quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CAPELA SISTINA 500 ANOS - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra, passo a passo pelo interior da Capela







JOÃO UBALDO RIBEIRO - Será que alguém vai em cana?

Ao que parece, estamos vivendo um momento histórico sem precedentes. Acostumados a ver a ladroagem, a trapaça, o enriquecimento ilícito, a falcatrua, o abuso de poder, o tráfico de influência, a irresponsabilidade, a ausência de espírito público e tantos outros vícios transformados em regra na nossa vida pública, sem que nunca os muitos denunciados sejam punidos ou sofram a não ser contratempos menores, é natural que estranhemos as condenações de que estão sendo alvo os réus do mensalão. Somos hoje um país de Tomés, o bom apóstolo que quis ver para crer.

Eu, por exemplo, quero. As condenações são um passo cuja relevância vai bem além das decisões judiciais. O que ocorrerá depois delas depende ainda de muita coisa. Não me refiro a firulas processuais, das quais o Brasil parece ser o recordista mundial, a ponto de, segundo li em algum lugar, já haver quem cogite dar entrada em algum recurso exótico, envolvendo decisões do Supremo no caso do mensalão. Ignoro se é verdade, ou mesmo se é possível, mas todos sabemos que isso ocorre no Brasil e um observador mais nervoso pode chegar a temer que algum legislador capitaneie a criação do Supremíssimo Tribunal Federal, para examinar em última instância as sentenças que hoje são de última instância.

Descontada essa questão, creio que cabe aos cidadãos prestar sua essencial colaboração. Sem ela, condenações ou não, pouco mudará. É muito cedo para que se esperem grandes mudanças, a curto prazo. Mas não é cedo para tomarmos consciência do que está acontecendo e do seu potencial, para aproveitar a chance de parar de reclamar em vão e passar a fazer alguma coisa, mudar de atitude. Como sempre repetindo a verdade, que às vezes esquecemos, de que os governantes, os políticos, os administradores públicos e os poderosos em geral não são marcianos, mas nascidos e criados aqui, é preciso que vejamos se não propiciamos a eles, por comodismo ou resignação indevida, um ambiente confortavelmente propício à sua ação.

Vamos lembrar, por exemplo, os preconceitos que manifestamos sem querer, automaticamente. Os jornalistas também não são marcianos, somos nós mesmos, só que divulgando e comentando as notícias. E aí é só lembrar por exemplo, que a notícia sobre quatro delinquentes juvenis apanhados em delito na zona sul carioca provavelmente se referirá a "quatro jovens", deixando entrever compreensão, enquanto notícia igual, envolvendo quatro delinquentes do mesmo tipo, mas pobres e desclassificados, geralmente menciona "quatro menores", já antecipando sua punição.

Assim como usamos eufemismos nessa e em muitas outras circunstâncias, vamos reconhecer que fazemos o equivalente em relação aos homens públicos e raramente repudiamos o político que sabemos ser ladrão. Pelo contrário, somos compreensivos, fazemos folclore em torno dele, damos risada de sua ladinice, manifestamos não tão relutante admiração pelo seu talento, criamos e figura jovial e simpática do "rouba, mas faz", não achamos nada de mais em se ser visto na companhia dele. E o reelegemos, o que é bem mais importante.

Nós hierarquizamos pelo avesso o furto do dinheiro público. A julgar pelo que poderíamos chamar de nossa postura coletiva, meter o gadanho, por qualquer meio, no patrimônio público é o menos grave de todos os furtos. Ainda agimos como se o dinheiro público caísse do céu e, portanto, furtá-lo não prejudica ninguém. Mas é claro que, tão logo paramos para pensar, somos levados a concluir que o furto que atinge toda a coletividade é mais grave, não pode deixar de ser o mais grave e, por consequência, o que mais séria punição merece e o que maior repulsa justifica.

