferência”. Deste modo, se você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas “mancadas”… proteja-a, ame-a, e, principalmente, faça-a saber disso. Ela vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquele `bonitão´ que vive enchendo-a de olhares… e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!!!”



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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

RUBEM BRAGA - Um braço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que "nós não podemos descer!". O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora.
Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar, mas acabei achando que era melhor que o fizesse. Ela precisava fazer alguma coisa, e a única providência que aparentemente podia tomar naquele momento de medo era se abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e ficou muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais vento, adquirisse maior eficiência na sua luta contra a morte.
Gastei cerca de meia hora com a aflição daquela senhora. Notando que uma sua amiga estava em outra poltrona, ofereci-me para trocar de lugar, e ela aceitou. Mas esperei inutilmente que recolhesse as pernas para que eu pudesse sair de meu lugar junto à janela; acabou confessando que assim mesmo estava bem, e preferia ter um homem — "o senhor" — ao lado. Isto lisonjeou meu orgulho de cavalheiro: senti-me útil e responsável. Era por estar ali eu, um homem, que aquele avião não ousava cair. Havia certamente piloto e co-piloto e vários homens no avião. Mas eu era o homem ao lado, o homem visível, próximo, que ela podia tocar. E era nisso que ela confiava: nesse ser de casimira grossa, de gravata, de bigode, a cujo braço acabou se agarrando. Não era o meu braço que apertava, mas um braço de homem, ser de misteriosos atributos de força e proteção.
Chamei a aeromoça, que tentou acalmar a senhora com biscoitos, chicles, cafezinho, palavras de conforto, mão no ombro, algodão nos ouvidos, e uma voz suave e firme que às vezes continha uma leve repreensão e às vezes se entremeava de um sorriso que sem dúvida faz parte do regulamento da aeronáutica civil, o chamado sorriso para ocasiões de teto baixo.
Mas de que vale uma aeromoça? Ela não é muito convincente; é uma funcionária. A senhora evidentemente a considerava uma espécie de cúmplice do avião e da empresa e no fundo (pelo ressentimento com que reagia às suas palavras) responsável por aquele nevoeiro perigoso. A moça em uniforme estava sem dúvida lhe escondendo a verdade e dizendo palavras hipócritas para que ela se deixasse matar sem reagir.
A única pessoa de confiança era evidentemente eu: e aquela senhora, que no aeroporto tinha certo ar desdenhoso e solene, disse suas malcriações para a aeromoça e se agarrou definitivamente a mim. Animei-me então a pôr a minha mão direita sobre a sua mão, que me apertava o braço. Esse gesto de carinho protetor teve um efeito completo: ela deu um profundo suspiro de alívio, cerrou os olhos, pendeu a cabeça ligeiramente para o meu lado e ficou imóvel, quieta. Era claro que a minha mão a protegia contra tudo e contra todos, estava como adormecida.
O avião continuava a rodar monotonamente dentro de uma nuvem escura; quando ele dava um salto mais brusco, eu fornecia à pobre senhora uma garantia suplementar apertando ligeiramente a minha mão sobre a sua: isto sem dúvida lhe fazia bem.
Voltei a olhar tristemente pela vidraça; via a asa direita, um pouco levantada, no meio do nevoeiro. Como a senhora não me desse mais trabalho, e o tempo fosse passando, recomecei a pensar em mim mesmo, triste e fraco assunto.
E de repente me veio a idéia de que na verdade não podíamos ficar eternamente com aquele motor roncando no meio do nevoeiro - e de que eu podia morrer.
Estávamos há muito tempo sobre São Paulo. Talvez chovesse lá embaixo; de qualquer modo a grande cidade, invisível e tão próxima, vivia sua vida indiferente àquele ridículo grupo de homens e mulheres presos dentro de um avião, ali no alto. Pensei em São Paulo e no rapaz de vinte anos que chegou com trinta mil-réis no bolso uma noite e saiu andando pelo antigo viaduto do Chá, sem conhecer uma só pessoa na cidade estranha. Nem aquele velho viaduto existe mais, e o aventuroso rapaz de vinte anos, calado e lírico, é um triste senhor que olha o nevoeiro e pensa na morte.
