segunda-feira, 21 de julho de 2014

CRISTIANE SEGATTO - O cigarro levou um imortal

Um depoimento precioso do escritor João Ubaldo Ribeiro sobre o vício 
que o matou. Estamos fazendo o suficiente para combater o tabagismo?


Perdemos nesta sexta-feira (18/07/2014) o escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro, imortal da Academia Brasileira de Letras. Aos 73 anos, Ribeiro morreu de embolia pulmonar em sua casa, no Rio de Janeiro. A doença foi provocada pelo cigarro. O escritor baiano fumava desde a adolescência.

Em 2008, o autor de “Viva o povo brasileiro” deu um depoimento à Rádio Pulmão Bom, do Centro de Apoio ao Tabagista. A rádio é uma das tantas iniciativas do pneumologista Alexandre Milagres, um ativista e comunicador que não mede esforços para combater o mais grave problema de saúde pública em todo o mundo.
  
Alexandre está inconsolável. “O cigarro levou mais um amigo”, diz. “Não consegui que ele me permitisse ajudá-lo a parar de fumar”. O vídeo de 22 minutos, disponível aqui, é um registro precioso e sincero sobre a longa convivência de Ribeiro com o vício.
“Tenho que parar de fumar, mas isso é um esforço terrível”, diz o escritor, no áudio de 2008. “Reconheço minha condição de viciado, mas não consigo parar. Vou fumando. Disso não tenho o menor orgulho.”
                                                 
Na juventude de Ribeiro, poucos escaparam do cigarro. Socialmente, fumar não era apenas aceitável. Era também desejável. Ele conta que começou a fumar para impressionar uma namorada, um ano mais velha e fumante.

Certa vez, enquanto namoravam no batente do edifício, ela perguntou a uma amiga.

- Lourdes, você tem um cigarro? Aqui é contrário. A mulher é que fuma, não o homem.

“Vi ali uma denúncia de minha mal delineada masculinidade”, conta ele. Desde aquele dia, Ribeiro começou a fazer força para se viciar. Colocava na boca um cigarro Columbia, e mesmo enjoado, tentava ficar à altura da namorada.

A publicidade e o cinema foram as principais estratégias da indústria tabagista para viciar aquela e as gerações seguintes. Abandonar o cigarro não é impossível, mas é uma tarefa árdua.
Outras personalidades brasileiras contaram a ÉPOCA, em texto e vídeo, como conseguiram parar de fumar. Nesta outra reportagem, a polêmica recente sobre o cigarro eletrônico.

Como recorda Ribeiro, nos filmes de guerra dos anos 50 era comum ver um sargento tirar um cigarro da própria boca e oferecê-lo a um combatente agonizante. “Antes de morrer, o herói de guerra recebia o cigarrinho da saideira.”
  
Nada disso seria aceitável hoje. Nas últimas décadas, houve muitos avanços na conscientização sobre os males do tabagismo e na aprovação de leis para inibir a propaganda e o consumo de cigarros. Com 25 milhões de dependentes de nicotina, o Brasil precisa avançar muito mais.

Para início de conversa, é preciso retirar a discussão sobre tabagismo do âmbito do estilo de vida e colocá-la onde sempre deveria ter estado: o das drogas.


Em 2008, a função respiratória de Ribeiro já estava comprometida. Ainda assim, ele acreditava ser um homem de sorte por não ter sido atingido brutalmente por doenças graves provocadas pelo vício. “Bato na madeira e me benzo quando digo isso”, afirmou ele. Estamos fazendo o suficiente para evitar 200 mil mortes como essa todos os anos?




IVAN MARTINS - Fidelidade ou lealdade?

A gente se preocupa demais com uma e esquece da outra, 
que talvez seja mais importante

Nos últimos dias, ando apaixonado pela palavra “lealdade”. Deve ser por causa de um livro que estou terminando, um romance sobre antigos amigos e amantes que voltam a se encontrar e precisavam acertar suas diferenças. Eles já não se gostam, mas confiam um no outro. Eles deixaram de se amar, mas ainda se protegem mutuamente. Isso é lealdade, em uma de suas formas mais bonitas. Lealdade ao que fomos e sentimos.

Ao ler o romance, me ocorreu que amar é fácil. Tão fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e sensações que não somos capazes de controlar. A lealdade não. Ela não é espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro. Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós.

Antes que se crie a confusão, diferenciemos: lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser fiel significa, basicamente não enganar sexual ou emocionalmente o seu parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com sentimentos. Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo, coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.

Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho. Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.

