sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

HELOISA SEIXAS - Paisagens

Se eu pudesse levar comigo uma paisagem, se pudesse congelá-la e guardá-la, se pudesse tê-la eternamente, e revê-la sempre que quisesse, quando fosse para uma ilha deserta ou para outro mundo, não levaria uma – mas duas. Copacabana de manhã e Ipanema à tarde.

Copacabana de manhã.
Não a qualquer hora da manhã, mas às oito em ponto. Não em qualquer lugar, e sim na Avenida Atlântica, no Posto Seis. Mas pode ser em qualquer época do ano, não importa.

As amendoeiras junto à areia, os barcos de pesca, as redes. No mar, de poucas ondas, uns barquinhos, balançando. Além da ponta do Marimbás, as flores de espuma que se abrem em alto mar, quando a água rodeia as pedras submersas. Mais além, horizonte afora, as cadeias de montanhas, intermináveis, imutáveis, com suas cores em degradê, contendo todos os verdes, todos os cinzas, todos os azuis.

Na areia, onde o sol acaba de chegar, a alvura dos grãos em combinação perfeita com a calçada de pedras portuguesas, retrato em preto e branco cujas ondas passeiam pelo mundo inteiro. E à esquerda, a curva majestosa bordejada de prédios – não faz mal – terminando na pedra do Leme, com o volume do Pão de Açúcar por trás. Uma curva feminina, sensual, preguiçosa. Copacabana é uma mulher madura.

Ipanema, não. Ipanema é uma menina. É a outra paisagem que eu levaria comigo.

Ipanema à tarde.
Às quatro da tarde, antes do pôr do sol. E sendo outono. Ou um inverno com jeito de outono, como agora. Com muita, muita luz.

Mas não num dia qualquer, e sim num daqueles em que o vento sudoeste está começando a entrar, fazendo erguerem-se as cristas das ondas, como borrifos de monstros marinhos. Banhando a paisagem, a luz da tarde, um pouco oblíqua, só que muito alva, de arder a vista. Luz que faz refletir a areia, à essa hora uma enorme massa fria, pontilhada de banhistas tardios. Solitários. Porque às quatro da tarde de um dia assim, quem está por ali, na areia ou no mar, caminhando ou contemplando, é necessariamente um ser sozinho.

Na calçada, não. Na calçada à essa hora a vida fervilha. Há em quase tudo cor – nos coqueiros, nos quiosques, nas latas de lixo – e as pessoas caminham em frenesi, parecendo ter apenas um destino, um ponto de referência: as montanhas ao fundo.

Outro dia, num único dia, pude admirar essas duas paisagens. Copacabana de manhã, Ipanema à tarde. Num dia só, apenas um, lá estavam – as duas. Paisagens para se guardar na retina e na memória, para se rever em pensamento sempre, nos momentos de contemplação interior.

É quase impossível ser triste numa cidade assim.

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MÁRIO QUINTANA - Canção do dia de sempre




Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...






MARTHA MEDEIROS - À flor da pele

Quando tento buscar na memória a menina que fui, não consigo me ver chorando. No colégio? Nunca. Em casa? Só de forma muito reservada e profunda no silêncio do meu quarto, jamais por fricotes infantis. Mesmo adolescente, com os hormônios em curto-circuito, tampouco lembro de abrir as torneiras. Era durona, não chorava nem quando havia sério motivo para tal aliás, bastava que algum parente distante tivesse morrido para me dar uma vontade louca de rir. Tinha vergonha de me emocionar.

Depois veio a idade dos namoros, e aprendi a chorar por dor de cotovelo e também por autopiedade. Meu choro era tão sentido, vinha de zonas tão secretas em mim que, mesmo quando o motivo do choro já havia se dissipado, eu continuava chorando pela simples emoção de estar testemunhando a minha tristeza reprimida que finalmente desaguava — eu chorava pela comoção que eu mesma me causava.

Chorei por amor e ainda vou chorar, porque é da natureza do amor despertar nossas fragilidades. Chorei no momento em que minhas filhas nasceram, porque o esforço e a intensidade da emoção do parto faz tudo vazar sem barragem que represe. E chorei de raiva nas poucas vezes em que me senti injustiçada. E só. Tudo choro emocional, mas com razão conhecida.