Outras lembranças me vieram, e me ocorreu que na hora da morte, segundo dizem, a gente se lembra de uma porção de coisas antigas, doces ou tristes. Mas a visão monótona daquela asa no meio da nuvem me dava um torpor, e não pensei mais nada. Era como se o mundo atrás daquele nevoeiro não existisse mais, e por isto pouco me importava morrer. Talvez fosse até bom sentir um choque brutal e tudo se acabar. A morte devia ser aquilo mesmo, um nevoeiro imenso, sem cor, sem forma, para sempre.
Senti prazer em pensar que agora não haveria mais nada, que não seria mais preciso sentir, nem reagir, nem providenciar, nem me torturar; que todas as coisas e criaturas que tinham poder sobre mim e mandavam na minha alegria ou na minha aflição haviam-se apagado e dissolvido naquele mundo de nevoeiro.
A senhora sobressaltou-se de repente e muito aflita começou a me fazer perguntas. O avião estava descendo mais e mais e entretanto não se conseguia enxergar coisa alguma. O motor parecia estar com um som diferente: podia ser aquele o último e desesperado tredo ronco do minuto antes de morrer arrebentado e retorcido. A senhora estendeu o braço direito, segurando 0 encosto da poltrona da frente, e então me dei conta de que aquela mulher de cara um pouco magra e dura tinha um belo braço, harmonioso e musculado.
Fiquei a olhá-lo devagar, desde o ombro forte e suave até as mãos de dedos longos. E me veio uma saudade extraordinária da terra, da beleza humana, da empolgante e longa tonteira do amor. Eu não queria mais morrer, e a idéia da morte me pareceu tão errada, tão feia, tão absurda, que me sobressaltei. A morte era uma coisa cinzenta, escura, sem a graça, sem a delicadeza e o calor, a força macia de um braço ou de uma coxa, a suave irradiação da pele de um corpo de mulher moça.
Mãos, cabelos, corpo, músculos, seios, extraordinário milagre de coisas suaves e sensíveis, tépidas, feitas para serem infinitamente amadas. Toda a fascinação da vida me golpeou, uma tão profunda delícia e gosto de viver uma tão ardente e comovida saudade, que retesei os músculos do corpo, estiquei as pernas, senti um leve ardor nos olhos. Não devia morrer! Aquele meu torpor de segundos atrás pareceu-me de súbito uma coisa doentia, viciosa, e ergui a cabeça, olhei em volta, para os outros passageiros, como se me dispusesse afinal a tomar alguma providência.
Meu gesto pareceu inquietar a senhora. Mas olhando novamente para a vidraça adivinhei casas, um quadrado verde, um pedaço de terra avermelhada, através de um véu de neblina mais rala. Foi uma visão rápida, logo perdida no nevoeiro denso, mas me deu uma certeza profunda de que estávamos salvos porque a terra existia, não era um sonho distante, o mundo não era apenas nevoeiro e havia realmente tudo o que há, casas, árvores, pessoas, chão, o bom chão sólido, imóvel, onde se pode deitar, onde se pode dormir seguro e em todo o sossego, onde um homem pode premer o corpo de uma mulher para amá-la com força, com toda sua fúria de prazer e todos os seus sentidos, com apoio no mundo.
No aeroporto, quando esperava a bagagem, vi de perto a minha vizinha de poltrona. Estava com um senhor de óculos, que, com um talão de despacho na mão, pedia que lhe entregassem a maleta. Ela disse alguma coisa a esse homem, e ele se aproximou de mim com um olhar inquiridor que tentava ser cordial. Estivera muito tempo esperando; a princípio disseram que o avião ia descer logo, era questão de ficar livre a pista; depois alguém anunciara que todos os aviões tinham recebido ordem de pousar em Campinas ou em outro campo; e imaginava quanto incômodo me dera sua senhora, sempre muito nervosa. "Ora, não senhor." Ele se despediu sem me estender a mão, como se, com aqueles agradecimentos, que fora constrangido pelas circunstâncias a fazer, acabasse de cumprir uma formalidade desagradável com relação a um estranho - que devia permanecer um estranho.
Um estranho — e de certo ponto de vista um intruso, foi assim que me senti perante aquele homem de cara desagradável. Tive a impressão de que de certo modo o traíra, e de que ele o sentia.
Quando se retiravam, a senhora me deu um pequeno sorriso. Tenho uma tendência romântica a imaginar coisas, e imaginei que ela teve o cuidado de me sorrir quando o homem não podia notá-lo, um sorriso sem o visto marital, vagamente cúmplice. Certamente nunca mais a verei, nem o espero. Mas o seu belo braço foi um instante para mim a própria imagem da vida, e não o esquecerei depressa.


