terça-feira, 30 de abril de 2013

EXERCÍCIOS SÃO A CHAVE PARA DORMIR BEM

Se você sente muito sono durante o dia ou acha que levantar da cama pela manhã é uma verdadeira sessão de tortura, talvez seja hora de adotar uma boa rotina de exercícios – e, de acordo com o mais recente estudo da Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos, mesmo exercícios leves podem ajudar muito a ter uma boa noite de sono.

“Com toda a imagem ruim que remédios para dormir ganharam ultimamente, é bom saber que há uma mudança de estilo de vida que pode nos ajudar a dormir melhor”, destaca a médica Barbara Phillips, do Laboratório do Sono do Sistema de Saúde do Reino Unido. “Os novos dados indicam que não importa quanto nos exercitamos, contanto que façamos exercícios”.

Desde 1991, a Fundação realiza anualmente uma enquete sobre a qualidade do sono entrevistando mil pessoas com idade de 23 a 60 anos. Na edição de 2013, que teve os resultados divulgados recentemente, mais participantes que diziam praticar exercícios físicos intensos, moderados ou leves relataram ter noites de sono melhores (de 56% a 67%) em comparação com aqueles que não se exercitavam (39%).

“Se você é inativo, fazer 10 minutos de caminhada por dia pode aumentar suas chances de ter uma boa noite de sono”, aponta Max Hirshkowitz, um dos responsáveis pela enquete. “Os dados da nossa pesquisa certamente encontraram uma relação forte entre bom sono e exercícios”.
Sedentarismo e noites ruins

Um em cada dois participantes que não se exercita disse que acaba acordando no meio da noite, e um em cada quatro disse que tem dificuldade para cair no sono.

“Sono ruim pode prejudicar a saúde em parte porque deixa as pessoas menos inclinadas a se exercitar”, explica Shawn Youngstedt, que ajudou a conduzir o estudo. “Mais da metade (57%) de todos os participantes disse que seu nível de atividade é menor do que o usual depois de uma noite de sono ruim. Não se exercitar e não dormir se torna um círculo vicioso”.

Outro problema relacionado à falta de exercícios foi a apneia do sono (distúrbio que faz com que a pessoa pare de respirar repentinamente enquanto dorme): 44% dos participantes inativos apresentaram risco moderado de desenvolver o problema, contra 26% dos que praticam exercícios leves, 22% dos que praticam exercícios moderados e 19% dos que praticam exercícios intensos.

Além da ausência de exercícios, o excesso de tempo que a pessoa passa sentada também se mostrou problemático: entre aqueles que passavam mais de oito horas diárias sentados, em torno de 15% disseram dormir muito bem, menos do que aqueles que passavam menos tempo (cerca de 25%).
Mexa-se (de manhã, de tarde ou de noite)

Mesmo os participantes que se exercitavam perto da hora de dormir não relataram problemas de sono, em comparação com aqueles que se exercitavam mais cedo. Esse resultado contraria a antiga recomendação de não fazer exercícios à noite, e levou a Fundação a recomendar que as pessoas com sono “normal” se exercitem a qualquer hora do dia, contanto que não troquem horas de sono por horas de exercício. No caso de pessoas com insônia crônica, contudo, a recomendação de não fazer exercícios à noite continua.

Para encerrar, confira a seguir algumas dicas rápidas para dormir melhor:
  • Faça exercícios físicos regularmente (exercícios intensos seriam o ideal, mas moderados e leves também são bons);
  • Crie um ambiente apropriado para dormir – escuro, fresco e silencioso;
  • Tenha um “ritual de relaxamento” antes de dormir, como tomar um banho morno ou ouvir músicas relaxantes;
  • Evite se expor demais a luz à noite, e aproveite a luz natural durante o dia;
  • Procure usar seu quarto apenas para dormir, não para trabalhar;
  • Deixe para se preocupar durante o dia. Se algo estiver te pertubando na hora de dormir, anote e só se preocupe com isso pela manhã;
  • Se estiver com insônia não insista: levante da cama e vá fazer algo relaxante, como ler;
  • Se você se sentir constantemente cansado durante o dia, roncar demais ou acordar sem fôlego, fale com seu médico. 
    Por Guilherme de Souza[Medical Xpress, LiveScience]

QUAL É O PIOR INIMIGO DA VERDADE?

O conceito de refutabilidade ou falseabilidade, proposto por Karl Popper nos anos 1930, é a chave por trás do ceticismo científico e fundamenta-se na necessidade de que toda a hipótese científica quando formulada tenha embutida em seu enunciado um “mecanismo de previsão de erros”, ou seja, que ela ofereça a possibilidade de ser refutada ou falseada.

