quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CLAUDIA PENTEADO - É preciso amar o trabalho para ser feliz?

“Dê a um homem tudo o que ele deseja, e ele, apesar disso, 
naquele mesmo momento, sentirá que esse tudo não é tudo.” (Kant)

Outro dia conversava com uma amiga sobre seu filho de vinte e poucos anos, que dizia-se perplexo com a perspectiva de vir a ser como seus pais: workaholic e estressados. Passamos a conversar, então, sobre as conquistas e frustrações em torno do objetivo de ganhar dinheiro. Afinal, qual é a melhor fórmula? Creio que grande parte das nossas frustrações no plano profissional vêm do fato de que nos iludimos com a ideia de que precisamos fazer algo que amamos no plano profissional. Há uma frase clássica que se costuma dizer: faça aquilo que você ama, e o dinheiro virá. Sinceramente, acho que essa frase leva a equívocos imensos. Passei, como todo mundo, por algumas crises profissionais: afinal, se eu não amar mais o que faço, como seguir em frente? E se eu amar cantar, significa que serei uma boa cantora? E se eu amar escrever, necessariamente serei uma escritora de sucesso?

Minha filha dança balé. Na idade em que ela está – 10 anos – já se percebe o talento para a dança. Ela e suas coleguinhas evoluem ano a ano, mas há algumas que evoluem mais que outras. E, infelizmente, as que evoluem mais não são, necessariamente, as que mais amam dançar balé. Algumas afirmam que serão bailarinas profissionais no futuro, e seus corpinhos desengonçados se esforçam para acompanhar outras que, menos preocupadas com o futuro, têm uma leveza e delicadeza naturais e parece que nasceram para dançar. É claro que aquelas que amam a dança provavelmente se esforçarão mais e, por que não, poderão se tornar excelentes bailarinas no futuro.  Talvez não se tornem a primeira bailarina do Municipal, mas estarão satisfeitas com o que for possível alcançar em suas carreiras, já que amam dançar. Mas o meu ponto é: amar o que se faz não é garantia de sucesso. Ajuda. E para fazer algo bem não é necessário, como regra geral, ter feito aquela escolha por amor.

Em uma das minhas crises ligadas às escolhas profissionais – que fiz, como a maioria, numa época da vida em que ninguém deveria ser autorizado a fazer escolhas tão sérias -, conversei com uma amiga a respeito do seu trabalho. “Mas você ama o que você faz?”, perguntei. E ela, publicitária e autora de três livros de ficção, disse: “Claro que não, o que eu faço é para pagar minhas contas. O que eu amo mesmo é a literatura. Mas escrever não paga as minhas contas”. Sua tranquilidade me surpreendeu, ao não fazer qualquer tipo de associação entre o trabalho e amada literatura.

Conheço biólogos que trabalham como tradutores, historiadores que enveredaram para a publicidade, publicitários que se tornaram psicanalistas, atrizes que dão aula de ioga,  músicos que administram empresas, jornalistas donos de lojas de depilação, passadeiras que queriam ser cantoras, designers que se tornaram estilistas. Muitas vezes o trabalho é aquilo que se gosta de verdade, quando a formação foi uma tentativa de acertar. Outras vezes, o que se estudou era o que se gostava muito, e a atividade que se exerce foi o que as circunstâncias permitiram, ou de onde o dinheiro veio como recompensa por um trabalho bem feito.

O livro “Ame seu trabalho”, do consultor Richard Whiteley, é um guia para quem não ama o que faz, mas ensina que existem atitudes que podem reverter o ciclo e transformar seu trabalho em algo muito próximo do ideal.  Será? “A maioria de nós encontrou o emprego que tem ou o trabalho que realiza por acaso. “, diz. Segundo o consultor, é preciso encontrar o lugar da verdadeira paixão e, de alguma forma, no lugar de querer transformar tudo, inserir a paixão naquilo que se faz, de alguma forma. Impossível certamente não é.   Ele sugere que se tente, na medida do possível, combinar quatro fatores: o que se faz bem, quanto se pode ganhar, o que se pode aprender a o que se adora fazer. Alinhar estes quatro fatores é, no entanto, bem difícil. E não necessariemente duradouro, porque nos modificamos ao longo do tempo.

Para mim, a melhor mensagem está em procurar, no lugar de chutar o balde, agregar algo de novo ao que se faz na tentativa de transformar para melhor, sem ter que jogar tudo fora e recomeçar do zero.

