quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Vôo da Borboleta

Outubro 1986/Janeiro de 1987.

Uma borboleta pousara em minha vida. Linda, leve e trazendo beleza à minha casa, todos os dias. Ela havia chegado não me lembro bem como, nem porque, num momento difícil. Apenas chegara. Havia se tornado uma companheira diária, cúmplice e amiga, trazendo alegria àqueles dias. Num deles, me pediu ajuda e me concedeu a honra de ser o único a quem ela contaria seu segredo: ela não conseguia voar. Suas asas estavam quebradas. Ela me contara na linguagem cifrada das borboletas, mas eu havia entendido perfeitamente. Para curá-las eu teria de tocar suas asas, e isso envolvia o risco de machucá-las ainda mais. Para que isso não acontecesse, eu teria produzir uma luz especial no momento certo em que as tocasse. Eu teria de estar plenamente preenchido com os elementos que produziriam essa luz: carinho, amor, admiração, amizade e paixão.
Durante o tempo em que ela esteve comigo todos os dias, havia promovido um crescimento de minha auto estima e segurança que me faziam ter certeza de que conseguiria tocar suas asas com a luz e a leveza suficientes para não desmanchá-las. Ela me fez ter esse poder. Ela confiou em mim.
E então, eu a toquei e senti a energia mágica que um produzia no outro. Então, ela voou. Linda e intensa. Olhou pra mim ainda ofegante do primeiro voo e não disse nenhuma palavra, apenas lágrimas de borboleta saiam de seus olhos, que sorriram. Agora ela voava livre e plena.
Depois disso, nunca mais a vi.
E levei orgulhoso, pela vida afora, aquele momento mágico em que eu havia tido o poder de fazer um linda borboleta mágica voar.
Ela havia voado para o futuro, mas só muitos anos mais tarde eu saberia disso.

Dezembro 2010...
23 anos depois, muitas borboletas haviam passado pela minha vida. E, nesse momento, todas me pareciam muito iguais. Eu me parecia muitos. E já não me importavam as borboletas. Elas já não me pareciam tão leves. Nada me parecia leve.
Voar havia perdido o sentido, haviam me prendido através de vôos só do corpo, ou só da alma. Mas, muito tempo se passara desde a ultima vez que meu corpo e minha alma haviam voado juntos. Voavam em momentos diferentes, com pessoas diferentes. Muitas vezes meu corpo não queria voar, mas minha alma se dividia e deixava meu corpo sem alma. Ou ao contrário, meu corpo deixava minha alma para trás. Voar era apenas metade do que poderia ser. E eu sabia.
De repente, numa brisa de verão, surgiu, voando à minha frente, aquela borboleta que, no passado, eu ajudara a voar. Ela continuava sendo a mesma Princesa, a mais linda de todas as borboletas lindas. 
Quando a encontrei as lembranças foram trazendo de volta a força e beleza que eu não acreditava mais ser capaz de perceber e de sentir. Aos poucos ela foi juntando lembranças, pedaços da minha essência. Unindo-os, colando-os com o cantar de sua voz e o brilho de seus sorrisos ao relembrar um tempo em que nossas luzes brilharam juntas. Mas,eu não sabia mais voar inteiro. E, ela percebeu com sua sensibilidade de borboleta mágica. E se recusou a voar apenas com meu corpo, sem alma.
E, com o toque de suas asas, me fez morrer para nascer de novo. E, em seu vôo, levou meu corpo para dançar no ar, uma dança única e mágica, até fazer com que ele encontrasse minha alma. E me fez inteiro. Meu corpo e minha alma fundiram-se de novo; em paz.  Finalmente, eu estava livre.
p/ Edmir Silveira

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