A sociedade tem de encarar o desvio de dinheiro público, em qualquer forma, com tolerância zero. Concretizá-la inteiramente é talvez impossível, considerando-se a famosa natureza humana. Mas é possível tê-la sempre em mente e aplicá-la sempre que se oferecer a ocasião. Acho que ninguém, a não ser os beneficiários dos desmandos, discorda de tolerância zero para quem nos rouba, nos condena ao atraso e causa tanta miséria e infelicidade. Ou seja, devemos ter esses inimigos públicos em conta inferior à de qualquer vagabundo ou ladrão de quintal. Este, além de roubar pouco e talvez nunca ter conhecido outro horizonte na vida, não achincalha as instituições, não debocha da lei e da justiça e não exibe cinicamente uma fortuna que todos sabem que não ganhou honestamente. Chega de eufemismos e de reverência indevida, o nome certo é ladrão e o nome do ato é furto, mesmo que venha sob a alcunha artística de peculato ou qualquer outra.

O quadro mudará, com as condenações? Depende. Se não houver cadeia, não muda e talvez piore. E não cadeia com açúcar, como já se prevê, serviços comunitários, essas coisas também eufemísticas. Cadeia mesmo, com grades e, se possível, a fotografia de pelo menos um dos criminosos lá dentro. Não se trata nem de ódio, nem de vontade de vingança, nem de nada passional. É que, se não houver cadeia, ninguém vai notar punição nenhuma, até porque, em última análise, não terá havido punição. Se os condenados continuarem a circular no bem-bom, sem que nada de realmente grave perturbe suas vidas, isto será, com justa razão, percebido como mais uma prova de que só quem vai para a cadeia é pobre e que nada cola nos poderosos, nem mesmo a condenação pelo Supremo Tribunal Federal. Abatimento moral e depressão não valem, já são filme visto. E em breve saberemos se o resultado da epopeia judicial que estamos testemunhando não acabará parte desse mesmo filme.


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PHILIPPE STARCK DE MALA E CUIA NO BRASIL

Escritório do designer francês está abrindo filial em São Paulo 
e busca incorporadores para executar projetos de luxo no país.

Até o fim do ano, deverão ser abertas as portas da filial paulistana do yoo, escritório de design do francês Philippe Starck e do britânico John Hitchcox, com sede em Londres. Mas São Paulo não é a única cidade brasileira no seu radar. A diretora da companhia na América Latina, Carina Bendeck, adianta que já está conversando com incorporadoras que vão iniciar empreendimentos no Rio de Janeiro, em Curitiba e na Região Nordeste.

O escritório de Starck, conhecido pela arquitetura de interiores com jogos de luzes coloridas, objetos surrealistas e toques rococós, está se especializando em desenvolver projetos residenciais e comerciais de grife por todo o mundo. Desde a criação do yoo, em 1999, a empresa já projetou 49 empreendimentos pelo mundo que, juntos, valem US$ 7 bilhões. Estão em países como EUA, Dinamarca, Emirados Árabes, Inglaterra, Argentina, Uruguai, Panamá e México. O yoo enxerga uma oportunidade de ampliar esses números junto com a expansão econômica do Brasil, principalmente no segmento de luxo. De todos os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), a direção do yoo acha o Brasil o mais promissor.

O setor imobiliário brasileiro é um dos poucos capazes de sustentar mais de um projeto do escritório em uma mesma cidade, com destaque para a capital paulista. Achamos que o Brasil tem um espaço bem amplo, porém o nosso estilo de luxo é algo que aqui ainda não foi sido visto em prédio nenhum. O que mais se aproxima é o hotel Fasano no Rio (projetado por Starck). Nós montamos uma estratégia de penetração no mercado brasileiro baseada na combinação de fatores como o tamanho da economia, o apetite pelo luxo do consumidor e a carência de desenvolvimentos de prédios de grife internacional.

E, além dos projetos residenciais e comerciais, a empresa aqui vai apostar no segmento de shopping centers. O Brasil registrou nos últimos cinco anos um aumento de 22,5% em inaugurações desse tipo de empreendimento, segundo dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers).