A primeira vez que deparei com a lealdade no cinema foi num filme popular de 1974, Terremoto. No final do drama-catástrofe, o personagem principal – um cinquentão rico, heroico e boa pinta – tem de escolher entre tentar salvar a mulher com quem vivia desde a juventude, com risco da sua própria vida, ou safar-se do desastre com a jovem amante. Ele escolhe salvar a velha companheira e morre com ela. Parece apenas um dramalhão exagerado, mas desde Shakespeare o drama ocidental está repleto de escolhas desse tipo. É assim que nos metem conceitos elevados na cabeça. Vi esse filme com 16 e 17 anos e nunca mais deixei de pensar na lealdade em termos drásticos.
       
A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo, nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se estende além deles.

O romantismo, embora a gente não o veja sempre assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida. Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.

Minha impressão é que o mundo anda precisado de lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos machuca. 

Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo falha em nossa intimidade, desabamos.

Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza mais longe, bem mais longe.



WALCYR CARRASCO - Gente é descartável?

Emprego, amizade e até o amor – 
será que tudo agora tem prazo de validade, 
como lata de ervilhas?

Convidado a jantar na casa de uma amiga, estranhei a falta de sua funcionária de muitos anos, sempre responsável por delícias gastronômicas. Estranhei. Perguntei pela cozinheira, sempre sorridente, que eu já cumprimentava com beijinho.

– Ah, demiti.

– Aconteceu alguma coisa?

– Ela passou do prazo de validade. Chamei outra.

A resposta me arrepiou. Cada vez ouço mais que alguém “passou do prazo de validade”. A expressão se inseriu no vocabulário. Como todos os elementos da linguagem, seu significado é maior que as palavras, simplesmente. Empresas costumam ser severas quanto ao que consideram como prazo de validade de um funcionário. Em geral, no máximo aos 60 anos, quando não aos 40, o executivo vai para a rua. Mesmo os de alto cargo. O argumento é sempre o mesmo, como ouvi certa vez de uma diretora de RH.

– A gente precisa renovar.

Alguém de 60 anos ou mais pode ser papa, presidente da República, e não diretor de departamento? Idade é necessariamente fator de renovação? Conheço jovens de cabeça fechada. Homens e mulheres maduros sempre abertos a ideias novas. Empresas, porém, têm esta política: envelheceu, perdeu. Quando alguém dedicou 20, 30 anos da vida a uma grande corporação, vai fazer o quê? Inicialmente, o demitido procura novo trabalho. Com muita frequência, seu currículo é preterido por alguém mais jovem. Às vezes se propõe a ganhar menos, aceita até uma posição menor. Ainda tem de ouvir o argumento:

– Achamos que era um cargo pequeno para você, que não se adaptaria. Merece mais.

Ele ou ela agradece, ganhou um elogio. E sai desesperado, porque o dinheiro no banco está acabando, o condomínio do apartamento de luxo, antes fácil de pagar, agora se tornou altíssimo, os filhos reclamam que querem grana para sair com os amigos, comprar roupas. Muitas vezes, o demitido monta empresa própria. Um grande erro. Em geral, acostumado a uma grande corporação, não consegue se virar com sua pequena empresa, sem estrutura. O dinheiro escoa, porque também não consegue diminuir o padrão de vida. Já vi o antigo CEO de uma empresa da área elétrica transformado em motorista de táxi. Como outros, montara a própria empresa, perdera tudo. Nunca mais conseguiu trabalho. Conheci outro motorista de táxi, antigo gerente, de porte médio. Ao ser demitido, depois dos 40, foi rápido:

– Vi meus amigos procurando emprego e batendo com a cara na porta durante um tempão, gastando o Fundo de Garantia, a grana da demissão. Esperei três meses, não apareceu nada, comprei o táxi e parti para outra.

Dei dois exemplos, a doméstica e o executivo, porque isso acontece em todas as classes sociais. As pessoas se tornaram descartáveis. Muitas vezes, quando entram em crise, por doença, separação, problemas, enfim, sua produtividade cai. Dão uma resposta indevida, demonstram nervosismo. O empregador resolve que passou do “prazo de validade”. No momento em que mais precisam de apoio, perdem o emprego. É difícil.
O mais chocante é que também tenho ouvido a mesma expressão para definir sentimentos e relações. Um amigo explicou sua separação.

– Nosso casamento passou do prazo de validade.

Como é? Então o amor é como uma lata de ervilhas, que vem com data de vencimento na tampa? Amizade também? Há muito tempo, quando minha avó Rosa, tão querida, morreu, fui ao enterro. Fiquei até colocarem o último tijolo no túmulo. De noite, recebi alguns amigos em casa, bati papo, mas com um nó no estômago, vocês sabem como é. De repente um deles se saiu com esta:

– Hoje, você está insuportável.

Nunca me senti tão agredido. Levantei e pedi a todos para saírem.

– Estou insuportável porque minha avó morreu, e isso dói muito – disse. – É melhor ficar sozinho.

Pediram desculpas, mas insisti para nos vermos outro dia. Creio que estava chato, irritado, sem sorrisos. Saíram ofendidos. Hoje, certamente diriam que nosso “prazo de validade” tinha acabado. Mesmo porque ficamos muito distantes a partir de então. Se eu não estava bem para participar da alegria alheia, me tornara descartável.