Se for considerada hipótese científica, deve admitir logicamente duas possibilidades: a de ser verdadeira ou a de ser falsa.

Repetindo: isso deve ser previsto em seu enunciado.
Por exemplo, quando formulamos depois de detidas observações da natureza a seguinte proposição:

“Todo o animal que possui bico é uma ave”.

Como hipótese científica deve admitir duas possibilidades: verdadeira ou falsa.

O cientista pode ter observado milhares de animais com bico e todas foram classificadas como ave, por isso considerou inicialmente verdadeira sua hipótese.
Porém, ela possibilita em seu enunciado a refutação. Pois basta aparecer um animal que tenha bico e que não seja ave que a hipótese será refutada.
Por essa razão tal assertiva é científica (embora não seja verdadeira, pois o ornitorrinco, por exemplo, possui bico e não é ave).

Agora, se a proposição de trabalho fosse essa:

“O tomate é vermelho ou não é vermelho”.

Mesmo sendo uma verdade, tal proposição não é considerada como científica, posto que em qualquer cenário ela nunca será falseada.
Para ser considerada científica, a proposição deve embutir em seu enunciado a possibilidade de ser refutada. E nesse caso não é oferecida tal possibilidade.
Vamos a outro exemplo:

“O íbis é um animal sagrado.”

Não existe nessa premissa possibilidade de falseá-la, pois não há experimento laboratorial ou mental que se possa imaginar para contestar o conceito de sagrado do íbis. Além do mais, esse é um argumento de autoridade(aquele que não pode ser refutado) pois um deus de nome Thot deixou escrito que íbis é um animal sagrado (e de acordo com essa sociedade não há autoridade maior que a de um deus). Logo, essa não é uma premissa científica, pois não pode ser falseada ou refutada.

De fato é uma premissa religiosa proveniente do Antigo Egito.
Em tempo:
Quero deixar claro que não estou questionando aqui a veracidade da premissa se o íbis – é ou não é – um animal sagrado. Estou apenas apontando o fato de que tal premissa não é científica, pois não atende ao princípio da falseabilidade.

Mais um exemplo:

Lavoisier, depois de um meticuloso estudo científico, afirmou que cada molécula de água é constituída por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio.

Tal afirmativa pode ser testada em laboratório e consequentemente pode ser refutada se os resultados não forem os previstos.
Logo, essa é uma premissa científica.

Karl Popper ao enunciar esse princípio, quis preservar a ciência de que premissas tidas como científicas perpetuassem erros seculares geralmente criados por argumento de autoridade (que não admite contestação) ou pelo problema da indução (questão um tanto mais delicada que detalharemos nos próximos artigos).

Evidentemente tudo depende do entendimento correto do que é uma hipótese científica.

Hipótese Científica

O termo hipótese pode ser conceituado como sendo uma proposição a partir do qual se pode deduzir, pelas regras da lógica, um conjunto secundário de proposições, que têm por objetivo elucidar o mecanismo associado às evidências e dados experimentais a se explicar.

E é claro se a hipótese foi formulada corretamente, dentro do método científico, ela pode ser confirmada ou refutada por meio de experimentos, inferências lógico-matemáticas, confrontações com dados colhidos de observações, etc.

Literalmente pode ser compreendida como uma suposição ou proposição na forma de pergunta ou questionamento, uma conjetura que objetive orientar uma investigação, seja por antecipar características prováveis do investigado, seja pela confirmação ou não por meio de deduções lógicas dessas características.

Muitas vezes o confronto com os resultados obtidos, confirma ou refuta a hipótese inicial e aponta novos caminhos de investigação que podem então gerar novas hipóteses e novos experimentos, e assim por diante.

Geralmente essa cadeia de eventos desde uma hipótese inicial até o desenvolvimento de um novo paradigma (que muitas vezes geram aplicações práticas, ou seja, tecnologia) segue outro atributo medular da ciência, que é o do acúmulo histórico do conhecimento científico, no qual um pesquisador apoia-se no conhecimento conquistado por seus antecessores, ao mesmo tempo, que testa esse conhecimento exaustivamente procurando brechas e inverdades que possam estar inclusas em seus enunciados.

Veja o exemplo que segue.