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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - A Famosa Samanta

Quer dizer que eu finalmente vou conhecer a famosa Samanta... ― disse Gustavo.
― Você vai amar a Samanta, Gu! ― disse Suzaninha.
Suzaninha não parara de sorrir desde que recebera o telefonema da irmã dizendo que chegaria no dia seguinte e ficaria com eles. Samanta não era apenas sua irmã mais velha. Era o seu ídolo. Gustavo já cansara de ouvir as histórias da Samanta que Suzaninha contava com os olhos brilhando. Samanta fumando na mesa para desafiar o pai, e apagando o cigarro no pudim para escandalizar a mãe. Samanta namorando três ao mesmo tempo e tratando os namorados como empregados ("Homem só serve para carregar peso" era uma das suas frases). Samanta não apenas aderindo a todas as causas nobres como assumindo a liderança do movimento. Samanta mandando em todos à sua volta, e sempre conseguindo o que queria. Samanta brilhante. Samanta fantástica. Samanta irresistível.Gustavo não estava em casa quando Samanta chegou. Suzaninha abraçou a irmã, emocionada, mas Samanta a afastou, examinou seu rosto e sua roupa e decretou:
― Você está péssima.
― Você está linda!
― Esse seu marido não cuida de você, não? 
― Cuida. Ele é formidável. Você vai ver.
E depois:
― Você vai amar o Gustavo, Sam!
Samanta dormiria numa cama de armar na salinha do computador do Gustavo, que desocupara uma das suas estantes para a cunhada pôr suas coisas. Depois de examinar todo o apartamento com uma leve expressão de nojo ("Pequeno, não é?"), Samanta se atirara numa poltrona, aceitara uma bebida ("Coca daiti com uma rodela de limão e pouco gelo") e passara a fazer um relatório de casa, onde, para resumir, continuava tudo a mesma merda, inclusive o pai e a mãe. A novidade era ela. 
Samanta tinha um plano.  
― Suzeca, decidi ter um filho.― O quê?!
― Um filho. Você sabe, aquelas coisas que saem de dentro da gente e fazem barulho.
― Mas assim, sem mais nem menos? Suzana queria dizer "sem casamento nem marido?" 
― Sem mais nem menos, não. Será uma coisa muito bem planejada. Para começar, preciso encontrar o homem ideal. É para isso que estou aqui.
― Não era você que dizia que homem só serve para carregar peso? 
― E segurar a porta. Era. Mas reavaliei meus conceitos. Também servem como reprodutores, até que inventem coisa melhor. Segundo Samanta, só os mortos nunca mudavam de filosofia. Samanta pôs-se a descrever o homem que procurava. O físico. O temperamento. O jeito de ser. O posicionamento político ("De esquerda, mas não muito"). E quanto mais Samanta falava, mais Suzaninha tentava controlar o pensamento que a assolava, o vazio no seu estômago que aumentava, a certeza que crescia. Mas não havia como evitar a conclusão aterradora: Samanta procurava um homem como Gustavo. E Samanta sempre conseguia o que queria. Quando finalmente Samanta disse "Mas chega de falar de mim, me conte sobre você, Suzeca. Você sente muito a minha falta?" 
Suzana tinha decidido o que fazer. E quando Samanta comentou que Gustavo estava custando a chegar, que não podia esperar para conhecer o famoso Gustavo, disse:
― Eu me esqueci. Hoje ele tinha médico.
― Médico? Algum problema? 
― Nada demais. Quer dizer, é chato mas...
― Suzeca. Não me diz que...
Suzaninha fez que "sim" com a cabeça. Sim, era o que Samanta estava pensando.
― Disfunção erétil ― Suzeca! Mas hoje existem esses remédios...
― Nada funciona com o Gustavo. 
Quando Gustavo chegou, deu com as duas irmãs abraçadas no sofá, Samanta acariciando a cabeça de Suzaninha e dizendo:
― Suzeca, Suzeca...
Durante o jantar, Suzaninha viu Samanta examinando Gustavo e pensou: "Ela deve estar pensando ele é tudo que eu queria, mas não serve, maldição, não serve, pobre da Suzaninha." E Samanta, examinando Gustavo, pensou "Hmmm, essa disfunção erétil eu curo, ah se não curo". 
Pois Samanta não apenas descobrira o reprodutor que queria, também descobrira outra causa nobre. Suzaninha ainda a agradeceria.
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