Blaise Pascal – autor da célebre frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece” – costumava defender a existência de três ordens: a do corpo, a do espírito e a da razão. Basicamente, existem assuntos que devem ser tratados dentro de seus limites de entendimento. De uma maneira simplista, equivale a dizer que assuntos relativos a dinheiro, devem deixar de lado sentimentos e ser tratados no plano da razão, dos números, dos contratos. Misturar as ordens é fazer confusão. Isso fortalece minha teoria de que perdemos muito tempo questionando se a vida foi generosa conosco ao nos contemplar com a possibilidade de exercer uma atividade profissional que amamos e ainda por cima rende muito dinheiro. E menos generosa com quem trabalha com algo que não necessariamente seria sua primeira opcão na vida.
 
É importante não perder de vista o fato de que o retorno financeiro não vem apenas para quem ama o que faz. Vem para quem trabalha duro, seriamente, e tem um comprometimento com aquilo que se propôs a fazer. Simples assim.
O dinheiro não virá para um cantor talentoso ou um vendedor de automóveis se ambos não tiverem disciplina e comprometimento. Amar o que se faz ajuda um bocado, claro. Mas não é tudo.  Às vezes é preciso simplesmente parar de idealizar a vida, de reclamar, e arregaçar as mangas. Embora recomeçar seja sempre uma opção possível, claro.

6 FATOS CURIOSOS SOBRE O PRIMEIRO VOO ESPACIAL TRIPULADO

No dia 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin
se tornou a primeira pessoa a se lançar no espaço,
inaugurando a era dos voos espaciais tripulados.

O foguete Vostok 1, que carregava Gagarin, decolou do Cosmódromo de Baikonur às 6h07 hora do local de lançamento, na União Soviética.
Atingindo velocidades sem precedentes para a viagem do homem naquela época, a sonda se soltou da atração gravitacional da Terra e entrou em órbita ao redor do planeta, circulando uma vez antes de reentrar na atmosfera, aterrando em solo soviético.
Aqui estão seis fatos curiosos sobre a missão histórica de Gagarin:

1 – QUANTO TEMPO GAGARIN FICOU LÁ EM CIMA?
A missão total durou apenas 108 minutos (1h48) e a viagem em volta da Terra a 28.150 km/h (na maior parte do tempo) levou menos de uma hora e meia. Durante esse tempo, o Vostok 1 completou uma órbita não muito circular, com uma altitude máxima de 325 km, antes de desacelerar a tal ponto que a cápsula foi puxada de volta para a atmosfera por meio de uma reentrada balística.

2 – QUE TIPO DE NAVE ERA O A VOSTOK 1?
O Vostok 1 era uma cápsula esférica, desenhada para eliminar mudanças no centro de gravidade. Dessa forma, a nave poderia garantir o conforto para a tripulação de um homem só, não importasse sua orientação. Ela não foi projetada, porém, para aterrissar com um ser humano ainda a bordo.
Ao contrário de naves espaciais russas construídas mais tarde, tais como a cápsula moderna Soyuz, o Vostok 1 não foi equipado com propulsores para ajudar na desaceleração na volta à Terra. Por isso, Gagarin teve de se ejetar antes de atingir o solo, a uma altitude de cerca de 6,5 quilômetros.
No entanto, tendo em vista a operação que não teria sido considerada o primeiro sucesso de missão tripulada ao espaço a menos que incluísse um pouso tripulado, os russos mantiveram esse pequeno detalhe escondido da assessoria de imprensa oficial.

3 – O QUE IMPEDIU AS MISSÕES ANTERIORES DE ATINGIR A ÓRBITA?


Em uma palavra: velocidade. A fim de atingir a órbita terrestre na altitude do Vostok 1, uma nave precisa ultrapassar os 28.100 km/h, ou cerca de 8 quilômetros por segundo. Antes da missão Vostok 1, nenhum outro foguete tinha sido poderoso o suficiente para tanto. A cápsula do Vostok em forma de bola de canhão também ajudou o foguete e a nave espacial a alcançar a velocidade necessária.

4 – COMO ELES TESTARAM O VOSTOK ANTES DA MISSÃO DE GAGARIN?
Algumas semanas antes, um protótipo de nave, o Vostok 3KA-2, completou uma órbita baixa na Terra carregando um boneco em tamanho natural chamado Ivan Ivanovich e um cão chamado Zvezdochka. Ivan foi vendido em um leilão em 1993.