Para conquistar o público, Starck e Hitchcox se fortalecem com os nomes de seus conhecidos designers, dentre eles Marcel Wanders, Jade Jagger (filha de Mick) e Kelly Hoppen, famosa por projetar as casas de Elton John, David Beckham e o Príncipe William. Mas o yoo trabalha com a ideia de agregar um designer brasileiro ao seu time, conta Carina, sem dar pistas concretas de quem seria o escolhido.
- A gente está falando com designers brasileiros para incorporar um deles na equipe do yoo e, assim, poder oferecer uma opção para o público que se ajuste mais aos regionalismos brasileiros. O país tem uma riqueza incrível de conceitos criativos que são únicos no mundo, desde a combinação das cores fortes até o estilo eclético e aconchegante que se pode observar até nas pousadas e casas comuns no litoral — afirma a executiva. 
Fonte: O Globo.

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FERREIRA GULLAR - Cantiga para não Morrer


Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

NELSON MOTTA - O Novo Velhismo

Nunca imaginei que iria ficar velho. 

Para mim, velhos eram aquelas pessoas de mais de 50 anos, de cabeça branca, aposentados na cadeira de balanço, com uma manta sobre as pernas e chinelinhos de lã. Todos os paparicavam e os tratavam como crianças, ninguém os levava a sério. Como se vê, desde pequeno cometo graves erros de avaliação.

Felizmente, ficar velho hoje é muito melhor do que quando eu era criança. Não só pelos avanços da ciência, que prolongaram a vida e melhoraram a sua qualidade, mas pelas evoluções da sociedade e da tecnologia, que nos facilitaram o cotidiano, quebraram preconceitos e permitem a gente de qualquer idade ser produtiva e ter todos os direitos, e deveres, da vida social. Nunca imaginei que minha mãe, hoje com 88 anos, continuaria tomando seu vinhozinho e estaria na internet e fazendo análise. Ela detesta ser chamada de “terceira idade”: não liga de ser velha, mas não gosta de “palhaçadas”.

Nunca me passou pela cabeça que um dia eu seria capaz de furar filas em aeroportos, bancos e cinemas com a tranqüilidade dos justos, logo eu, que sempre respeitei a lei e sempre detestei e combati todas as formas de privilégio. Mas lamento só ter descoberto que tinha esses direitos aos 63 anos. Mal informado, pensava que eram só para quem tinha mais de 65. Perdi três anos de moleza! Nos aeroportos, furando feliz filas imensas, imagino como se sentem os nossos parlamentares. Assim como eles, mas por motivos diversos, não sinto a menor vergonha. Nem de minha idade e nem dos meus direitos legítimos. Vou logo perguntando: “Qual é a fila dos velhinhos?”

Mas o politicamente correto americano continua criando eufemismos patéticos e denunciando “preconceitos” contra gente que já viveu mais. Não querem mais que nos chamem de “cidadão sênior”, porque ninguém chama alguém de menos de 60 de “cidadão júnior”. Nem “idoso” eles aceitam. O correto é dizer “adulto mais velho” ou, singelamente, “homem” ou “mulher”. Depois do racismo, do sexismo e do pobrismo, o velhismo. Além de tentar nos tirar o orgulho de havermos sobrevivido até aqui, querem nos obrigar ao ridículo. 





VIVIANE MOSÉ - Um Nenhum

(Carta endereçada “Ao arqueólogo do futuro”.)

Senhor arqueólogo, foi muito difícil encontrar um lugar a partir do qual pudesse me dirigir ao senhor. Infinitas são as perspectivas que nosso tempo nos permite, desintegrado que está por tantas razões que não caberiam nesta cartinha. Então, resolvi falar de um lugar comum. O lugar de um homem.

Todo homem é comum mesmo não sendo. O não ser comum do homem parece estar em sua forma própria de ser comum. Em seu jeito singular de sofrer, brincar, envelhecer. Em sua necessidade de construir, simbolizar, criar. Um homem não deixa de ser comum mesmo entre letras, livros, máquinas, sistemas, signos. Um homem é sempre uma trajetória que declina. Que ascende, mas que declina. O comum do homem é sua aparição relâmpago, o seu constituir e o seu perecer. O comum do homem é sua necessidade de dizer, manifestar, inscrever, perpetuar. Ao mesmo tempo sua impossibilidade de permanecer. Todo homem constitui-se na tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer. Mas, por razões extensas e difíceis, a história humana parece ter se ordenado em torno da vontade de não ser.

Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem. Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo.

Mas um homem é sempre maior que um nome mesmo que não queira. E uma outra história foi sendo tecida por trás desse desejo de não ser. Enquanto construía seus mecanismos de não corpo, enquanto se constituía como idéia, pensamento, imagem, a humanidade proliferava em seus excessos contidos, em suas angústias não canalizadas, em suas paixões não vividas, em seus pavores maquiados. E um corpo invertido, nascido de tantos corpos abafados, foi constituindo-se socialmente, foi ganhando força e vida. Uma vida invertida, mas uma vida.

Tóxica, ela foi se alastrando pelas casas, pelas ruas, em forma de morte. A morte negada, as perdas e dores abafadas, saíram às ruas reivindicando seu espaço. O que antes esteve circunscrito aos campos de batalha, às margens, aos guetos, agora ganha as escolas, os metrôs, os restaurantes, as praias. Não há mais lugar seguro, carros blindados, condomínios fechados. Agora todos somos igualmente passíveis.

Vivemos a democratização da violência. Vivemos o predomínio daquilo que foi por tanto tempo obstinadamente negado.

A violência trouxe-nos de volta a urgência pelo corpo, pela vida, pelo tempo. E apartou-nos de nosso sonho de perenidade, de futuro, de verdade. Agora, todos estamos órfãos de nosso medíocre projeto de felicidade. Agora é preciso viver, temos urgência do instante, precisamos do corpo, mesmo gordo, magro, estrábico. E aqui, de meu lugar comum, de mulher comum, enquanto lavo a louça do café olhando a cor insistente da tarde que passa, me pergunto por quê? Por que não os dias nublados, as dores do parto, os serviços domésticos? Por que não o escuro, o delírio, a solidão? As lágrimas, os espinhos no pé, as quedas?

Dizem que o homem, como conhecemos, tende a desaparecer. É possível que uma espécie mais forte possa surgir, uma espécie capaz de um dia divertir-se com este nosso hábito demasiadamente humano de negar o inexorável, de controlar o incontrolável, e, não conseguindo, de esconder-se em cápsulas virtuais, em psicotrópicos de ultima geração, em imagens. Um homem que talvez tenha sempre existido pode começar enfim a surgir. Um homem capaz de viver a dor e a alegria de ser mortal, singular, sozinho, comum. Um homem capaz de gritar sua dor impossível. Um homem capaz de cantar. Um homem capaz de viver.

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LYA LUFT - Subir pelo lado que desce

Viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce”.

Ouvindo essa frase imaginei qualquer pessoa nessa acrobacia que crianças fazem ou tentam fazer: escalar aqueles degraus que nos puxam inexoravelmente para baixo. Perigo, loucura, inocência, ou boa metáfora do que fazemos diariamente.

Poucas vezes me deram um símbolo tão adequado para a vida, sobretudo naqueles períodos difíceis em que até pensar em sair da cama dá vontade de desistir. Tudo o que a gente queria era cobrir a cabeça e dormir, sem pensar em nada, fingindo que não estamos nem aí…

Só que acomodar-se é abrir a porta para tudo isso que nos faz cúmplices do negativo. Descansaremos, sim, mas tornando-nos filhos do tédio…

E o desperdício de nossa vida, talentos e oportunidades é o único débito que no final não se poderá saldar: estaremos no arquivo morto.

Não que a gente não tenha vontade ou motivos para desistir: corrupção, violência, drogas, doenças, problemas no emprego, dramas na família… tudo isso nos sufoca. Sobretudo se pertencemos ao grupo cujo lema é: pensar, nem pensar… e a vida que se lixe.