Porém acabou o tempo de estio, quando eu chorava tão de vez em quando que podia lembrar a data. Nos tempos que correm, as lágrimas também correm — muito! E se antes chorava por alguma emoção irreprimível como o nascimento de um filho ou por um sofrimento doloroso como a partida de um grande amor, ando chorando agora durante a Dança dos Famosos. Quando o Gabiru fez o gol que deu ao Inter o Campeonato Mundial de Clubes, chorei. Quando uma criança canta na festinha da creche: “Quero ver você não chorar/Não olhar pra trás...”, me debulho. Choro em formatura.

Choro em discurso de família. Chorei quando os Stones entraram no palco no Hyde Park e quando Paul McCartney cantou My Love no Beira-Rio. Choro com os fogos de artifício do Réveillon. Choro no trânsito. Choro quando os caixões são fechados, mesmo que eu não conheça quem esteja dentro. Choro ao ver qualquer pessoa chorando. Choro em apresentação de dança da Dullius. Choro em aeroporto. Chorono banho. E quando ouço Chão de Giz, do Zé Ramalho, daí não são apenas olhos marejados: transbordo. Essa música toca em alguma coisa que me cala fundo e ainda não sei o que é.

Dizem que ficamos mais amolecidos com a idade, mas eu achava que estavam se referindo às dobrinhas nos joelhos. Pelo visto, os sentimentos, com o tempo, também afrouxam. Melhor assim: deixam de empedrar e de nos enrijecer por dentro. Deslizam pela face e nos purificam: ficamos banhados, limpos, batizados.

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KANSAS - Ao vivo - Carry On Wayward Son - 1976 Video




NANDO REIS & ANA CAÑAS - Pra você guardei o amor






 




quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

RUY CASTRO - Redes antissociais

A publicação de jornais e revistas on-line abriu um importante canal de comunicação com os leitores. Assim que leem um artigo ou reportagem, eles podem enviar seu comentário sobre o texto ou o assunto de que este trata. Publicado ao pé da matéria, o dito comentário desperta a opinião de outros leitores e, em poucos minutos, está criado um fórum de discussão entre pessoas que nunca se viram, nunca se verão e podem estar a milhares de quilômetros umas das outras.

Ainda bem. Pelo teor de alguns desses comentários, é bom mesmo que não se encontrem. Se um leitor discorda enfaticamente do que leu, pode atrair a resposta raivosa de um terceiro, o repique quase hidrófobo de um quarto e um bombardeio de opiniões homicidas na sequência. Lá pelo décimo comentário, o texto original já terá sido esquecido e as pessoas estarão brigando on-line entre si.

O anonimato desses comentários estimula a que elas se sintam livres para passar da opinião aos insultos e até às ameaças. Na verdade, são um fórum de bravatas, já que seus autores sabem que nunca se verão frente a frente com os alvos de seus maus bofes.

Já com as "redes sociais" é diferente. Elas também podem ser um festival de indiscrições, fofocas, agressões, conspirações e, mais grave, denúncias sem fundamento. E, como acolhem e garantem a impunidade de todo tipo de violência verbal, induzem a que as pessoas levem esse comportamento para as ruas. Será por acaso a crescente incidência, nos últimos anos, de quebra-quebras em manifestações, brigas em estádios, arrastões em praias e, última contribuição das galeras, os "rolezinhos" nos shoppings?

São algumas das atividades que as turbas combinam pelas "redes sociais" --expressão que, desde sempre, preferi escrever entre aspas, por enxergar nelas um componente intrinsecamente antissocial.


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ANDRÉ COMTE-SPONVILLE: Entre o luxo e a justiça

Nascido em Paris, em 1952, André Comte-Sponville é autor de uma obra filosófica descomplicada e bastante popular na França e fora dela, na qual ele transita por temas clássicos, como o amor e a felicidade, e as urgências da vida contemporânea. Em um de seus livros mais célebres, O Capitalismo É Moral?, o filósofo discute a relação, ou melhor, a falta de relação entre ética e economia. Montaigne, Espinoza e Epicuro estão entre as maiores influências do filósofo.