5 – QUEM FOI YURI GAGARIN?
Yuri Gagarin era um piloto de 27 anos da Força Aérea soviética quando ele fez sua primeira e única viagem ao espaço. Após seu retorno triunfal, ele instantaneamente se tornou um tesouro nacional, muito valioso para enviar em uma missão tão perigosa novamente.
É uma triste ironia, então, que quando Gagarin foi finalmente escalado para voltar ao cosmos, ele morreu em um acidente durante um exercício de treinamento de rotina. Gagarin continuou a ser um heroi mesmo depois da queda da União Soviética – estátuas dele foram preservados enquanto monumentos construídos para os líderes comunistas da Rússia vieram abaixo.
Os astronautas de hoje em dia ainda seguem uma tradição sagrada do dia de lançamento baseada na preparação para a missão de Gagarin, em 1961. No caminho para a plataforma de lançamento, o ônibus que transporta a equipe para para que os membros possam descer e apreciar o local de onde Gagarin fez história.

6 – RAMPA DE LANÇAMENTO AINDA EM USO
Um legado histórico da exploração espacial de Yuri Gagarin é a rampa de lançamento no Cosmódromo de Baikonur. A plataforma de lançamento continua em uso até hoje: a última tripulação da Estação Espacial Internacional decolou a partir de lá semana passada.
O Cosmódromo de Baikonur é um dos vários locais de lançamento usados pela Agência Espacial Federal da Rússia (também conhecida como Roscosmos), mas não está se localiza em terrirório russo. O local de lançamento fica no Cazaquistão, país que fazia parte da União Soviética durante a Guerra Fria, mas agora é uma nação independente.
Por Bruno Calzavara  [Space.com]

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ARTUR DA TÁVOLA - Perdeu seu amor?


Encontro velha amiga com os olhos fundos. 
Passa pelo luto de uma perda amorosa. Não há palavras que consolem.

Chego em casa, vou ao baú e por coincidência encontro velho texto meu, colocado num caderno enviado há anos por anônima leitora. Ele diz: A mulher que perdeu o seu amor é alguém com óculos de ver eclipse na alma.

Fica com olhar de rinoceronte e olho de cambaxirra. Estranho e doloroso esse ar sofrente de que ficam tocadas todas mulheres que perderam o seu amor. É marca que as acompanha como ruga ou expressão, pelo resto da vida.

Marca irreversível, chaga, cicatriz, verruga espiritual. Podem amar de novo, melhor até. Mas jamais deixará de doer a recordação daquele sentimento tornado impossível e daquela esperança fermentada.

 A mulher que perdeu o seu amor sofre mais do que a que (ainda) não pode viver o seu amor. Esta, vive a dor do que não tem. Aquela, a dor de já não ter. Quem não tem e quem ainda não tem sofrem menos do que quem já não tem. O terrível é que a perda do amor, embora fermente, redunda em abertura de caminho para a aventura do conhecer-se. Embora morta-viva, a mulher que perdeu o seu amor é alguém que vai melhorar depois.

Na dor, ela se descobre, abre a cabeça, os músculos, a concepção de vida. Começa a entender as contradições do sentimento, a ficar mais livre, a punir-se menos, a saber que vale algo.

Passado o luto moral, a fase da fossa, a fossa da fase, o fechado pra balanço, o balanço vem. A ferro e fogo, a amargura e desvario, mas vem. E traz uma visão melhor de si mesma e de tudo o que é e representa. Instila-se um saudável egoísmo e muito mais altruísmo, paradoxalmente.

 A mulher que perdeu o seu amor é um paralítico que sai para a luta e nela se cura. Se o amor era a deliciosa cegueira, a perda dele ensina a ver no escuro, a ler nos solavancos do ônibus da vida, a aprender a lição das greves interiores, a entender que é preciso melhorar, mesmo sabendo que nunca mais vai ser igual.

Mas nada disso posso dizer à minha amiga. Ela terá que aprender sozinha.


LYA LUFT - Em quem confiar

Ando carente de confiança. Andamos, eu acho. Em quem acreditar, em quem confiar, em quem apostar, a quem eleger. por exemplo? Não sei se em outros tempos a gente confiava mais nas pessoas e nas instituições, e detesto saudosismo, mas penso que sim. Porque éramos simplórios? Pode ser. Hoje talvez sejamos mais espertos, criancinhas conhecem mundos, belezas e maldades que a gente só conhecia depois de casado... E olhe lá.