Tratar funcionários, amigos, amores como se tivessem a durabilidade de um pedaço de bacalhau, no máximo, é uma crueldade incorporada à vida de boa parte das pessoas. Se você acha que as pessoas têm prazo de validade, só precisa se fazer uma pergunta. Como agirá quando alguém disser que chegou o seu?




RUTH DE AQUINO - Nossa guerra particular

O que vemos não são apenas assaltantes armados. 
São homicidas que saem para roubar

Um tiro na cabeça, à queima-roupa, na hora do almoço, sob um sol deslumbrante de inverno, num dos bairros mais nobres e bucólicos da Zona Sul carioca, a Gávea, chocou e enlutou a elite do Rio de Janeiro. Sepultou-se ali a ilusória sensação de segurança criada pelo policiamento ostensivo na Copa, com soldados camuflados a cada esquina.

Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, 66 anos, conhecida por todos como Tintim, seu apelido de infância, acabara de sacar R$ 13 mil no banco para pagar a seus funcionários. Foi vítima de mais uma “saidinha de banco”, expressão quase terna que não traduz a covardia do crime, uma praga no Brasil. Tintim era sócia e anfitriã de um bistrô tradicional e simpático, o Guimas, fundado por duas famílias em 1981, que mistura as cozinhas francesa, portuguesa e brasileira. Ali sempre se comeu bem sobre toalhas quadriculadas, cobertas por papéis brancos descartáveis, onde crianças e adultos desenham, com lápis de cera coloridos, algo para alimentar o papo.

Dois homens numa moto a atacaram no curto caminho para o restaurante, um com capacete, o outro sem. Um chegou por trás, passou o braço pelo pescoço dela e gritou “passa a bolsa”. Tintim, mãe de três filhas e avó, querida na rua pelo sorriso e pela gentileza, segurou a bolsa por instinto e foi executada, com uma bala na têmpora. O assassino pegou o dinheiro, fugiu com o comparsa na moto. A vítima ficou ali, morta na poça de sangue, junto a botecos onde muita gente comia e bebia no ambiente festivo que tanto encantou os gringos. Uma testemunha disse que tudo durou um minuto.

Tintim parara para experimentar uma saia na barraca de um ambulante, pois assim é a comunidade da Gávea, um bairro chique alternativo, muito verde, com comércio misto e casas ainda antigas, mais procurado por quem busca tranquilidade e qualidade de vida, não ostentação. O bairro abriga a PUC, universidade católica, o Jockey Club, escolas para pobres e ricos, cursos de balé e ioga. É caminho para a favela da Rocinha.

Se fosse apenas uma tragédia isolada e pontual da boemia carioca, o assassinato de Tintim não estaria aqui nesta coluna. A violência de bandidos ou da polícia invade todos os grandes centros urbanos e não escolhe classes sociais. Está associada a impunidade, corrupção, abuso de poder, disputa por pontos de droga e desrespeito à vida. Aterroriza os pacíficos e honestos.

Pais e mães não conseguem criar filhos sem paranoia.  Há quem apele a estratégias de guerrilha. No dia em que Tintim foi assassinada, ouvi uma jovem contar seu método para escapar ilesa de um eventual assalto no trânsito: “Minha bolsa que fica à vista é toda ‘fake’. É uma Vuitton falsificada, meus documentos são falsos, com nomes e endereços falsos, chaves falsas, celular que não funciona e mais uns R$ 50 e uns US$ 10 para o assaltante achar que se deu bem”. A bolsa verdadeira fica escondida. É uma história real. E faz todo sentido. Um sentido escabroso.

O que vemos não são simples assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar. Poderiam ter dado um soco em Tintim, poderiam tê-la desacordado. Mas não. Deram um tiro para matar. Como fazem ao roubar um celular, uma bicicleta ou um carro – e a vítima, por medo ou susto, atrapalha por segundos a ação.

O “latrocínio” (assalto seguido de morte) é coisa nossa, quase não acontece em países civilizados. Cerca de 60 mil brasileiros são mortos por ano no país. Milhares de homicídios não são sequer registrados, por falta de confiança na investigação, por medo de vingança de gangues ou da PM. Nas estatísticas disponíveis, 164 pessoas são mortas por dia no Brasil. É como se um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, fosse abatido a cada 43 horas, por um míssil chamado subdesenvolvimento. Mata-se no Brasil, em 38 horas, o equivalente aos 260 palestinos mortos em 11 dias de conflito com Israel (até a última sexta-feira). Se o que vivemos não é uma guerra civil, o que será? Hecatombe social?