André Comte-Sponville já foi professor da Sorbonne, mas hoje dedica-se exclusivamente a seus livros e às palestras que ministra.
Aqui, uma pequena conversa com o filósofo.

Para ter a consciência tranquila, há muita gente disposta a pagar mais caro por produtos menos agressivos ao ambiente. A moral se tornou um argumento de venda?
É um pouco mais complexo que isso. O que eu digo é que a economia não é moral. Isso não quer dizer que a moral não tenha qualquer relação com a economia, mas que essa relação passa exclusivamente pela consciência dos indivíduos. A prostituição, por exemplo, é uma troca de ordem comercial. Isso não quer dizer que ela seja moralmente inocente. Por outro lado, se você compra produtos com o selo "Comércio Justo", sua moral intervém na economia. Mas então não é o mercado que é moral, é você. A mesma coisa acontece com a dita onda ecológica. Há aí um fenômeno de moda, é claro, mas há também um problema de verdade, que é moral: que planeta queremos deixar para nossos filhos? Que a ecologia tenha virado um argumento de venda para as empresas, isso não impede que ela seja também uma exigência moral para os indivíduos!

Se todos pudessem ter os hábitos de consumo de um europeu médio, o resultado seria desastroso para o meio ambiente. A desigualdade é necessária para a manutenção do planeta?
Não é a desigualdade que é necessária. Se todos os seres humanos tivessem, por exemplo, o mesmo nível de vida de um africano médio, o planeta estaria muito melhor. O que é incompatível com a sustentabilidade do planeta não é simplesmente a igualdade, mas a igualdade na abundância e no luxo. Então será preciso escolher, em algum momento, entre o luxo e a justiça, entre a abundância e a sobrevivência. Esse é o problema do desenvolvimento sustentável, sem dúvida a questão política mais importante da atualidade.

A felicidade é um tema recorrente em sua obra. No que a filosofia pode ajudar na busca por ela?
Em primeiro lugar, ajudando a compreender o que ela é. E o que é a felicidade? É o contrário da tristeza. É preciso partir daí. Ora, e o que é a tristeza? Todo período, para um indivíduo, no qual parece impossível sentir-se alegre. Levantamos de manhã e sabemos que não nos sentiremos felizes nem uma vez durante o dia, às vezes acreditamos até mesmo que não nos sentiremos felizes nunca mais... Aqueles que passaram por isso conhecem o peso do horror, do desgosto, do sofrimento. E eles sabem também, por oposição, que a felicidade existe. O que é a felicidade? Certamente não é uma alegria contínua e estável. Isso não existe, é somente um sonho que nos afasta da felicidade. A felicidade é o contrário da tristeza: sou feliz quando tenho a sensação de que a alegria é imediatamente possível, que pode aparecer de um momento a outro, que ela talvez já esteja aqui, claro que não de maneira permanente, mas com essa facilidade, essa espontaneidade, essa leveza que torna a vida agradável. A felicidade não é algo absoluto, mas como é bom!

E o que pode fazer as pessoas se sentirem felizes?
Nenhum aspecto externo é suficiente: nem o dinheiro, nem o sucesso, nem o poder, nem a família, nem mesmo o fato de ser amado por fulano ou beltrano. A miséria, por exemplo, pode ser suficiente para a tristeza, mas todos sabem que ser rico nunca foi suficiente para ser feliz. A felicidade depende de uma disposição interior. Qual? A que os antigos chamavam de "sabedoria", e que nós poderíamos chamar, de forma mais simplificada, amor à vida. E eu estou dizendo "amor à vida", feliz ou infeliz, e não à felicidade. Qualquer um é capaz de amar a felicidade. Mas, se é a felicidade que você ama, você só estará contente com a vida quando estiver feliz, e quanto mais você for feliz, maior será seu medo de não o ser mais. Por outro lado, se você ama a vida, você tem uma excelente razão para viver e para lutar, mesmo quando a felicidade não está lá.