Uma breve história da Aspirina

Textos médicos assírios (Século VIII a.C) descreviam que o pó ácido da casca do salgueiro aliviava dores (propriedade analgésica) e diminuía a febre (propriedade antipirética).
Hipócrates (Século V a.C) confirmou em seus escritos essas propriedades analgésicas e antipiréticas da casca do salgueiro como resultado de sua prática e de seus discípulos.
Edmundo Stone (1763) confirmou o proposto por Hipócrates e produziu extratos onde isolou o princípio ativo: ácido salicílico (experimentos em laboratório e práticas de campo).
Henri Leroux, e Raffaele Piria (1828) Confirmaram o princípio ativo da casca de salgueiro descoberto por Edmundo Stone (ácido salicílico) e o isolaram na forma cristalina (experimentos em laboratório).
Felix Hoffmann e/ou Arthur Eichengrun (1897) Confirmaram o princípio ativo que foi isolado em 1828 e produziram um derivado menos agressivo ao sistema digestório: o ácido acetil-salicílico (experimentos em laboratório).
Laboratórios Bayer (1899) – produziram e comercializaram o ácido acetil-salicílico com o nome fantasia “aspirina” (experimentos em laboratório e testes e práticas de campo).
John Vane (1971) – elucidou o mecanismo de ação do ácido salicílico o que lhe valeu o prêmio Nobel de Medicina de 1982 (experimentos em laboratório e testes e práticas de campo).

Peço ao leitor fã de História da Ciência que me perdoe por esse sobrevoo histórico tão superficial, porém o objetivo aqui é o de ilustrar o conceito de hipótese e falseabilidade.

Assim temos:

        - Hipótese inicial: extratos ácidos da casca do salgueiro possuem    
          princípios analgésicos e antipiréticos – cânones assírios, provavelmente     
          fundamentados na tradição oral e práticas médicas rudimentares dos 
          povos mesopotâmios.

        - Hipótese confirmada por Hipócrates e Edmundo Stone por experimentos   
          de campo

        - Nova hipótese: o princípio ativo é o ácido salicílico – Edmundo Stone    
          (experimentos em laboratório e testes de campo)

    - Hipótese confirmada por Hoffman (laboratórios Baeyer) e Eichengrun  
       (segundo alguns peritos).

       - Nova hipótese criada por Hoffman e Eichengrun: o ácido acetil-salicílico
          oferece melhores resultados que o salicílico (experimentos em
          laboratório).

E assim por diante.

Em cada um dos momentos históricos, novos paradigmas foram apresentados, caracterizando aí a invenção de um medicamento sintético que custou para a humanidade a bagatela estimada em dez mil anos de sua história!

E é assim na maioria das conquistas científicas que originam tecnologia. Muitas vezes custa o esforço de toda uma geração, ou de centenas.

Lembre-se disso quando tomar um analgésico!

Mentira x Convicção

Porém, muitos detratores da ciência continuarão em sua ingenuidade achando que o tal princípio da falseabilidade e o ceticismo científico que dele advém é na maioria das vezes inócuo, pois existem muitos campos da ciência moderna (cuja comprovação é muito complicada ou talvez impossível) que obrigam que as pessoas acreditem nos argumentos dos cientistas assim como acreditam em algum tipo de guru. Simples assim.

Aí é que se encontra a confusão.

O funcionamento da ciência e da tecnologia não depende da fé nos cientistas.
Pelo contrário!

É duvidando deles que a ciência evolui e se torna paulatinamente mais confiável.
Pois o cientista (como ser humano que é) pode errar e também pode mentir e enganar.
O cientista pode usar de seu conhecimento para abusar da boa fé do semelhante, extorquir-lhe dinheiro, e transformá-lo em um fantoche – por exemplo – exatamente como poderia fazer e faz qualquer outro ser humano que não siga preceitos éticos que visem o bem comum. Seja ele um cientista ou não.

Porém a ciência como algo que se arroga de historicamente responsável procura prevenir-se contra esses heterogêneos, investindo no ceticismo de todos os seus praticantes, com o principal objetivo de não permitir que se perpetuem inverdades seja elas intencionais ou não.
Por isso, se não existir possibilidade de duvidar – não é ciência!

Para concluir, algumas palavras de Nietzsche:

“A convicção é uma inimiga mais perigosa da verdade do que a mentira.”

Será?
Por Mustafá Ali Kanso

UNIÃO EUROPEIA INVESTE EM PROGRAMA PARA PREVER O FUTURO

Forte candidato para receber um investimento bilionário o “FuturICT” é um ambicioso sistema de informação que pretende “prever” o futuro da sociedade de forma análoga ao preconizado pela trilogia de ficção científica “Fundação”.