A escada rolante nos chama para o fundo: não dou mais um passo, não luto, não me sacrifico mais. Pra que mudar, se a maior parte das pessoas nem pensa nisso e vive do mesmo jeito…

Mesmo que pareça quase uma condenação, a idéia de que viver é subir uma escada rolante pelo lado que desce é que nos permite sentir que afinal não somos assim tão insignificantes e tão incapazes…

Então, vamos à escada rolante: aqui e ali até conseguirmos saltar degraus de dois em dois, como quando éramos crianças e muito mais livres, mais ousados e mais interessantes.

E por que não? Na pior das hipóteses caímos, quebramos a cara e o coração, e podemos, ainda uma vez… recomeçar.

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

REVOLUÇÃO - ENERGIA SEM LIGAR NA TOMADA

 Pesquisadores de Massachusetts (EUA) criam chip 
que capta e armazena diferentes formas de energia. 
O dispositivo pode aposentar as baterias recarregáveis.

Você já pensou em um celular ou mesmo em um computador que não precise das tradicionais baterias para armazenar energia? Um novo chip desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, pode ser o salto que faltava na engenharia para transformar isso em realidade. Além de tornar as baterias obsoletas, o dispositivo fará com que toda a energia gasta pelos aparelhos seja de fonte natural e renovável. A grande novidade tecnológica está na capacidade do mecanismo de combinar, ao mesmo tempo, a energia capturada de múltiplas fontes, como os fótons emitidos pelo sol, o calor e as vibrações do ambiente.

Os dispositivos anteriores capturavam energia a partir de uma única fonte: solar, térmica ou vibração. Já a nossa abordagem combina múltiplas fontes. Assim, a energia total adquirida é bem maior”, defende o autor do estudo, Saurav Bandyopadhyay. Isso quer dizer que, se o chip estiver, por exemplo, em uma ponte que vibra com a passagem dos carros, em um dia ensolarado e exposto ao calor, ele conseguirá aproveitar todas essas fontes ao mesmo tempo.

Bandyopadhyay conta que, para conseguir tal resultado, o grupo de pesquisa liderado por ele utilizou um indutor único compartilhado entre muitos conversores. “Isso nos permite combinar a energia a partir de várias fontes sem aumentar o número de componentes. Normalmente, cada conversor (solar, de vibração ou térmico) exige seu próprio circuito de controle para atender suas necessidades específicas.”

Por exemplo, os circuitos que funcionam por meio das diferenças térmicas normalmente produzem apenas entre 0,02 a 0,15 volt de energia, enquanto as células fotovoltaicas de baixa energia podem gerar de 0,2 a 0,7 volt. Já os sistemas de vibração, chegam a produzir até 5 volts. Segundo o pesquisador, coordenar em tempo real as diferentes fontes para produzir uma saída constante de energia elétrica é um processo complicado.

Tanto que, até hoje, os dispositivos mais próximos da proposta do MIT funcionam a partir de uma sistema que alterna, entre as possibilidades existentes, a fonte que, naquele determinado momento, está gerando a maior parte da energia. Ou seja, se o dia está nublado, mas com abundância de energia termoelétrica, o dispositivo rejeita o recurso do sol e utiliza somente o calor. Dessa forma, o método acaba por desperdiçar as outras fontes de energia, mesmo que em níveis menores. A nova abordagem, entretanto, consegue aproveitar todas a partir da comutação rápida entre elas.

Vantagens ambientais Como os recursos naturais são intermitentes e imprevisíveis, a possibilidade de combinar diversas fontes ao mesmo tempo representa um avanço significativo para que os aparelhos operem em níveis de energia extremamente baixos. Segundo o professor Elson Longo, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a eficiência é algo muito importante quando o assunto é mecanismo elétrico. “Esse novo sistema fornece uma economia de 11% a 13% de energia em relação aos atuais. Isso é energia para ninguém botar defeito. Imagine se você tivesse isso em todos os sistemas, estaríamos ganhando um valor monstruoso de energia”, avalia.