Na sua opinião, quais são hoje as grandes questões contemporâneas que devem aparecer na filosofia?
A maioria das grandes questões filosóficas são mais eternas que contemporâneas: a questão do ser, a de Deus ou de sua inexistência, a vida, a morte, a liberdade, o amor, a moral, o conhecimento, o tempo, a justiça, o poder, o trabalho, a felicidade, a sabedoria... o suficiente para ocupar uma vida! O que não impede o interesse pelas questões atuais. Em primeiro lugar, porque essas questões eternas devem chegar, hoje, a respostas que convenham à nossa época. E também porque há novas questões que surgem e que é preciso enfrentar. As principais me parecem ser a do desenvolvimento sustentável, da bioética e da globalização (sobretudo no aspecto cultural). Além disso, é preciso repensar a questão política: levar em conta o fracasso do marxismo, sem desistir, no entanto, de transformar a sociedade.


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CRISTIANE SEGATTO - Pensamentos automáticos e depressão

 Como mudar crenças e ideias que produzem sofrimento

Ruminar é a coisa certa a fazer, desde que você tenha quatro patas, coma capim e disponha de um sistema digestivo complexo. Bois, cabras, camelos e outros herbívoros são bons nisso. O alimento vai, devagar, da boca ao estômago. Depois, volta do estômago à boca. E, de novo, segue da boca ao estômago. Tudo em nome do bom aproveitamento dos nutrientes. Humanos não processam alimentos desse jeito, mas podem ser paquidérmicos ruminantes mentais.
Sabe quando os problemas não saem da cabeça? Vão e voltam? O perrengue aconteceu lá no passado, mas ainda mina as relações do presente? Os ressentimentos encorpam como bola de neve? Ruminantes raramente viram a página ou passam a borracha. O estrago pode ser grande.

“A ruminação é um dos fatores que contribuem para a depressão”, diz o psicólogo Robert L. Leahy, do Weill Cornell Medical College, em Nova York. Há poucas semanas ele fez uma apresentação por videoconferência durante o congresso da Associação Brasileira de Psiquiatria, realizado em Curitiba.

Eu estava lá e hoje aproveito para compartilhar um pouco das observações dele. Leahy falou sobre o uso da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da depressão.
Essa forma de psicoterapia foi desenvolvida nos anos 60 pelo psiquiatra Aaron T. Beck, quando era professor da Universidade da Pensilvânia. O objetivo é a modificação de pensamentos e comportamentos inadequados ou inúteis.

É uma terapia de curta duração, bem estruturada, voltada para o presente e, em geral, mais barata que outras formas de atendimento psicológico. É um dos raros tipos de terapia que os planos de saúde aceitam pagar.

Até hoje, mais de 500 estudos científicos demonstraram os benefícios da terapia cognitivo-comportamental no tratamento de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos (questões familiares e conjugais, luto complicado, angústia, raiva, hostilidade etc) e outros problemas médicos com componentes psicológicos.

A terapia pode ser útil no tratamento de transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, esquizofrenia e muitos outros.

Essa modalidade de terapia também tem ajudado no tratamento de enxaqueca, dores, obesidade, insônia, hipertensão, disfunção erétil etc. Mais informações sobre resultados de estudos podem ser encontradas no site do BecK Institute e da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.

Qual é a teoria por trás da terapia cognitivo-comportamental? Ela é baseada na ideia de que nossa percepção sobre as situações influencia a forma como nos sentimos.

Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida dos fatos. O objetivo do terapeuta é ajudar o paciente a avaliar se seus pensamentos são, de fato, realistas. O segundo passo é aprender a mudá-los.

Ao pensar de forma mais realista, é provável que a pessoa se sinta melhor. “A terapia cognitiva ensina as técnicas para que o paciente seja seu próprio terapeuta”, diz Leahy. 

Ainda nos anos 60, quando Beck desenvolvia a técnica, ele observou que os pacientes deprimidos tinham ondas de pensamentos negativos que pareciam surgir espontaneamente. É o que os terapeutas chamam de “pensamentos automáticos”.

Esses pensamentos azedam o bolo de qualquer mastigação mental. Distorcem a realidade e angustiam. Ruminar é ter pensamentos negativos e repetitivos sobre o presente ou o passado.