Nesse clássico da Ficção Científica, o célebre escritor Isaac Asimov, na voz do personagem Henri Seldon (um brilhante matemático) concebe uma neociência denominada “psicohistória”.

É através das previsões dessa nova ciência que a humanidade torna-se capaz de evitar um desastroso colapso social, antecipando-se – com uma margem de alguns milhares de anos – na elaboração de um fantástico plano de contingências.

Ficção científica à parte, o FuturICT, de acordo com seus idealizadores, atuaria com base em simulações sociais computadorizadas, alimentadas por dados colhidos, em tempo real, oriundos das mais diversas atividades humanas.

Por meio de tratamentos estatísticos esperam poder traçar as principais tendências para a construção do futuro da humanidade, simulando os cenários prováveis do ponto de vista social, científico-tecnológico, econômico, político e ambiental e com isso antecipar as devidas respostas à eventuais crises e a consequente eleição de seus respectivos planos de contingências.

— Não estamos fabricando uma bola de cristal — garantiu Dirk Helbing, físico e matemático do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça em Zurique e um dos líderes do FuturICT, numa entrevista para o Globo na semana passada.

— O que pretendemos é elencar o ferramental necessário na elucidação das relações causais, e descobrir por que alguns sistemas são estáveis e outros não.

De acordo com o portal desse projeto, seu objetivo final é compreender e gerenciar os sistemas complexos globais, socialmente interativos, tendo como principais focos a sustentabilidade e a resiliência.

Para tal, pretendem conjugar esforços de instituições acadêmicas, centros de pesquisa e outras organizações científicas, centros de supercomputação, empresas e parceiros industriais, indivíduos notáveis, centros de artes, agências governamentais e outras organizações políticas.

Os idealizadores do projeto acreditam que a integração das ciências da cognição, das tecnologias de informação e comunicação (TIC), da ciência da complexidade e das Ciências Sociais criará uma mudança de paradigma, facilitando uma coevolução simbiótica das TIC e da sociedade como um todo.

É esperar pra ver.

[Imagem: Portal Futur ICT]
[Fontes: O Globo e www.futurict.eu]

CHEFE É CHEFE – UMA REFLEXÃO FABULOSA


Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber, conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e independentemente do fundamento dessa probabilidade.

Um dos exemplos mais simplórios e também um dos mais anacrônicos do exercício do poder está manifestado no membro administrativo de algumas corporações, com grau hierárquico executivo identificado simplesmente como “o chefe”.

O chefe” é o personagem muitas vezes caricato que, encarnando o detentor de alguma forma de poder, tem muitas vezes seu grau de hierarquia oficializado por títulos sugestivos, tais como coordenador, gerente, diretor, supervisor, etc.

Independentemente do título, ser chefe é ter acesso privilegiado às informações e às decisões, e também a outros instrumentos administrativos que viabilizam o exercício desse poder, tais como a promoção e a demissão de seus subordinados, por exemplo.

No Brasil das corporações anacrônicas é comum se ouvir nos bastidores:

- O chefe tem sempre razão!

- Manda quem pode – e obedece quem tem juízo!

E por aí vai.

A infelicidade de tal prática, onde chefe é chefe e subordinado é subordinado (sendo a diferença muito nítida também no montante dos salários) geralmente está acompanhada pelo autoritarismo de uma parte e a subserviência da outra.

Talvez uma herança atávica do feudalismo, o exercício do micro poder diário das chefias nos convida a um questionamento filosófico também sobre o exercício diário da ética, que se traduz, na interpretação de muitos filósofos modernos, como sendo simplesmente o exercício da moral.

Muitos chefes possuem um poder circunstancial. Mandam mas não lideram.

E talvez por falta dessa mesma liderança ameacem, intimidem e se transmigrem amiúde na versão tragicômica de pequenos tiranos.

Em síntese: um rato que ruge.

E o que é pior, é que muitos desses chefes tiranos brotaram do plano comum de seus subordinados.

Quando então promovidos simplesmente “mudam de lado”.

Talvez porque na maioria das corporações onde exista um chefe tirano, também existam subordinados que trabalhem direito apenas quando contam com uma “severa” supervisão.

Flagra-se, portanto, a carência de moral, tanto de uma parte como de outra.

Qual é a solução?

Melhorando-se o subordinado, transformando-o em colaborador se melhoraria também a chefia?

Ou trocando-se um chefe por um verdadeiro líder, a coisa toda mudaria de figura?