Sobre as inovações trazidas pela pesquisa, Bandyopadhyay complementa ainda que a arquitetura de caminho duplo desenvolvida no chip é o que possibilita que a energia disponível no ambiente seja armazenada e diretamente aplicada no funcionamento do dispositivo sem o intermédio das baterias (ver arte). Em um computador de casa, por exemplo, enquanto o aparelho estiver exposto à luz do sol, capturará os fótons emitidos e os transformará em energia elétrica. Se, ao mesmo tempo, estiverem presentes fontes de energia térmica e piezoelétrica, o chip será capaz de absorver todas as mesmo tempo e processá-las em um único indutor, que liberará a energia requerida para manter o computador ligado. A energia excedente, por sua vez, será armazenada no próprio chip para ser utilizada no momento em que for preciso. Isso significa que você não mais precisará carregar seu computador na tomada.

Eliminar a necessidade de baterias é fundamental em redes de sensores altamente distribuídos e que não têm acesso fácil à fontes de energia”, explica Bandyopadhyay. Nessa perspectiva, o professor da UFSCar também destaca a importância do novo modelo para o meio ambiente, uma vez que utiliza fontes abundantes na natureza e, além disso, renováveis. “Frente aos atuais problemas ambientais, você precisa arrumar fontes alternativas de energia. Nesse chip, você parte de três energias diferentes amplamente oferecidas pela natureza. Elas são absorvidas e transformadas todas em elétrons. Esses elétrons são mandados para o sistema de memória. Isso tudo utilizando fontes renováveis de energia”, comenta Longo.

O dispositivo desenvolvido pelo MIT, segundo o autor do estudo, pode ter diversas aplicações, como no funcionamento de sensores de energia sem fio para monitoramentos biomédicos. Ele conta que o próximo passo dos pesquisadores será o desenvolvimento de sistemas completos que utilizem essa forma de colheita energética. Além disso, o grupo de cientistas pretende viabilizar a comercialização do chip. Para o pesquisador brasileiro Longo, o mecanismo representa um energia do futuro. “Ela é bem promissora, mas existe uma diferença muito grande no trabalho publicado em artigo que desenvolve dois chips para teste e você produzir milhões dele. Tem que ter capital. Não vai chegar amanhã no seu celular, na sua casa. Só se for investido muito dinheiro nisso”, pondera.

Sobre a possibilidade de desenvolvimento de tal tecnologia no Brasil, Longo critica a política de incentivo e financiamento de pesquisa adotada pelo país. “Precisamos que nossa presidenta invista mais nos pesquisadores brasileiros (…) O dia em que mudarmos, começaremos a desenvolver pesquisa de ponta. Esse chip criado nos Estados Unidos vai render muita riqueza. Temos que ter gente competente aqui também para isso”, critica Longo.
Marcela Ulhoa

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STANISLAW PONTE PRETA - Dois amigos e um chato


Os dois estavam tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio. Acabado o café o Zé perguntou:
Vais pra cidade?
Vou — respondeu Flaudemíglio, acrescentando: — Mas vou pegar o 434, que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá.

Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e, por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas.
Vens comigo? — quis saber Flaudemíglio.
Não — disse o Zé: — Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro.
Então tá — concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo que já vinha o que passava pela Lapa: — Chi! Lá vem o meu... — e correu para o ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar.

Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na véspera para o exame de laboratório...), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e deixou cair algo no chão.
O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra. Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo:
- Zé, caiu minha carteira de identidade. Apanha e me entrega logo mais.

O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.
Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu — disse o Zé estendendo a mão.
Mas o que tinha sorriso de babaca não entregou. Examinou a carteira e depois perguntou: — Como é o nome do seu amigo?
Flaudemíglio — respondeu o Zé.
Flaudemíglio de quê? — insistiu o chato.
Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira dizendo:
Deixa de ser cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!

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MARTHA MEDEIROS - Quando menos se espera

Quando alguém se queixa de que não encontra sua cara-metade, que procura, procura, procura e nada, os amigos logo lembram o queixoso de que o amor só é encontrado ao acaso. 
Justamente no dia que você vai à locadora todo esculhambado para devolver um DVD, poderá esbarrar na mulher da sua vida.

E naquela noite em que você sai de pantufas do apartamento só pra descer até a garagem do prédio e desligar a droga do alarme do carro que disparou, é então que o Cupido poderá atacar, fazendo com que o príncipe dos sonhos divida com você o elevador.