“Por baixo dos pensamentos automáticos, há sempre suposições inadequadas”, diz Leahy. Coisas do tipo: “Nunca vou conseguir ser feliz fazendo as coisas por conta própria”. Com a ajuda da terapia, o paciente pode perceber que essa é uma generalização que não corresponde à realidade.

Qual é a raiz desse estado mental que causa tanto sofrimento? No começo da infância, as crianças desenvolvem determinadas ideias sobre si mesmas, sobre as outras pessoas e sobre o mundo.

Uma boa definição sobre isso aparece no livro Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática, da psicóloga Judith S. Beck, filha do criador da técnica. A segunda edição desse clássico da área é um lançamento da Editora Artmed.

“As suas crenças mais centrais, ou crenças nucleares, são compreensões duradouras tão fundamentais e profundas que frequentemente não são articuladas nem para si mesmo”, escreve Judith. “A pessoa considera essas ideias como verdades absolutas – é como as coisas “são”.

Imagine uma pessoa que tem a crença nuclear de que é incompetente. Ela interpreta as situações por meio das lentes da sua crença, mesmo que a interpretação racional seja evidentemente inválida. A pessoa tende a selecionar as informações que confirmam sua crença nuclear. As informações contrárias são simplesmente desconsideradas ou desvalorizadas.

No livro, Judith representa esse modelo de processamento da informação num diagrama. Quando a pessoa se acha incompetente, todos os dados negativos são processados imediatamente. Eles fortalecem a crença nuclear. Algo assim:

“Não consigo aprender a mexer nesse novo programa de computador.”
“Não consigo um empréstimo no banco.”

Os dados positivos apresentados pela realidade são transformados em dados negativos:

“O chefe me elogiou, mas eu não merecia.”
“Escolhi o plano de saúde, mas levei muito tempo.”

Às vezes, os dados positivos nem são percebidos. Quem se acha incompetente nem se dá conta de que faz muitas coisas bem feitas. Por exemplo: pagar as contas dentro do prazo, consertar um problema no encanamento etc.

O desafio do paciente é analisar a validade dessas crenças nucleares e mudar os pensamentos automáticos. Aceitar que errar é humano e assumir seus erros é um bom começo.

“Todas as pessoas inteligentes que conheço já tomaram decisões erradas”, diz Leahy, autor de dezenas de livros, entre eles A regulação emocional em psicoterapia.

Ninguém gosta de errar, mas é preciso perder o medo de lidar com ele. Quatro frases de Leahy que vale a pena ter em mente:
1) Todo mundo erra.
2) Erros são informação. São parte do progresso.
3) Um erro não é o fim do mundo.
4) Não tenha orgulho de ser perfeccionista.

A terapia cognitiva-comportamental não é uma panaceia. Em alguns pacientes, o efeito pode ser passageiro. Outros se beneficiariam mais se tivessem acesso a outras formas de terapia – de longo prazo e grande investimento (financeiro e emocional).

Em muitas situações, a terapia não substitui os remédios. Pacientes com depressão grave e outros transtornos psiquiátricos raramente podem ser tratados adequadamente sem medicamentos.

Em saúde mental, radicalismos podem ser bons para um ou outro grupo, mas péssimos para os pacientes. Ao final da apresentação, Leahy deixou um recado atualíssimo.

“Os pacientes nos procuram porque querem se sentir melhor. Não vêm por causa da religião da terapia cognitiva ou de qualquer outra”, disse. “Não há um tratamento que funcione para todos o tempo todo.”

Ninguém merece sofrer sozinho. O passo transformador é assumir que precisa de ajuda. Como Leahy, não acredito em cura. Acredito em ajuda. Ele não acredita em cura da condição humana. Nem eu.


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IVAN MARTINS - Destino se inventa

Por que esperar passivamente que um romance 
caia do céu e dê sentido à sua vida?
  
Se eu fosse mulher, tivesse 30 anos e não estivesse num relacionamento sério, minha lista de planos para 2014 começaria com quatro palavras: arrumar uma relação legal.