As instituições pareciam sólidas, Judiciário, polícia e política. Lembro-me do chanceler Oswaldo Aranha, que raro jovem hoje saberá quem foi, mas que teve papel importantíssimo no Brasil e no mundo ocidental, amigo de juventude de meu pai, me pegando no colo, em nossa casa, e profetizando, para meu azar: "Você tem olhos lindos, mas precisa se cuidar ou vai ser gordinha". Lembro o aroma de seu charuto, as cores de sua gravata, a voz profunda, o riso bom, e sua naturalidade em nossa casa que estava longe de ser uma mansão.

"Não dá para arrumar tudo. Mas tem de melhorar, para que a gente durma e acorde ao menos com a sensação de que em algumas pessoas e instituições ainda se pode confiar!"

Quando a professora ou professor entrava em sala de aula, a gente se levantava - isso até o fim do 2° grau -, e não faz um século ainda. Hoje batem nas professoras, jogam objetos, falam alto com o colega ou ao celular, se possível, ameaçam ou ridicularizam. Nem todos nem em toda parte, essa ressalva se faça sempre nos meus textos. Mas são coisas que há alguns anos nem passavam pelas nossas fantasias de adolescentes, naturalmente - e necessariamente irreverentes, numa irreverência que hoje deve parecer patetice. A gente era amigo dos filhos do juiz da cidadezinha, e achava o máximo. O pastor de nossa comunidade luterana era recebido em casa com respeito, mesmo que não fôssemos praticantes de religião alguma. Para meu pai, Deus estava em toda parte, na natureza, no outro, em nós mesmos, fator essencial da nossa dignidade, e do sagrado de tudo.

Nossos ídolos eram incrivelmente inocentes em relação a muitos ídolos atuais da meninada. Não acho que a gente curtiria muito alguém supertatuado e furado, e tão drogado que mal consegue se manter em pé, e que requebra para não" cambalear (nem todos, nem sempre). Nossos astros de cinema pareceriam babacas agora, quando, no impulso incoercível de abrir pernas e mostrar tripas (calcinha não têm), a gente troca o público e o privado, e gente famosa, as celebridades, precisa se esconder aterrorizada com a loucura de fãs e paparazzi. Nem no Judiciário a gente confia cegamente, pois a corrupção parece minar tudo no país (fora nem quero saber, bastam-me as mazelas aqui dentro). Andaram sendo demitidos uns poucos ministros, depois de denúncias ainda nem comprovadas, mas tudo parou por aí. Dizem à boca pequena que, se fosse levado a sério e a fundo esse processo todo, restariam pouquíssimos, era caso de botar placas de que o Brasil fora fechado para reformas.

Pais e mães (nem todos, nem sempre) mais parecem adolescentes audazes, ou executivos - ou operários, ou professores, ou médicos, ou seja o que for - exaustos, lutando para manter o essencial na casa, pagar o colégio razoável, ou atender ao deus-consumo, não creio que tenham muito tempo para dar aos filhos carinho, atenção, alegria, autoridade, sem a qual tudo desanda. Fico imaginando quem dará, não só a jovenzinhos e adultos, mas a todos, algum conforto, apoio, exemplo, rumo e prumo: em quem, por exemplo, votar nas próximas eleições, se tantos mudam de partido, se ainda se criam partidos, e se confundem as ideologias - ou elas nem existem mais (ou entendi mal, eu seria apenas uma distraída ficcionista?).

Acho que tudo vai ficando chato e cansativo: esperança de um lado, desgosto de outro, bom modelo aqui, corrupto mandando ali. Não dá para arrumar tudo. Nem rei, nem papa, nem o maior guerreiro do mundo antigo ou do atual mundo virtual, nem o mais hábil dos bruxos divertidos ou sinistros, mudaria a face do país com um golpe de espada ou caneta. Mas que tem de melhorar, ah, isso tem, para que a gente durma e acorde ao menos com a sensação de que, sim, em algumas pessoas, algumas instituições e algumas coisas ainda se pode confiar.

MIGUEL FALABELLA – Mãe

 Tenho recebido mensagens que me encantam.  Os leitores encharcam suas palavras de poesia, de modo que abrir a caixa postal tem sido uma tarefa gratificante, geralmente já de madrugada, quando a cidade está embalada pelos sonhos. Crie um código, fale uma língua e acabam lhe pagando na mesma moeda. Uma irmandade secreta vai se formando nos corações - eu venho aprendendo a lição, nesses meus anos de coluna. Os bandos vão se agrupando, as escolhas vão sendo feitas - a alma escolhe a própria sociedade e depois fecha a porta, já dizia Miss Dickinson, trancada em seu quarto, nos invernos de Amherst.