Somos reféns, podemos não chegar vivos em casa e sabemos o risco de perder alguém querido. Por isso, nos tornamos piores, mais agressivos ou medrosos. Há uma tendência a culpar as vítimas. “Como assim sacar R$ 13 mil do banco? Nem de dia dá para fazer isso.” “Como assim segurar a bolsa? Todo mundo sabe que não dá para reagir, entrega tudo logo.” É horrível. É como culpar pelo estupro a moça que ostentou as coxas com uma saia curta.


Houve um tempo, no Brasil, em que o verbo “reagir” significava outra coisa. Gritar por socorro. Tentar bater no assaltante ou ameaçar o bandido. Hoje, se o rapaz fugir de bicicleta, se a moça esconder rápido o celular na mochila, se o homem acelerar o carro, se a mulher segurar a bolsa, pronto. “Reagiram”, todos. Perderam a vida. Isso é barbárie, uma sociedade sem educação, sem humanidade, com total desprezo a leis que existem para não ser cumpridas.



domingo, 20 de julho de 2014

VÍDEO: GENTILEZA GERA GENTILEZA - O sonho não acabou...

O sonho não acabou...



A MAGIA DA VIDA VIA INTERNET- Lucas SC

Não importa o tempo, nem a tecnologia. Não importa se eu acredito 
ou se você acredita. Mas, algumas coisas são bem difíceis de explicar. 
O certo é que não há fronteiras para a magia da vida. 
Nem no real, nem no virtual.

A minha vida, às vezes, parece que tem vida própria, independente das minhas vontades e decisões. É como se a minha vida não fosse apenas a reunião de acontecimentos, sentimentos e emoções desde o meu nascimento até aqui.
Parece que de repente ela assume vida própria. Alguns chamam isso de destino. Outros de intuição. Ou seja, às vezes, o destino toma as rédeas da minha vida e me leva. E, geralmente, a conduz bem melhor do que eu.

É sempre quando estou no meu limite, seja sob que aspecto da vida for, quando fico sem vontade de fazer nada, quando me sinto o mais triste e solitário dos homens. Só que atualmente, não fazer nada significa ficar sentado no computador fuçando as redes sociais.

Há tempos não ficava fuçando o Face para ver se encontrava alguém sumida. A intenção era apenas me distrair. Tentar deixar esse tempo difícil passar. Tentar preencher um vazio impreenchível. 

De repente, o nome de um pessoa que estava solicitando ser adicionada num perfil cultural que tenho, me chamou muito a atenção. Tanta atenção que me fez dar, o que eu não tinha para dar naquele dia, um sorriso no meu rosto.

Mesmo as pessoas que foram muito importantes em nossas vidas, o tempo nos faz esquecer. Se não fosse assim, seria impossível recomeçar. Daniela era um desses casos, fora uma de minhas maiores paixões na vida. Mas, apesar dessa importância toda, há anos muito raramente lembrava daquela mulher tão especial e linda.

Quando nos conhecemos, há muitos anos, eu estava tentando romper um casamento falido e doente. E, quem já viveu um pouco mais, sabe o quanto é sofrida qualquer separação. Mesmo quando já não resta mais nada do amor que a fez existir.

Mas, hoje, a relação que eu deveria desfazer, não era doente. Ao contrário, era linda. O amor não estava acabado mas, a separação era inevitável por outros motivos. E se separar de alguém que ainda amamos é um dos piores e mais difíceis sofrimentos que podemos experimentar. Eu estava extremamente triste, com a alma doendo.


Foi aí, mais uma vez, que a magia que há na vida assumiu o controle e começou a me conduzir, teclando por mim. O destino estava processando alguma surpresa. E, não existe tecnologia que a magia não saiba operar. É impressionante.

Aceitei a pessoa no momento que vi o nome. Não é um nome raro, mas ela me veio imediatamente à lembrança. Quando aceitei e entrei no perfil...era ela! Meu coração quase parou. Minha alma brilhou de alegria com a visão das fotos confirmando toda beleza delicada daqueles olhinhos puxados e lindos. Estava mais mulher, mais linda, mãe e separada. Parece que tempo não passou para ela. Está mais linda do que nunca. Como pode existir uma mulher tão bonita assim. Ela está mais bonita do que já era. O mesmo sorriso.  

Enquanto olhava o perfil, conectei o chat do Face, coisa que raramente faço. Ela estava online. Mas, ela não tinha a menor idéia de quem eu era. Esse perfil que ela solicitou amizade e que eu administro, é totalmente dedicado a cultura e serve apenas para divulgar as matérias do meu blog. Os dois possuem o mesmo nome impessoal, uma marca que não identifica o dono.

Fiz uma viagem no tempo olhando as fotos dela. Eu a tinha conhecido de uma forma inusitada.

Eu a vira numa matéria de moda de uma revista da qual uma amiga era produtora. Fiquei fascinado, enfeitiçado. Sua beleza havia saído dos meus sonhos e se personificado naquela foto. 