Imagino, claro, que a mulher de 30 se parece comigo na idade dela: meio carente, um tanto romântico e cheio de planos para o futuro. Planos, que, no meu caso, incluíam alguém para partilhar a vida.

Há muitas pessoas que não sentem assim, evidentemente. Há caras e garotas que vivem bem sozinhos. Tão bem, na verdade, que não desejam juntar os trapos e se comprometer. Eles transam quando querem, ficam bem sozinhos e extraem da sedução frequente aquela satisfação que outras pessoas só encontram na intimidade duradoura com uma mesma pessoa – por mais que ela traga seus próprios problemas.

Não é raro que se tenha inveja desses sedutores solitários, mas suspeito que eles, de vez em quando, também gostariam de ser diferente do que são.

Mas, se você sente que não nasceu para circular de forma autônoma, se você, no fundo da sua alminha inquieta, percebe aquele desejo ancestral de acasalar e (quem sabe?) fazer família, temo que a única solução para 2014 seja procurar um par.

Parece absurdamente óbvio o que estou dizendo, mas, acreditem, não é.

Estou cansado de conversar com mulheres de 30 anos que parecem ter desistido do projeto casal. Falam em adotar sozinhas uma criança, congelar óvulos ou viver avulsas para sempre, navegando entre um casinho e outro, entre um e outro site de relacionamento. Estão jogando a toalha, como se dizia antigamente – embora sejam jovens, atraentes, interessantes, bem sucedidas no trabalho. Um paradoxo de saias.

O que elas contam é que chegaram a uma idade em que é preciso tomar decisões, mas não há em volta delas sujeitos que queiram dar um passo adiante – ou, frequentemente, sujeitos com quem elas gostariam de dar o tal passo. Homem sempre existe, diz uma amiga minha. Mas cadê o homem que a faça sentir apaixonada? Ou que, tendo penetrado a couracinha afetiva dela, não se mostre mais interessado em seguir livre, rompendo outras couraças por aí?

A vida não é simples, naturalmente. Frequentemente, porém, ela tem solução. Que, neste caso, pode estar na atitude.

Acho que nós, homens e mulheres do século XXI, ainda temos um olhar adolescente para as relações afetivas. Queremos que nos caia do céu um romance arrebatador, pronto e completo, sem contradições ou dúvidas. Sem defeitos constrangedores também. Exigimos ser amados pelo que somos, mas estabelecemos condições elevadas para amar. Tendemos, de forma tola, a nos apaixonar pela beleza, pelo charme, pelo riso. Apostamos no clichê e na superfície, mas aspiramos ser tratados de outro jeito: queremos ser apreciados pela profundidade dos nossos sentimentos e por nosso caráter.

Outro tipo de atitude é possível, porém.
Outro dia, conversando com uma amiga sobre o casamento dela – que já tem 10 anos – ouvi algo surpreendente. “Eu tive muita sorte”, ela me disse. “Meu marido é um cara maravilhoso, mas eu poderia ter amado alguém muito pior.” Vocês percebem como é generosa essa última frase? “Eu poderia ter amado alguém muito pior” significa, essencialmente, que ela estava pronta quando o sujeito apareceu. Ele não precisava ser rico, lindo, heróico. Seria suficiente que a encantasse – e ela, lindamente, admite que não teria sido difícil. Um bom homem bastaria.

Acho que há nessa história ainda mais do que parece.

Nela se manifesta a disposição da mulher – embora pudesse ser do homem – de inventar o seu próprio destino. Acho que o romantismo pueril disseminado à nossa volta (em conversas, filmes, novelas, livros e até colunas da internet) nos transforma em criaturas passivas diante da nossa própria vida.

Agimos como se o amor fosse um evento externo à realidade. Partilhamos a convicção estranha de que diante do amor não temos nada a fazer. Acreditamos que a única atitude frente ao afeto é esperar que ela apareça. Não entendemos esse aspecto da existência como algo sob nosso controle - embora ele seja mais uma etapa da existência, outra experiência essencial da qual não faz sentido abdicar, mas diante da qual não deveríamos apenas sentar de boca aberta, embasbacados e passivos.