Tudo isso foi para dizer que eu tenho orgulho de estar reunido a um bando tão talentoso e inspirado! Muito obrigado a todos pelos afetos, palavras, carinhos, amores e esperanças que vocês têm me enviado. Fiquei me banhando no mar de coisa bonita que derramava no meu escritório através das fibras óticas. Muito, muito bom. E quando eu digo bom, não quero dizer elogiosos, mas bem escritos, generosos, poesia do cotidiano, ar renovado, gente que olha para gente – olhares múltiplos sobre um mesmo tema. Os corações urbanos, perdidos no meio do concreto, estabelecendo contato. Gosto muito disso, com certeza.

Estou imprimindo todos e guardando. Desculpem a falta de tempo para responder, mas não acho graça em mandar uma mensagem padrão, porque cada discurso é próprio e tem sua beleza particular. Cada um de nós recebeu sua cota de dons, sejam eles quais forem. Assim sendo, vou tentando driblar o tempo e respondo um aqui, um ali, mas da forma correta.  Indivíduos. Mentes e corações.

O amor, é claro, muda o íntimo de forma irrecuperável. Fiquei numa alegria boa, um sorriso grudado no rosto. Felicidade deveria ser o natural da gente e é bom visitá-la, ainda que de vez em quando. O amor das gentes, que me chegou pela tela do computador, na cadência ritmada da impressora, foi se multiplicando e alterou o meu estado. Por isso, resolvi escrever logo a crônica, que começa agora e que justifica o título:

Tenho sentido saudades de minha mãe, ultimamente. Tenho pensado nela. Tenho nostalgia do perfume daqueles abraços, que foram únicos e inesquecíveis. O braço que pousa sobre o ombro com a graça do amor.

Tenho pensado em mãe, nesses dias que correm. E de saudade em saudade, chego nela, a maior de todas, a bem aventurada Maria, mãe do senhor Jesus - toda a doçura e amor do universo.

Tenho pensado nela, porque um amigo me contou que foi a um suposto encontro religioso e, lá, escutou o seguinte comentário da anfitriã, explicando o seu credo.

- Nossa Senhora não rola!

Enganou-se a mulher. Ela vem rolando pelos céus das nossas consciências desde sempre. Vem rogando por nós e trabalhando pelos nossos corações há tempos imemoriais!

Fiquei triste com o comentário. Fiquei agoniado mesmo, não consegui parar de pensar naquilo, assustado com a violência daquele credo. Estarrecido com o pouco nível de entendimento e o mar de desesperança que há nessas almas. Porque negá-la é negar o amor em toda a sua expressão maior. E eu não procuro outra coisa a não ser entender um pouco o amor dessas gentes.

A história me deixou tão perturbado, que passei o dia falando no assunto, buscando as lembranças dos mantos, dos andores e dos círios nas mãos dos crentes. Revisitei Nova Jerusalém, os olhos intensos de Diva Pacheco, os olhos molhados de Patrícia Pillar com o senhor morto nos braços. Todas as nossas senhoras visitei - as células de amorosa energia que cruzam nossos caminhos, para o alento e o conforto.

Daí, domingo, fui almoçar com Elba Ramalho e ficamos falando dela a tarde toda. Passei o dia com aqueles olhos doces sobre mim, enchendo meu peito de um sentimento sereno, buscando na memória as devoções familiares, as orações cheias de fé, os olhos febris dos êxtases cotidianos.

Nossa Senhora rola muito mais do que podemos supor, muito além desse pequeno conhecimento que amealhamos na passagem. Ela segue nossa trajetória acima das igrejas, templos e seitas.  Voa livre muito acima dos ouros, imagens e poder. Um plano de consciência tão superior que só podemos mesmo respirar fundo e aceitar o fato de que estamos no início da jornada.    

Tudo o que quero é dormir nos braços de Maria. Quero me aninhar no seu peito de amor infinito. Todo o mel do universo, toda a doçura e todo o tempo, que não conseguimos entender, porque primeiro vem o amor, de todas as formas e de qualquer maneira. E, como ainda não conseguimos avançar muito no seu entendimento, explica-se o atraso na viagem.

Quero, enfim, mergulhar nas águas do feminino, nas lágrimas dos teus olhos, na bondade da tua chama. Quero os olhos doces nos meus, maravilhado com a grandeza do perdão, que é outro aprendizado penoso.