Será?

Ou é do indivíduo que temos de falar – antes de mais nada?

Para concluir este artigo e suscitar essa fabulosa reflexão – quero apresentar aqui minha releitura recorrente de uma das “Fábulas Fabulosas” de Millôr Fernandes:

O rato que tem medo”

A história é bem simples. Um rato que depois de muito sofrer pede para um grande mágico transformá-lo em um gato. Não suportava mais ser perseguido e intimidado.
Nem bem foi transformado, ironicamente, passou a perseguir todos os ratos que encontrou. Porém, com inédita crueldade e efetiva precisão. Afinal conhecia com propriedade o modus operandi destrutivo dos ratos.

Viveu satisfeito até encontrar um cão – que então o persegue.
Implora mais uma vez para que mágico o transforme, dessa vez em um cão, e assim, por efeito da magia vai subindo sucessivamente a escala zoológica até chegar na iminência de ser transformado em ser humano.
Nessa passagem, o mágico, numa peripécia o transforma novamente num rato.

- Mas por que voltei a ser rato? – pergunta o animal, transbordando frustração.

É com a sabedoria típica das fábulas que o Grande Mágico responde:

- De que adiantaria para o mundo mais um Homem com “coração de rato”!
Por Mustafá Ali Kanso

JOSÉ SARAMAGO - No teu ombro pousada a minha mão

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se no fundo do poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d’água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.

A INTERNET FAZ 20 ANOS - VEJA O PRIMEIRO SITE DA HISTÓRIA

Há exatamente 20 anos, a World Wide Web deixava de ser 
um projeto exclusivo para universidades e se tornava pública.

Em 30 de abril de 1993, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) publicou um documento que entrou para a história ao colocar a tecnologia por trás da web em domínio público e de forma totalmente gratuita.

Essa decisão – impulsionada por Sir Tim Berners-Lee – transformou a internet, tornando-a um lugar onde todos nós podemos compartilhar de tudo livremente: de atualizações em mídias sociais, a streaming de músicas, a vídeos de gatos no YouTube. Isto basicamente moldou a forma como nos comunicamos hoje.

No Brasil, só tivemos acesso à web pública mais tarde. Em 1995, a internet se tornou de acesso público; mas só no ano seguinte houve uma grande expansão no número de usuários, após a criação de diversos provedores e grandes portais da web, como BOL, UOL e ZAZ.

Para celebrar o aniversário, o CERN – o mesmo grupo de pesquisa por trás das experiências no Grande Colisor de Hádrons – republicou o primeiro site da história da Internet na URL original: 

O primeiro site não tem fotos, a página “The World Wide Project” contém informações preliminares sobre a WWW. Não há muito a se ver nele, mas faz lembrar o quanto a web mudou nos últimos vinte anos. A história toda (em inglês) pode ser lida no link do CERN: http://info.cern.ch

Na verdade, a republicação do site faz parte de um projeto mais amplo, para escavar e preservar diversas preciosidades digitais que se mantêm desde o início da web.

domingo, 28 de abril de 2013

ADÉLIA PRADO - Não quero a Faca nem o Queijo quero a Fome


A mim que desde a infância venho vindo,
como se o meu destino,
fosse o exato destino de uma estrela,
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem,
amaria chamar-se Fliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho,
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

sábado, 27 de abril de 2013

MARTHA MEDEIROS - O Permanente e o Provisório

O casamento é permanente, o namoro é provisório.
O amor é permanente, a paixão é provisória.
Uma profissão é permanente, um emprego é provisório.
Um endereço é permanente, uma estada é provisória.
A arte é permanente, a tendência é provisória. 
 
De acordo? Nem eu.

Um casamento que dura 20 anos é provisório. Não somos repetições de nós mesmos, a cada instante somos surpreendidos por novos pensamentos que nos chegam através da leitura, do cinema, da meditação. O que eu fui ontem, anteontem, já é memória. Escada vencida degrau por degrau, mas o que eu sou neste momento é o que conta, minhas decisões valem pra agora, hoje é o meu dia, nenhum outro.
Amor permanente... como a gente se agarra nesta ilusão. Pois se nem o amor pela gente mesmo resiste tanto tempo sem umas reavaliações. Por isso nos transformamos, temos sede de aprender, de nos melhorar, de deixar pra trás nossos imensuráveis erros, nossos achaques, nossos preconceitos, tudo o que fizemos achando que era certo e hoje condenamos. O amor se infiltra dentro da nós, mas seguem todos em movimento: você, o amor da sua vida e o que vocês sentem. Tudo pulsando independentemente, e passíveis de se desgarrar um do outro.
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.
Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível.
Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - ETERNO


Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!