Em outras palavras, me ocorre que construir uma relação estável é como terminar o colégio, escolher a faculdade, lançar-se a uma profissão, sair da casa dos pais: uma experiência que precisa ser praticada, tentada, pensada e, de vez em quando, improvisada e remendada. Ao final, talvez, aceita da forma como apareça.

Logo, se eu fosse uma mulher de 30 anos sem uma relação estável - ou um homem da mesma idade e na mesma situação –  olharia em volta neste primeiro dia do ano da graça de 2014, seja na praia chuvarenta ou na rua ensolarada da cidade, em busca de alguém com que eu quisesse passar os próximos dez anos.


Ele ou ela pode estar pertinho. Ou não. Mas é certo que essa pessoa existe, porque não se trata de um semideus ou de uma criatura engendrada pela Providência. É um homem ou uma mulher comum, como tantos, a quem você concederá, de forma particular e única, embora não irrefutável, o privilégio do amor. A quem você oferecerá o direito a partilhar alguns dos momentos mais importantes da sua vida – e que receberá, atônito ou comovida, a honra do seu amor. Estar com ele ou com ela será infinitamente melhor do que jogar as mãos para o alto e desistir. Aliás, como regra não se desiste da vida, nem das coisas que a tornam importante.

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FERNANDA FRAGATA - O perigo dos petiscos para cães e gatos

 Na última semana, o Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de comida e medicamentos dos Estados Unidos, divulgou que aproximadamente 580 pets morreram de doenças causadas por petiscos importados da China. Desde 2007, 3.600 cães de diversas idades e raças – além de 10 gatos – adoeceram após comerem petiscos chineses de carne processada. Os veterinários, em conjunto com o FDA, continuam investigando, porém ainda não concluíram qual a causa exata de tantos adoecimentos e óbitos. Sintomas relacionados a problemas renais e gastrintestinais são os mais relatados.

Desde janeiro de 2013, o número de mortes relacionadas aos petiscos chineses vem caindo pois as importadoras recolheram os produtos do mercado. Alguns sites divulgaram listas com produtos condenados.
Até o momento, não temos no Brasil relatos deste tipo de problema grave relacionado ao consumo de petiscos para cães e gatos. Entretanto, vale lembrar que para uma alimentação saudável os bichinhos não precisam ingerir petiscos e biscoitos. Estes devem ser oferecidos somente como agrado e esporadicamente.

Não é raro animais apresentarem problemas gastrointestinais como vômito e diarreia ao ingerir porções maiores de petiscos, assim como ocorre com crianças que comem guloseimas em excesso. E, falando nisso, o dono de pet não pode esquecer que nossos amigos de quatro patas têm sensibilidade diferente da nossa, e, por este motivo, não devem nunca ganhar petiscos humanos como agrado.

O excesso de sal encontrado na maioria dos salgadinhos, por exemplo, pode causar desde sede excessiva e aumento na produção de urina até vômitos, diarreia, depressão, tremores, febre e convulsões, podendo levar o animal à morte. Balas, doces e cremes dentais infantis podem conter uma substância chamada xilitol usada como adoçante em muitos produtos. Ela causa um aumento na liberação de insulina reduzindo muito o nível de açúcar no sangue, contribui para a elevação das enzimas do fígado e, em casos mais graves, pode levar à insuficiência hepática.


Os sinais iniciais de intoxicação incluem vômitos, apatia, perda de coordenação e até convulsões. Chocolate, café e produtos com cafeína possuem na fórmula as metilxantinas que, quando ingeridas por animais de estimação, podem causar vômitos e diarreia, respiração ofegante, sede excessiva, aumento da produção de urina, hiperatividade, arritmias, tremores, convulsões e também pode levar à morte. Bebidas alcoólicas, uvas passa, cebola, alho, noz do tipo macadamia, cerveja, abacate, entre outros petiscos humanos podem, da mesma forma, colocar a saúde dos pets em risco. Porisso, para a manutenção da saúde de seu animal, seja ele cão ou gato, escolha uma ração de boa qualidade, ofereça sempre água fresca e, a qualquer sinal de indisposição, consulte imediatamente o médico veterinário.


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