Pedi que minha amiga me avisasse e me convidasse para ir ao estúdio na próxima vez que aquela escultura em forma de mulher fosse fotografar novamente. Não demorou, ela estava em plena ascensão profissional e era sempre chamada. 


Eu fui, com a segurança de quem está na merda por outra mulher. Ou seja, nada do que a lindona lá das fotos disser ou fizer vai fazer a menor diferença. Eu estava completamente enganado, porque o destino já havia tomado as rédeas.  

Resumindo, saímos de lá juntos, eu a deixei em casa e trocamos telefones (ainda não existia celular) pra sair no dia seguinte. 

Passamos os 15 dias seguintes juntos e apaixonados. Uma das ligações mais fortes que já senti na vida. Não conseguíamos tirar os olhos dos olhos do outro. Falamos muito, falamos tudo, desfalamos muito, desfalamos tudo. Porque tudo que era quando começamos a conversar, logo depois já não valia nada. Aquele encontro tornara tudo um passado longínquo.

Passamos dias e noites inteiras juntos. No carro, rodando as praias de lugares gostosos do Rio, do Leme a Grumari, Parando quando nos dava vontade. Vimos o sol nascer no Posto 6, em Copacabana. Com os pescadores e seus barcos e redes. Vimos o pôr do sol no arpoador. 

Havíamos nos falado tudo. Tudo. Contado um ao outro toda nossa vida. Tudo que sentimos durante toda a vida. Choramos ouvindo músicas e rimos lembrando de outras. Duas vidas resumidas em uma conversa de mais de 16 dias seguidos, Percorrendo todas as praias do Rio e da vida. Nos desnudando a alma. Nos mostrando de dentro pra fora, a alguém a quem conhecíamos há poucos dias.

Durante aqueles dias, tomei a decisão e me separei. Seguro, confiante e feliz.
Eu estava completamente apaixonado por aquela menina inteligente, linda, doce, e que tinha me cativado como uma deusa que saíra diretamente dos meus sonhos. 

Mas, ela havia presenciado alguns contados meus com a ex por telefone, não muito agradáveis. Até que o inevitável aconteceu e elas se encontraram na minha casa. Eu já havia terminado oficialmente com a ex, mas ela achava que era minha dona e não aceitava. Aparecia na minha casa quando bem entendia. Mas, dessa vez, a Daniela estava e foi bastante ofendida, não tendo, educada e elegantemente, entrado em discussão e ter ido embora rapidamente, assustada.

Nos dias seguintes não conseguia achar a Daniela (nome fictício) em casa, toda vez que ligava ela havia saído... Foram 6 dias de agonia. Até que ela bateu na minha porta.

Entrou, de óculos escuros, o que não era comum. Tirou os óculos e seus olhos estavam inchados e vermelhos. Começou a soluçar, sem conseguir falar.

Respirou fundo, me abraçou e me beijou diferente. Nunca esqueci aquele beijo. Parecia que queria levar minha alma com ela. Não precisava, já era dela. Em poucas palavras, falou que estava embarcando, naquela noite, para a Europa porque seria a única forma de deixar de se envolver mais ainda comigo. Não queria estar no meio de uma separação que já se anunciava bastante complicada (o tempo mostrou que tinha razão). 

Nunca mais nos vimos, por mais de 20 anos. Não tivemos o menor contato. Não sabíamos nada a respeito do outro. Não tínhamos amigos em comum, foi tudo muito rápido.

O tempo passou. E tudo evoluiu. E graças a essas evoluções, ela estava ali, a um clique de mim. Na tela do meu computador. E, só eu sabia disso, ela não.

Enquanto via e revia as fotos, os detalhes de como ela amadurecera bonita, elegante e, principalmente, sorridente, toda minha alma se iluminou com as lembranças. Eu consegui ver naqueles sorrisos os sorrisos que ela dera pra mim. Os risos que rimos juntos. As lágrimas que derramamos juntos. A Fada das Rosas Champagne. Será que ela ainda gosta dessas rosas?

Nesse instante, o chat do face abre e é ela agradecendo por tê-la aceitado no perfil. Eu estava teclando com ela, quase falando! Eu estava em extase só por tê-la ali naquela tela, por poder falar(teclar) com ela. Mas não disse que era eu. 
Começamos a conversar, perguntei se gostava do blog, e depois de elogiar bastante o conteúdo, me perguntou se eu o fazia sozinho ou se era uma equipe. Me senti lisonjeado. Eu o faço sozinho.

E, de assunto em assunto, conversamos por 6 horas seguidas. Sem que soubesse quem sou. Como sempre, muito inteligente, agora uma psicóloga, extremamente competente, bem sucedida, bem humorada e interessante em cada palavra que escrevia.

Muitas vezes, durante as 6 horas de conversa, perguntou qual era meu nome. Quando falei que a conhecia e ela a mim, a curiosidade feminina quase a levou à loucura, com ameaças de nunca mais falar comigo, mesmo sem saber quem sou...surreal. Há muito tempo não passava uma noite tão mágica e sedutora. E, encantadora.