Nossa Senhora rola. Roga por nós. Se um filho lhe foi tirado, em troca recebeu todos os filhos da terra. É daquele peito incendiado de amor materno que jorra o sentimento que ainda existe no planeta.

Salve, Rainha!

MANOEL CARLOS - Amizade carioca

Há duas semanas tivemos uma demonstração explícita de bairrismo no encontro habitual do Café Severino, que acabou se transformando numa crônica sobre violência urbana. São Paulo seria mais violenta que o Rio?
Não se chegou a um consenso, mas a discussão, pelo menos, não gerou violência entre nós. Afinal, não estávamos no nosso café para salvar o mundo, o Brasil, uma cidade que fosse, ou mesmo aquele pequeno trecho da Rua Dias Ferreira. Era apenas o encontro habitual entre amigos!
Amigos! Assim, de maneira exclamativa, essa palavra sagrada me traz à memória versos de Camilo Castelo Branco, o escritor português mais conhecido como autor do romance Amor de Perdição. No soneto, Camilo lamenta que, apesar de contar com muitos amigos, foi visitado por apenas um a partir do momento em que ficou cego. E por que essa ausência numa hora tão crucial da sua vida? Os tais amigos justificavam:
“Que vamos nós, diziam, lá fazer? se ele está cego não nos pode ver!”.
Apesar do acento bem-humorado de Camilo, os versos traduzem uma situação dolorosa. Mas voltemos ao Severino. O Fla-Flu (podemos chamar assim?) entre paulistas e cariocas ocupou-se naquela tarde da diferença entre os cidadãos das duas cidades no que toca à manifestação entre as pessoas, que constitui o que chamamos de laços de amizade.
Desta vez foi o Flávio, paulistano que está em visita ao Rio, que proclamou:
— Carioca não é bom amigo, mas apenas boa companhia.
Essa afirmação às vésperas de um bem-vindo verão causou indignação. O Raul, que é um tanto beligerante, reagiu em cima, sem sutileza:
— Para não pular no seu pescoço, vou fingir que não ouvi o que você acaba de dizer.
Flávio não deu trégua:
— Você fala, discorda, sente-se ofendido, enche a boca para dizer que está entre amigos, mas me diga quando é que vocês se visitaram em casa? Quando foi a última vez?
Todos nós trocamos um olhar de incompreensão. Perguntei:
— Não vejo o que tem uma coisa com outra.
— A relação é óbvia — garantiu-me Flávio. — Amigo, amigo verdadeiro, significa também casa, família, presença em festa de aniversário, em enterro, em missa de sétimo dia. Tudo que transpira amor, carinho, solidariedade.
O Raul não se conformava:
— Deixa de ser bobo, rapaz! Nós nos reunimos aqui há muitos anos. Visita doméstica é para as mulheres!
Já viram que o Raul voltava ao seu bairrismo e machismo exibidos na discussão sobre violência de duas semanas atrás. Flávio continuou:
— Amigo de café, de bar, de praia, não é amigo. Pode ser no máximo, repito, uma boa companhia. Em São Paulo as pessoas se visitam, as mulheres dos amigos também se tornam amigas, os filhos de uns e de outros brincam juntos, se relacionam. Tenho certeza de que muitos de vocês nem sequer sabem onde mora cada um desses “grandes” amigos.
— Temos uma visão mais democrática do que seja amizade — garantiu o Raul, meio enfezado.
— Pois a minha visão é radical. Vocês chamam de amigo a quem mal conhecem. Outro dia li uma declaração do escritor inglês E. M. Foster. Ele escreveu: “Nunca tive de escolher entre trair um amigo e trair meu país, mas se isso um dia acontecer, espero ter a coragem de trair meu país!”.
— Deus do céu — exclamei eu —, a declaração é linda e forte. E, literariamente, um luxo.
— Pois é o que eu acho da amizade. Mais importante que a pátria, mais importante que o amor.
E por aí foi a conversa no Café Severino. Depois de nos separarmos na santa paz, fui dirigindo o carro pelo Leblon, familiarizando-me com as obras do metrô. Liguei o rádio e entrou a linda voz de Adriana Calcanhotto cantando a última parte de uma de suas mais inspiradas canções:
“Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexy
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado.”
Pensei: essa gauchinha é danada!
****
Durante o jantar, comentei com a minha mulher:
— O Raul faz aniversário no sábado. O que você acha de a gente ir até lá dar um abraço nele?
— Acho ótimo. Assim fico conhecendo a mulher dele.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