Não acredita? Eu acredito. Nas vezes em que saí de casa preparada pra guerra, voltei de mãos vazias. Todos os meus namoros começaram quando eu estava completamente distraída. Mas não vale se fingir de distraída, tem que estar realmente com a cabeça na lua. Aí, acontece. O amor adora se fazer de difícil.

Pois foi meio assim que aconteceu com a universitária que foi parada numa blitz semana passada. Ela se recusou a fazer o teste do bafômetro, então teve a carteira recolhida e prestou algumas informações. Voltou pra casa e pouco tempo depois recebeu um torpedo de um dos agentes perguntando se ela estava no Facebook ou se podia dar seu MSN, porque ele gostaria de conhecê-la melhor.

Vibro com essas conspirações do destino, que fazem com que duas pessoas que estavam absolutamente despreparadas para um encontro amoroso (um trabalhando na madrugada, outra voltando de uma festa) se encontrem de forma inusitada e a partir daí comece um novo capítulo da história de cada um. Claro, levando-se em conta que ambos tenham simpatizado um com o outro, que a atração tenha sido recíproca.

Não foi o caso. A universitária não se agradou do rapaz. Acontece muito. O Cupido passa trabalho, não é fácil combinar os pares. Nesses casos, todo mundo sabe o que fazer: basta não responder ao torpedo, ou responder amavelmente dizendo que não está interessada, ou mandar um chega pra lá mais incisivo, desestimulando uma segunda tentativa.

A universitária desprezou essas três opções de dispensa. Inventou uma quarta maneira para liquidar o assunto: deu queixa do rapaz aos órgãos competentes. Dedurou o cara. Não perdoou que uma informação confidencial (o número do seu celular) houvesse sido utilizada indevidamente por um servidor público.

É duro viver num mundo sem humor. Uma cantada, uma reles cantada. Se fosse num bar, seria óbvia. Tendo sido após uma blitz, foi incomum. No mínimo, poderia ter arrancado um sorriso do rosto da garota que deveria estar pê da vida por ter a carteira apreendida.

Depois de um fim de noite aborrecido, ela teve a chance de achar graça de alguma coisa, mas se enfezou ainda mais. No próximo sábado, é provável que esteja de novo na balada, cercada de outras meninas e meninos, a maioria se queixando de que o amor não dá mole. 
 
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O QUE É UMA COMPULSÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha

Compulsão é um impulso
que se torna mais forte que a própria pessoa. 

É uma necessidade patológica de agir sob a pressão de um vício, que se controlado, produz muita ansiedade.
É um impulso muito forte e até irresistível, que leva o indivíduo a fazer algo às vezes até indesejável, errado ou fora dos limites da razão e que se repete de maneira perseverante, objetivando evitar a angústia.  Sua vontade se torna escrava. Ela costuma trazer ansiedade, angústia, frustração, e tem um efeito negativo nas relações afetivas. 
Existem várias compulsões, eis algumas:

Compulsão alimentar
O ato alimentar tem função estrutural na nossa personalidade, por tratar-se primordialmente do primeiro elo entre o bebê e a mãe (o primeiro elo entre alimento e sentimento). A alimentação é um processo relacional carregado de extenso significado emocional.
A compulsão é uma alteração de comportamento. Não se procura alimento para saciar só a fome biológica, mas também a fome emocional.
O impacto emocional do comer compulsivamente e do excesso de peso sobre a vida das pessoas traz grandes sofrimentos.

Compulsão pelo computador 
Muitas pessoas se sentem incapazes de controlar o número de horas que ficam conectadas à Internet.
Quando isso acontece, o resultado é sempre uma sucessão de prejuízos que vão do desequilíbrio nas relações afetivas, problemas profissionais, tendência ao isolamento social, depressão. Esse uso compulsivo provoca a substituição do contato real pelo virtual.
Esse vício tão forte fascina muitas pessoas, porque permite que elas escondam a sua timidez, protejam-se do medo de rejeição, experimentem uma sensação de poder, expressem suas fantasias com liberdade infinita pela certeza do anonimato...