No final, ela havia se convencido de que eu realmente a conhecia, mas não dei pistas suficientes para que descobrisse quem eu era. Não é fácil lembrar de alguém que passou por sua vida há mais de vinte anos. E, ela era bem mais nova que eu, e viajava muito por conta da carreira de modelo. Conhecia muita gente. 

No final, havíamos conversado muito de uma forma aberta e verdadeira, porque certa coisas da vida  que ela contara naquele chat, eram as mesma que as de 20 anos...o que comprovava a verdade, eu também estava falando a verdade sobre a minha.

Já no final, quase 6 horas da manhã, depois de falarmos sobre tudo...muitos elogios ao meu blog, ela me disse que tinha coisas que eu teclava que a faziam lembrar as idéias de uma pessoa muito especial que ela tinha conhecido há muito tempo, e que nunca mais havia visto.

Perguntei se esse cara era legal. Ela respondeu que ele foi um dos homens mais especiais que tinha conhecido. Eu respondi, que com certeza ele também achava isso. Ela riu (hahahahh), certamente pensando que era uma cantada. 

Ela disse que achava que não, porque havia ido embora quando ele precisava muito dela. E, que depois havia se arrependido, mas que quando voltara da Europa, dois anos depois, soube que ele estava casado com outra e resolveu não procurá-lo mais. Achava que ele(eu) havia me decepcionado muito com ela. Depois, seguiu a vida, se formou, casou, teve filha, contruiu uma carreira sólida e etc.

Eu respondi, "que, com certeza ele te entenderia e ainda te daria uma rosa".
Ela riu de novo (como se ri na web, hahaha) e então falou o que me fez acreditar que há magia na vida: 

- Uma Rosa Champagne! 

Se houvesse ainda alguma dúvida de que aquele "ele" era ou não eu, quando ela falou isso, tive absoluta certeza. Porque eu havia dado a primeira Rosa Champagne que ela recebera na vida. 


- Eu levaria uma Rosa Champagne pra você.  
Digitei imediatamente.

Ela demorou a responder. Até que enviou:


- Se a gente algum dia se encontrar não leva a rosa não...você já me fez lembrar muito dele. Isso faz muito tempo...a vida passa, a fila anda. Digitou ela. 
E colocou uma daquelas carinhas amarelas que querem dizer tristeza. 

- Tenho certeza de que vocês ainda vão se encontrar. Respondi.


- hahahah...queria acreditar nisso...mas a vida não é bem assim, como a gente gostaria que fosse...tenho que dormir agora, trabalho amanhã o dia inteiro. Bjsss. A gente se fala. Respondeu, encerrando a conversa.

- A vida pode ser muito mais mágica do que você imagina...termos conversado a noite inteira foi uma prova disso, pode acreditar. Lembra que eu disse que a gente já se conhece? pois é...rssss


- Poxa, me fala o seu nome...por favor...


- Boa noite Rosa Champagne...dorme com os anjinhos...Bjsss. Teclei finalizando a conversa.


- Dorme com os anjinhos?!!! QUEM É VOCÊ?!! É algum amigo daquele tempo pra quem eu contei isso...com certeza...diz quem é...eu vivia falando dele...pior que falei pra tanta gente aquela época que nem tenho idéia de qual desses amigos você possa ser. Rssss


- Dorme bem Daniela, a gente ainda vai se falar muito...Bjsss


Novamente a magia assumiu minha vida e me trouxe uma linda e inesperada surpresa e, também, para ela. Só que ela não sabe ainda.


Obviamente, Lucas SC é um pseudônimo. E, existem muitas histórias muito parecidas com essa e com a qual muitas pessoas se identificarão. 

Mas, só uma receberá a Rosa Champagne.







sábado, 19 de julho de 2014

RUBEM ALVES – Vídeo documentário - O Professor de Espantos



MORRE RUBEM ALVES - Um dos pensadores mais brilhantes e importantes da história do Brasil

*15 de setembro de 1933 / + 19 de julho de 2014

O educador e escritor Rubem Alves morreu na manhã deste sábado de falência múltipla dos órgãos, informou o Hospital Centro Médico de Campinas. De acordo com o último boletim divulgado, assinado pelo intensivista e cardiologista Roberto Munimis, o paciente, que estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por apresentar insuficiência respiratória devido a uma pneumonia, faleceu às 11h50. Mais cedo, em outro boletim médico, relatava a piora da condição circulatória do escritor.

O velório será realizado no Plenário da Câmara Municipal de Campinas a partir das 20h deste sábado e deve seguir até 12h de domingo. O corpo será cremado no domingo em Guarulhos, num crematório particular, em cerimônia fechada. O horário ainda não foi definido pela família.