DEEPAK CHOPRA - 10 passos para a Plenitude


1. Reconheça que existe um poder superior no universo, 
maior do que a pequena existência humana

Plenitude
Você se torna mais humilde

2. Aproveite as oportunidades de colocar mais amor no mundo

Plenitude
Você se torna mais amável

3. Reserve alguns minutos do dia para refletir 
ou contemplar algo belo

Plenitude
Você se torna mais forte

4. Seja mais receptivo

Plenitude
Você se torna mais gracioso

5. Perdoe alguém que você não perdoaria

Plenitude
Você se torna mais generoso

6. Reconheça seus erros

Plenitude
Você se torna mais responsável

7. Tente enxergar o lado bom dos outros

Plenitude
Você se torna mais positivo

8. Reflita sobre o seu modo de pensar e de agir

Plenitude
Você se torna mais centrado

9. Abençoe o mundo

Plenitude
Você se torna uma bênção

10. Dê o melhor de si em cada relação

Plenitude
Você se torna mais amoroso e próximo de Deus
Deepak Chopra

O DESAFIO DE CONVIVER COM AS DIFERENÇAS - Solange Bittencourt Quintanilha

Em primeiro lugar, é preciso identificar que diferenças são essas.  
As mais significativas estão na forma de pensar, sentir e agir.

Já paramos para pensar em como é a forma que nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor?  O que esperamos delas?  O que elas esperam de nós? O que esperamos de nós mesmos com relação a elas?

Gostaríamos de ser únicos e originais, ou que os outros pensassem e sentissem como nós. Consideramos importante a nossa escala de valores  e não ficamos dispostos a olhar e entender os critérios do outro. Porém, cada pessoa  tem o seu jeito de ser e uma história de vida própria somente por ela experimentada. Talvez  seja difícil tolerarmos as diferenças porque assim nos sentiríamos muito solitários e desamparados.

Uma das maiores dificuldades de convivência entre as pessoas se baseia no fato do ser humano se apresentar um ser social por natureza e, simultaneamente, um ser egocêntrico. Por sermos sociais, somos incapazes de viver sozinhos no mundo e, por sermos egocêntricos, somos incapazes de conceder aos nossos semelhantes as mesmas regalias que nos concedemos.

Muitas vezes esperamos tanto dos outros, que frequentemente nos sentimos frustrados ou ficamos na expectativa que o outro aja de acordo como nós agimos. Precisamos nos conscientizar  de que  todas as pessoas são diferentes de nós, que elas têm o direito de ver a vida e enxergar situações de uma maneira diferente da nossa.

É certo que o desafio de conviver com as diferenças é uma tarefa árdua, mas precisa ser encarado como uma necessidade humana, pois ao respeitar o próximo, certamente abriremos espaços para que as nossas diferenças também sejam respeitadas.
Quando tentamos nos colocar no lugar do outro, buscando entender e compreender o outro abrimos uma porta para que a outra pessoa também tente nos entender e compreender. Somente assim poderemos realmente construir bons relacionamentos, em todos os âmbitos: amizade, profissional, familiar e amoroso.

Se tivermos essa consciência e nos colocarmos com uma real disposição para ver e respeitar todas essas diferenças, vamos parar de agir como se o outro fosse nossa extensão ou como se fosse nós mesmos.
Sempre que se fala na importância do diálogo, é comum as pessoas pensarem logo num relacionamento amoroso, mas na realidade a boa comunicação tem que existir em todos os nossos relacionamentos.

Para evitar  incompreensões,  mágoas,  decepções,  brigas..., precisamos refletir, ouvir, conversar, avaliar o que pensam todos aqueles que são importantes para nós. A única maneira de tornar sólida qualquer relação, é com sinceridade, generosidade, respeito, afeto... , e com um desejo real de conhecer o outro e suas necessidades.

 Subscribe in a reader

Clique abaixo, veja e ouça também:










segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

MARCIA TIBURI - Posso ser sincero?

Quem hoje em dia é capaz de perceber algo estranho na pergunta “quando posso ser sincero?”. Ela traz uma dúvida importante quanto ao sentido da permissão exposto no uso do verbo “posso”.

A pergunta oculta outra pergunta bem simples de ponderar: por que eu “não poderia” ser sincero? As questões definem que há muito tempo nossa intenção de sinceridade se tornou um problema.

Quando os seres humanos inventaram a sinceridade? O que ela significa entre nós hoje? A sinceridade é uma intenção, uma ação ou mais que isso?