Compulsão pela estética 
O culto ao corpo vem crescendo assustadoramente, numa preocupação desmedida e alarmante, com mudanças drásticas na alimentação, gerando transtornos alimentares, como por exemplo, Anorexia ou Bulimia. Nas duas, há uma versão muito negativa da própria imagem.
Na Anorexia, que é uma doença perigosa e pode ser fatal, o indivíduo se acha gordo mesmo se estiver magro. É uma grave distorção corporal. Faz dietas absurdas ou simplesmente para de comer.
Na Bulimia, o sentimento de culpa por ter comido, faz com que, após as refeições, a pessoa provoque vômitos, tome laxantes ou diuréticos para purgar o que foi ingerido e não engordar.
Encontramos também o exagero de procedimentos estéticos numa preocupação às vezes doentia com rugas, celulites, estrias... e práticas repetitivas de cirurgias plásticas, lipoaspirações, silicones, botox...

Compulsão pelas drogas
Droga é toda substância, natural ou artificial, que introduzida no organismo , pode provocar modificações na sua estrutura ou no seu funcionamento.
Existem dois tipos fundamentais de dependência às drogas:
dependência psíquica ou psicológica e dependência física ou orgânica.
A droga produz tolerância no organismo, o que obriga o usuário a, progressivamente, aumentar a dose, chegando às vezes a uma dosagem letal.
Existe uma verdadeira compulsão pela droga, isto é, uma necessidade tão grande, que faz com que o indivíduo procure obtê-la por todos os meios.
Surge daí, casos de crimes de roubo, agressões, homicídios, prostituição...
Se o indivíduo for abruptamente privado do uso da droga, surge a crise de abstinência ou de privação, geralmente acompanhada de calafrios, tremores, sudoreses, náuseas, vômitos, diarréia, confusão mental, alucinações, delírios, convulsões e até morte.
Existem outras formas de compulsões: jogadores compulsivos, atletas compulsivos, compradores compulsivos...
É extremamente importante que todos tenham a consciência de que qualquer vício ou compulsão, além de ser muito difícil de ser abandonado, traz sempre muito sofrimento.
Na verdade, toda compulsão carrega no fundo, os problemas emocionais do indivíduo, o que o leva a ficar totalmente submisso e prisioneiro do vício. É, portanto muito importante a noção de que é uma doença, que precisa ser tratada, e não simplesmente uma falta de força de vontade do usuário ou uma fraqueza, como muitos pensam.
Amor, compreensão, firmeza, apoio, paciência... serão de vital importância para ajudar a todos que querem se libertar de algo tão severo e maléfico.
Solange Bittencourt Quintanilha, Psicóloga Clínica, Médica, Hospitalar e Motivacional      
>>>>>>     E-mail: solangepsi8@gmail.com


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domingo, 28 de outubro de 2012

DISCOS VOADORES - O DIA EM QUE O BRASIL PAROU

REPORTAGEM DA GLOBO SOBRE OVNIs - 1986



HERMANN HESSE - Andares

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Como emurchece toda flor, e toda idade
juvenil cede à senil – cada andar da vida
floresce, qual a sabedoria e a virtude,
a seu tempo, e não há de durar para sempre.
A cada chamado da vida o coração
deve estar pronto para a despedida e para
novo começo, com ânimo e sem lamúrias,
aberto sempre para novos compromissos.
Dentro de cada começar mora um encanto
que nos dá forças e nos ajuda a viver.
Devemos ir contentes, de um lugar a outro,
sem apegar-nos a nenhum como a uma pátria:
não nos quer atados, o espírito do mundo
- quer que cresçamos, subindo andar por andar.
Mal a um tipo de vida nos acomodamos
e habituamos, cerca-nos o abatimento.
Só quem se dispõe a partir e a ir em frente
pode escapar à rotina paralisante.
É bem possível que a hora da morte ainda
de novos planos ponha-nos na direção:
para nós, não tem fim o chamado da vida...
Saúda, pois, e despede-te, coração!