Fácil é ditar regras.
Difícil é segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas ao invés de ter a noção da vida dos outros.

Fácil é perguntar o que se deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na agenda telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?".
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas.

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém. Dizer o que se deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando preciso e com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer, ou ter coragem para fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar é se entregar e aprender a dar valor a quem te ama.

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

KHALIL GIBRAN - O PROFETA (trecho)


Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, 
mas deixai cada um de vos estar sozinho.
Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, 
vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.

terça-feira, 23 de abril de 2013

ACREDITAR EM SI MESMO - E. E. Cummings

Acreditar em si mesmo - atingir o equilíbrio entre humildade e autoconfiança
Enquanto a nossa van seguia em direção à fazenda para iniciarmos um programa de três meses para meninos problemáticos, passamos por um homem a cavalo. Bill era o proprietário da fazenda e estava sentado próximo ao portão para nos receber. Nossos olhares se cruzaram pela janela empoeirada, ele piscou e tocou a aba do chapéu em sinal de boas-vindas.

Durante todo o verão, Bill e seus ajudantes nos ensinaram a cavalgar, amarrar feno, cortar lenha e reunir o gado. Ele sabia o valor de trabalhar com as mãos, e o respeitávamos por seu conhecimento e liderança amiga. Ele sabia como era importante para meninos como eu entenderem que alguém acreditava neles. Confiava em nós para fazermos o trabalho corretamente e não queríamos decepcioná-lo. Várias vezes naquele verão, levou-me para pescar e, além de conversarmos sobre como jogar a linha e por a isca no anzol, falávamos sobre meus sonhos e o que eu queria da vida. Incentivou-me a traçar metas e me contou histórias de suas próprias experiências.

No último dia na fazenda, Bill chamou-me em particular e elogiou o trabalho que eu fizera no verão, não apenas na fazenda, mas em mim. Disse-me que se eu precisasse de qualquer coisa, podia contar com ele. Quatro anos depois, aceitei a oferta. Telefonei e lhe pedi um emprego. Contei-lhe como a confiança dele em mim deu-me coragem para mudar minha vida. Expliquei que queria ajudar outros do mesmo modo. Ofereceu-me o emprego na hora, e tenho orgulho em dizer que todo verão sou eu que abro o portão para receber a van cheia de jovens que precisam de alguém que acredite neles para que possam aprender a acreditar em si.

Não acreditamos em nós mesmos até que alguém revele que dentro de nós existe algo valioso, que vale a pena ser ouvido, que merece nossa confiança, que é digno do nosso toque. Quando acreditamos em nós mesmos, podemos arriscar a curiosidade, o fascínio, o prazer espontâneo ou qualquer experiência.

e. e. cummings
1894-1962 poeta, dramaturgo, pintor, ensaísta americano


segunda-feira, 22 de abril de 2013

BARÃO DE ITARARÉ - Observações Morais, Satíricas e Irônicas


O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.

Quem foi mordido de cobra até de minhoca tem medo.

Sabendo levá-la, a vida é bem melhor do que a morte.

As criança atingem aos sete anos a idade da razão. 
Depois disso, começam a praticar toda espécie de loucura, até o juízo final.

É mais fácil sustentar dez filhos do que um vício.

Diplomata é um homem inteligente que consegue convencer a senhora que,
 com um casaco de pele, pareceria muito mais gorda.

A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.

Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio.

O mal alheio pesa como um cabelo.

El vivo vive del sonzo y el sonzo, de su trabajo.

Há Cadillacs de oitenta cavalos, sem contar com o proprietário.

Aquele senhor era tão tímido que até tinha vergonha de proceder honestamente.

Desgraça de jacaré são essas bolsas de couro.

A primeira ação de despejo de que se tem memória 
foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, fundamentada 
na falta de pagamento de aluguel e comportamento irregular.

Esporte é tudo aquilo que fazemos para deixar de fazer 
justamente aquilo que deveríamos fazer.

Os homens são sempre sinceros. O que acontece, porém, 
é que às vezes trocam de sinceridade.

Quem é mais porco? O porco ou o homem que come o porco?

O médico militar é um doutor que examina rigorosamente o soldado 
para ver se ele está em perfeito estado de saúde para ir morrer no front.

Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar 
que um dia ficará cacete como o pai.

Barão de Itararé (Apparício Torelly)