segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

NELSON MOTTA - Os desavergonhados

O errado e o malfeito, a incompetência e o desleixo, a estupidez e a má fé, são próprios da condição humana. A diferença está entre os que se envergonham e os desavergonhados. No Japão civilizado, a vergonha é o pior castigo para uma pessoa e sua família, mais temida do que as penas da lei.

 Homens públicos se suicidam por pura vergonha. Embora seja só meio caminho para não errar de novo, o sentimento de vergonha ajuda a civilizar. Já os que não se envergonham, nem por si nem pelos outros, são determinantes para que suas sociedades sejam as que mais sofrem com a corrupção, a criminalidade e a violência, independente de sua potência econômica ou regime político. Em brilhante estréia no Blog do Noblat, o professor Elton Simões analisou pesquisas internacionais sobre as relações entre o sentimento de vergonha social e familiar e a criminalidade. 

Nas sociedades em que a violência e o crime são vistas como ofensas à comunidade, e não ao Estado, em que a noção de ética antecede a de direito, em que o importante é fazer o certo e não meramente o legal, há menos crime, violência e corrupção, e todo mundo vive melhor – por supuesto, o objetivo de qualquer governo. Nas sociedades evoluídas e pacificas, como o Japão, a principal função da Justiça é restaurar os danos e relações entre as pessoas, e não punir ofensas ao Estado e fabricar presos. “ Existe algo fundamentalmente errado em uma sociedade quando as noções de legalidade ou ilegalidade substituem as de certo ou errado. 

Quando o sistema jurídico fica mais importante do que a ética. Nesta hora, perdemos a vergonha “, diz o professor Simões. Como os políticos que, antes de jurarem inocência, bradam que não há provas contra eles. Ou que seu crime foi antes do mandato. 

Não por acaso, no Brasil, onde a falta de vergonha contamina os poderes e a administração pública - apesar de todo nosso progresso econômico e avanços sociais - a criminalidade, a violência e a corrupção crescem e ameaçam a sociedade democrática. Não há dinheiro, tecnologia leis ou armas que vençam a sem-vergonhice. Só o tempo, a educação e lideres com vergonha.





3 comentários:

  1. É Nelson o poder tem intrinsecamente, algo de diabólico, de corruptor. Até os incorruptíveis algumas vezes são levados por essa maré sob ameaças a integridade deles e a família deles. O problema é de difícil solução, mas nós homens de bem estamos de olho e podemos contribuir para diminuir até acabar com o monstro. Palavras como as suas são um caminho a ser trilhado. Parabéns. Oswaldo Alano Scipião Moreira

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  2. Nelson Motta, que a gente respeita e admira desde os anos 1960, em geral prima pelas abordagens "light". Percorre os caminhos deste mundo, com suas crônicas e programas, como quem trafega entre louças e cristais valiosos, com imenso e -- nele -- natural cuidado para não derrubar nenhuma peça, não fazer marola à toa.

    Dado esse seu estilo, eu me ponho a imaginar o grau de inconformismo a que chegou, para conseguir escrever essa iluminada crônica dos nossos (ai de nós) atuais costumes políticos.

    Abraços

    Alberto,
    de Brasília, DF

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  3. Sou funcionária pública,há assédio moral em meu ambiente de trabalho,onde o corruptor impõe sua força.Mas tem um e se nisso tudo.Se vc não quiser ninguém te obriga,se vc não tiver necessidade de excessos ,de ter por ter.Ahhhh,vc não se deixa corromper.Pq os seus valores não permitem e ai a sua lama não necessita.Abs

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