No dia 17 de julho, Raquel Alves, sua filha, postou na página oficial de Rubem Alves no Facebook uma foto de infância e uma atual ao lado do pai, agradecendo o carinho dos amigos:

"Não vou comentar sobre a minha dor e nem da minha família. Isso seria chover no molhado... Mas posso afirmar que prefiro converter a dor, de ver meu pai tão mal - em amor e gratidão por esse homem e esse pai maravilhoso. Seria injusto pensar nele com dor. Uma pessoa que só tem beleza nos olhos e amor no coração - o tempo todo - alma, pura alma...

Quero sinceramente que acima de tudo as pessoas que o amam desejem o melhor para ele, independente do que isso represente. Acima de tudo o AMOR, a gratidão pelas palavras dele que serão eternas. Não há nada mais positivo e mais bonito que isso! E vamos com fé... Agradecemos muito o carinho e boas energias de todos vocês! Que as cores do crepúsculo mais belo preencham o coração de todos".

Em 2010, o escritor já havia enfrentado um câncer, além de problemas no coração e coluna, que o obrigaram a passar por cirurgias.

Rubem Alves era pedagogo, poeta, filósofo, cronista, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, palestrante, autor de livros para crianças e psicanalista. Ele nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais, e morava em Campinas. Cursou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, e exerceu as atividades de pastor na cidade de Lavras em Minas Gerais. Em 1963, foi estudar em Nova York e voltou com o título de mestre em Teologia. Em 1968, foi perseguido pelo regime militar brasileiro, que o acusou de subversão. Viajou aos EUA, onde cursou doutorado em filosofia na Princeton Theological Seminary.

Tido como uma das principais referências no pensamento sobre educação, tem uma bibliografia que conta com mais de 160 títulos - entre eles, “O que é religião?" (filosofia e religião), “A volta do pássaro encantado” (livro infantil), “Variações sobre a vida e a morte” (teologia) e “Filosofia da ciência” (filosofia e conhecimento científico) - distribuídos em 12 países.

THE BEATLES - Twoofus Acustico Beatle



sexta-feira, 18 de julho de 2014

JOÃO UBALDO RIBEIRO - A ÚLTIMA CRÔNICA - O correto uso do papel higiênico

Esta foi a última crônica escrita por João Ubaldo Ribeiro, 
que seria publicada no dia 20 de julho no Jornal O Globo.

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.

Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.

Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.

Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.

Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.


João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) 

MORRE JOÃO UBALDO RIBEIRO

Morreu, na madrugada desta sexta-feira (18/07) no Rio, o escritor João Ubaldo Ribeiro. O acadêmico foi vítima de uma embolia pulmonar e morreu em casa, no Leblon.

O corpo de João Ubaldo está sendo velado na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio, no Salão dos Poetas Românticos. A academia decretou luto por três dias.

De acordo com funcionários do Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul, o sepultamento do acadêmico estava previsto para ocorrer às 16h. Por conta das mudanças e da chegada de uma das filhas dele, que mora da Alemanha, o enterro foi adiado para sábado (19).

O escritor era o 7º ocupante da cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras. Ele foi eleito em 7 de outubro de 1993, na sucessão de Carlos Castello Branco. O secretário geral da ABL, Domício Proença Filho, disse Ubaldo era um escritor voltado para o povo brasileiro.

JOÃO UBALDO RIBEIRO
"Ele não vinha sempre, mas quando vinha era uma festa, com aquela voz de barítono, aquela alegria. Ubaldo era um escritor voltado para o povo brasileiro, a realidade brasileira, com a justiça social. Tinha personagens que retratavam bem essa realidade. Tenho certeza que Zecamunista deve estar muito triste hoje", disse Proença.

O presidente da ABL Geraldo Holanda Cavalcante contou que, nos quatro anos de presidência, encontrou com Ubaldo apenas uma vez, por conta de problemas de saúde do escritor.

"Ele deixa uma marca profunda na história do romance, com 'Viva o povo brasileiro' . Só estive com ele uma vez. Mas sei que ele era uma pessoa jovial, alegre, amigo e muito companheiro. Ele revolucionou o romance brasileiro com 'Viva o povo brasileiro' e 'Sargento Getulio'", disse o presidente.

Internado em maio
A secretária Valéria dos Santos, que trabalhou durante dez anos com o escritor, disse que em maio Ubaldo chegou a ser internado durante cinco dias por causa de problemas respiratórios. Segundo ela, o escritor reduziu o cigarro, mas não chegou a parar de fumar como foi orientado pelos médicos.
Valéria contou que há cerca de um ano e meio Ubaldo vinha escrevendo um novo romance, mas que não revelou seu conteúdo. Ele acordava por volta das 5h para se dedicar ao livro e por volta das 10h, parava para atender telefonemas e outras demandas.