Dizer é fazer
Quando falamos em sinceridade sempre pensamos na ação de dizer algo desagradável a alguém. Iniciamos uma crítica muitas vezes com a expressão “sinceramente”. Inaugura-se com isto a exposição de uma opinião que não está disposta a ser falsa e se declara de antemão com a autoridade da verdade. Junto com ela encena-se certo ar de coragem, como se a sinceridade fosse alguma sorte de franqueza grosseira. O sincero lembra o “grosseiro”, porta-voz de uma verdade bruta – tanto assustadora quanto obrigatória -, como se o delicado fosse falso na exata medida de sua polidez. Com isto demarca-se a sinceridade como um esforço que, além de desagradável a todos, tanto para quem o pratica quanto para quem o recebe, pode ser tanto inútil quanto comprometedor.

Pensa-se, para escapar disso, a sinceridade como algo que não se deveria “praticar”. Algo que é, em si mesmo, ruim. Que só com muito cuidado deveria ser usada. A pergunta que precisamos fazer diante desta evitação da sinceridade é bem óbvia: por que a prática da exposição das opiniões não pode ser vista como uma coisa boa, algo que deveria ser exercido livremente? Que nos faria crescer ética e mesmo psicologicamente? Que ajudaria a descobrir boas experiências, de alegria, de satisfação na convivência com o outro, aquele a quem se dirige nossa sinceridade?

Falsa sinceridade?
A acepção atual da sinceridade que sustenta a idéia de um caráter que deveria ser escondido, por não fazer bem a ninguém, ou por não trazer vantagens numa sociedade organizada em relações de troca tanto objetivas quanto afetivas, é precária ao não revelar a riqueza do conceito.

Muitos pensam que, se sou sincero com alguém hoje, posso receber de volta a sinceridade amanhã e isso não define vantagem alguma. Ou posso ser punido por sua ressonância: perder uma oportunidade, um negócio, um emprego, porque sou sincero. A sinceridade parece ser algo que apenas se pode temer, que só estraga a vida, espécie de talismã ao contrário, moeda falsa. Seria a sinceridade aquilo que os gregos chamaram “Phármakon”, uma substância venenosa que apenas parcimoniosamente usada se tornaria curativa?

A história da questão mostra, porém, o significado valioso do conceito. Um dos momentos mais importantes na história da sinceridade são as Confissões de Jean Jacques Rousseau, obra que inicia pela explicação do autor de que mostrará aos seus semelhantes um homem em toda a verdade de sua natureza. Conforme suas palavras “este homem serei eu”. Rousseau opta pelo “desnudamento de si” em sentido filosófico: falar do homem universal, mas na diferença que ele, o próprio Rousseau, torna real em sua própria vida.

Uma confissão
Sinceridade é, portanto, sinônimo de confissão. Quem se confessa dá testemunho, ou seja, conta algo porque o viveu, porque presenciou um fato e pode narrá-lo. O olhar do sujeito sincero é essencial na elaboração do que ele pode dizer. A confissão religiosa é originariamente um ritual de autoconsciência que envolve um exame de si, uma análise da própria pessoa por conta própria. Aquele que se confessa, porém, deve ter a disposição para libertar-se de si mesmo. Ao mesmo tempo, este gesto implica entregar-se ao outro, seja aos seus olhos, aos seus ouvidos, ao seu cuidado ou, negativamente, ao seu poder.

Infelizmente o poder como dominação não abandona a vida comum. A confissão do outro, seja na religião, seja na política, pode ser usada como arma contra aquele que se confessa. A confissão tem um poder equivalente ao do segredo que lhe é contrário. Alguém apenas entrega o que lhe é íntimo como uma generosa dádiva, ou, ao contrário, sob pressão emocional ou ameaça. Se nas relações mais íntimas os segredos confessados são usados por um contra outro é o valor da sinceridade como o mais íntimo que se pode compartilhar que cai por terra. A sinceridade não pode ser confundida com a mera desculpa diante do que acaba por ser dito sem pensar. A violência verbal e a maledicência muitas vezes são aceitas sob a máscara de sinceridade.

É porque a sinceridade diz respeito ao universo próprio do que pode ser expresso por cada um em seus limites que ela jamais é absoluta, pois ninguém pode saber tudo de si, nem revelar tudo a outrem. O sujeito humano vive do conhecimento de si em tensão com o que, de si, não pode ser conhecido, com o que nele é mistério e silêncio. Aquele que pudesse ser totalmente sincero – falar absolutamente de si ou do sue ponto de vista - ou estaria mentindo ou teria banalizado o poder da sinceridade.