"Ele acordou por volta das 3h [nesta madrugada] e chamou a mulher dizendo que estava se sentindo mal. Chamaram uma ambulância e os paramédicos tentaram reanimá-lo, mas ele já estava morto", contou Valéria acrescentando que o cardiologista particular dele também foi chamado.

Trajetória
João Ubaldo Ribeiro ganhou em 2008 o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Ele é autor de livros como “Sargento Getúlio”, “O sorriso dos lagartos”, “A casa dos budas ditosos” e “Viva o povo brasileiro”. Também ganhou dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1972 e 1984, respectivamente para o melhor autor e melhor romance do ano, por ‘Sargento Getúlio’ e ‘Viva o povo brasileiro".
Nascido em Itaparica (BA), Ribeiro viveu até os 11 anos com a família em Sergipe, onde o pai era professor e político. Passou um ano em Lisboa e um ano no Rio para, em seguida, se estabelecer em Itaparica, onde viveu aproximadamente sete anos.

João Ubaldo também se formou bacharel em Direito, em 1962, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas nunca chegou a advogar. Entre 1990 e 1991, o escritor morou em Berlim, na Alemanha, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio (DAAD – Deutscher Akademischer Austauschdienst).
Ele era pós-graduado em Administração Pública pela UFBA e mestre em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade do Sul da Califórnia (USC).

O escritor foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor da Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador. Como jornalista, trabalhou como repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia; foi também colunista, editorialista e editor-chefe da Tribuna da Bahia.
Ribeiro trabalhou como colunista do jornal Frankfurter Rundschau, na Alemanha, e foi colaborador de diversos jornais e revistas no país e no exterior, entre os quais, além dos citados, Diet Zeit (Alemanha), The Times Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal de Letras (Portugal), Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, A Tarde e muitos outros.

A formação literária de João Ubaldo Ribeiro iniciou ainda nos primeiros anos de estudante. Foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.Trabalhando na imprensa, pôde também escrever seus livros de ficção e construir uma carreira que o consagrou como romancista, cronista, jornalista e tradutor.

sábado, 5 de julho de 2014

A NOTA DE R$100,00 – O que é importante de verdade na sua vida

Um palestrante começou um seminário numa sala com 200 pessoas, segurando uma nota de R$ 100,00.
Ele perguntou:

“Quem de vocês quer esta nota de R$ 100,00?”

Todos ergueram a mão...

Então ele disse:

“Darei esta nota a um de vocês esta noite, mas primeiro, deixem-me fazer isto...” Então, ele amassou totalmente a nota.
E perguntou outra vez: “Quem ainda quer esta nota?”

As mãos continuavam erguidas. E continuou: “E se eu fizer isso...” Deixou a nota cair no chão, começou a pisá-la e esfregá-la. Depois, pegou a nota, agora já imunda e amassada e perguntou: “E agora?” “Quem ainda vai querer esta nota de R$ 100,00?” Todas as mãos voltaram a se erguer. 

O palestrante voltou-se para a platéia e disse que lhes explicaria o seguinte: “Não importa o que eu faça com o dinheiro, vocês continuaram a querer esta nota, porque ela não perde o valor.

Esta situação também acontece conosco. Muitas vezes, em nossas vidas, somos amassados, pisoteados e ficamos nos sentindo sem importância. Mas não importa, jamais perderemos o nosso valor. Sujos ou limpos, amassados ou inteiros, magros ou gordos, altos ou baixos, nada disso importa! Nada disso altera a importância que temos. O preço de nossas vidas, não é pelo que aparentamos ser, mas pelo que fizemos e sabemos.”.

Agora, reflita bem e procure em sua memória:
Nomeie as 5 pessoas mais ricas do mundo.
Nomeie as 5 últimas vencedoras do concurso de Miss Universo.
Nomeie 10 vencedores do prêmio Nobel.
Nomeie os 5 últimos vencedores do prêmio Oscar, como melhores atores ou atrizes.
Como vai? Mal, né? Difícil de lembrar? Não se preocupe. Ninguém de nós se lembra dos melhores de ontem.
Os aplausos vão-se embora. Os troféus ficam cheios de pó. Os vencedores são esquecidos.

Agora faça o seguinte:
Nomeie 3 professores que te ajudaram na tua verdadeira formação.
Nomeie 3 amigos que já te ajudaram nos momentos difíceis.
Pense em algumas pessoas que te fizeram sentir alguém especial.
Nomeie 5 pessoas com quem transcorres o teu tempo.
Como vai? Melhor, não é verdade?

As pessoas que marcam a nossa vida não são as que têm as melhores credenciais, com mais dinheiro, ou os melhores prêmios.

São aquelas que se preocupam conosco, que cuidam de nós, aquelas que, de algum modo, estão ao nosso lado.

Reflita. Se achar válida, compartilhe essa ideia...
Texto anônimo na internet 


sexta-feira, 4 de julho de 2014

PABLO NERUDA – Talvez


Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…